quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Universo começa a existir... e o ateísmo com isso? (crença ateísta parte 4)



O Universo começa a existir

O argumento da impossibilidade de um número realmente infinito de coisas.
Em forma silógica:
1)Um número realmente infinito de coisas não pode existir.
2)Uma série de eventos sem começo no tempo implica um número realmente infinito de coisas.
3) Por isso, uma série de eventos sem começo no tempo não pode existir.

O que precisamos deixar claro é que “um número realmente infinito de coisas não pode existir”. Depois disso, o raciocínio segue-se logicamente
Craig aponta a diferença entre um conjunto de elementos potencialmente infinito e um conjunto realmente infinito. Um conjunto potencialmente infinito é na verdade um número indefinido. Ele cresce em direção ao infinito, mas não chega lá, nunca. Sempre se poderá acrescentar um elemento, como por exemplo, o dividir um elemento pela metade sucessivamente (se fosse possível). Já o conjunto realmente infinito não pode existir na realidade, (Richard Dawkins, se você observar em ‘Deus, um delírio’ p. 113, é explicitamente ignorante quanto a esse conceito). Vejamos uma ilustração que Craig usa, citando o matemático alemão David Hilbert, que nos ajudará a ver isso:

"Imaginemos um hotel com um número finito de quartos. Imaginemos também que todos os quartos estão ocupados. Quando chega um novo hóspede e pede um quarto, o proprietário se desculpa: ‘ Lamento, todos os quartos estão ocupados’. Mas imaginemos agora um hotel com um número infinito de quartos e imaginemos também que todos os quartos estão ocupados. Não há nem um único quarto vago em todo o hotel infinito. Agora imagine que vem um hóspede novo, pedindo um quarto. ‘Mas é claro!, diz o proprietário, e imediatamente coloca a pessoa do quarto número 1 no quarto número 2, a do quarto número 2 no quarto número 3, a do quarto número 3 no quarto número 4 e assim por diante, até o infinito. Como resultado dessas mudanças de quartos, o quarto número 1 agora está vazio, e o novo hóspede se registra feliz. Lembre-se, porém, de que, antes da sua chegada, todos os quartos estavam ocupados!"

Também é interessante, segundo os matemáticos, que agora não há mais pessoas no hotel do que havia antes; o número é simplesmente infinito. Mas, como pode ser isso? O proprietário acabou de acrescentar o nome do novo hóspede no registro e lhe deu as chaves_ como pode não haver uma pessoa a mais no hotel do que antes? A situação, porém fica ainda mais estranha. Imagine que um número infinito de novos hóspedes apareça no balcão, pedindo um quarto. ‘ é claro, é claro!’, diz o proprietário, e passa a mudar a pessoa do quarto úmero1 para o quarto número 2, a do quarto número 2 para o quarto número 4, a do quarto número 3 para o quarto número 6 e assim por diante, até o infinito, sempre colocando cada ocupante antigo no quarto cujo número é o dobro do seu. Como todo número natural multiplicado por dois dá um número par, todos os hóspedes acabam em números pares. Conseqüentemente, os quartos ímpares ficam vagos, e a infinidade de novos hóspedes é facilmente acomodada. Mesmo assim, antes que eles chegassem, todos os quartos estavam ocupados! E novamente, por mais estranho que seja, o número de hóspedes no hotel é o mesmo de antes da chegada do número infinito de novos hóspedes, apesar de haver tantos novos hóspede quanto antigos. [...] O Hotel de Hilbert é um absurdo. Como alguém observou, se o Hotel de Hilbert pudesse existir, precisaria ter uma placa na porta: ‘Não há vagas. Hóspedes são bem-vindos’. [...] A ilustração de Hilbert simplesmente serve para mostrar de modo prático e vivo o que a matemática implica necessariamente [...] “infere-se logicamente que, se esse hotel é impossível, a existência real de um infinito real também é. (CRAIG, 2004, p. 92-94)


O argumento da impossibilidade de se formar uma coleção realmente infinita de coisas acrescentando um membro após o outro.
O outro argumento nega a possibilidade da existência de um número realmente infinito de coisas. Esse nega a impossibilidade de se formar “um conjunto com um número realmente infinito de elementos, acrescentando-se um após o outro” (CRAIG, 2004, p. 95). Silogicamente, o argumento pode ser apresentado assim:
1)A série de eventos no tempo é um conjunto formado pelo acréscimo consecutivo de elementos, um após o outro.
2)Um conjunto formado pelo acréscimo consecutivo de elementos não pode ser realmente infinito.
3) Por isso, a série de eventos no tempo não pode ser realmente infinita.

A série de eventos no tempo é um conjunto formado pelo acréscimo consecutivo de elementos, um após o outro.
Isso é óbvio. O passado é uma série de eventos ocorrendo um após o outro, e crescendo com o tempo, para frente. “Apesar de às vezes falarmos de um ‘retrocesso infinito’ de eventos, na verdade um passado infinito seria um ‘progresso infinito’ de eventos, sem início e com o fim no presente” (CRAIG, 2004, p.95).

Um conjunto formado pelo acréscimo consecutivo de elementos não pode ser realmente infinito
A tese é de que, independentemente de quanto se tem sempre se pode contar mais um antes de chegar ao infinito.
Primeira objeção.
> Mesmo que não se possa sair de um ponto e ir até o inifito, pode-se sair do infinito e chega a um ponto.

Resposta: “Se não se pode cotar até o infinito, como se pode contar a partir do infinito? Se não se pode perpassar o infinito movendo-se em uma direção, como perpassá-lo movendo-se na direção oposta?” (CRAIG, 2004, p.96). Eis uma forma de ilustrar o absurdo dessa idéia:

Imagine que encontramos alguém que afirma estar contando desde a eternidade e está chegando ao fim: ...-3, -2, -1, 0. Podemos perguntar: Por que ele não terminou de contar ontem, ou um dia antes, ou um ano antes? Até então já teria se passado um tempo infinito, de modo que ele já poderia ter terminado. Assim, em nenhum momento do passado infinito encontraremos essa pessoa terminando sua contagem, pois ela deveria ter terminado antes! Na verdade, não importa o quanto retrocedemos no passado, pois nunca encontraremos essa pessoa contando, pois em qualquer momento em que a encontrarmos, ela já terá terminado. Mas se não a encontrarmos contando em nenhum momento do passado, contradiz-se a hipótese de que ela esteve contando desde a eternidade. Isso ilustra que a formação de um infinito real sem começo mas com fim é tão impossível quanto começar em determinado ponto e tentar chegar ao infinito.(CRAIG, 2004, p.96)
Segunda Objeção:
Mackie, outra vez, entende errado o argumento. “Ele pensa que o argumento presume erroneamente um ponto de partida infinitamente distante no passado, e depois declara ser impossível viajar desse ponto até hoje” (CRAIG, 2004, P. 96) Mas, ninguém do argumento kalam defende isso. Elas defendem ao contrário, que não pode ter havido uma série infinita de eventos passados, que houve um início absoluto, até mesmo do tempo. Por isso, a série de eventos no tempo não pode ser realmente infinita. A conclusão segue-se logicamente das premissas.

Portanto, o universo tem uma causa.

Essa é uma conclusão que se segue logicamente das premissas. Assim, fica evidente que o universo tem uma causa. E é daqui que provamos a existência de Deus! O argumento inteiro nos leva a inferir uma causa para o universo com algumas características. Infere-se Deus da seguinte maneira. O argumento pede a existência de um ser com as algumas características. Bom, pelo argumento se vê que a única alternativa possível é que houve uma causa primeira, não-causada (as alternativas são auto-criação e causalidade eterna). Ele deve ser atemporal, pois existia sem a existência do tempo.

Deve ser pessoal, pois decide criar e serve como razão suficiente para a existência do universo e motivo para ele ser desse e não de outro jeito (escolha pressupõe pessoa). Deve ter poderes imensos e sobrenaturais, pois criou o universo do nada (aqui é um bom momento para nos lembrarmos dos argumentos científicos que inferem que o universo surgiu do nada. Como surgir é um efeito e não há efeitos sem causas como nos lembra Sproul,só nos resta dizer que ele foi criado!). Então eu pergunto, há algum candidato para ‘assumir a culpa’. Tem de haver um! Alguém fez, e o único que pode preencher os requisitos é ‘aquilo’ que chamamos de Deus!
Uma objeção interessante, levantada tanto por Baker quanto por Grünbaum, pede uma especial consideração. Dizem eles que, A causa do Big Bang [do início do universo] não pode ser nem posterior ao Big Bang (já que uma causa retroativa é impossível) nem anterior ao Big Bang (já que o tempo começa com ou após o Big Bang). Por isso o, o início da existência do universo não pode ter uma causa. (CRAIG, 2004, p. 117).
Para responder a esse tipo de objeção, tendo em mente que o tempo foi criado e, portanto tem uma causa, devemos nos recorrer a Leibniz. “O famoso princípio da Razão Suficiente de Leibniz afirma que tem de haver uma razão ou explicação racional para a existência de um estado de coisas em vez de outro” (CRAIG, 2004, p. 80). O que queremos, ao nos reportamos a Leibniz, é lançar a seguinte indagação: se não há uma causa atemporal, por que o tempo veio a existir? Essa indagação é apenas uma nova vertente da questão:

'Se não existe Deus, então por que existe algo diferente do nada?’

À luz das evidências, somos deixados apenas com duas opções: ou ninguém criou uma coisa do nada ou alguém criou alguma coisa do nada. Que visão é mais plausível? Nada criou alguma coisa? Não. Até mesmo Julie Andrews sabia a responda quando cantou ‘ Nada vem do nada. Nada poderia ser assim! (GEISLER; TUREK, 2006, p. 95).

Lucio

8 comentários:

  1. “um número realmente infinito de coisas não pode existir”. Pq não e... o que tem a ver esse exemplo matemático com a realidade? De onde surgem esses "hóspedes"?

    ResponderExcluir
  2. "1)A série de eventos no tempo é um conjunto formado pelo acréscimo consecutivo de elementos, um após o outro."

    Vc já pensou se esse acréscimo, ao invés de ser um surgimento, poderia ser uma modificação de coisas já existentes? Assim não precisaria ser criado uma "coisa" e sim transformado (evoluido).
    Por este raciocínio os argumentos de Craig não se sustentam.

    ResponderExcluir
  3. ...existe um limite para o uso de inferência. E mais, já foi provado que algo pode surgir do nada?

    ResponderExcluir
  4. Ironbone, primeiramente, obrigado pelos comentários, espero que o texto tenha te beneficiado. Vamos às suas questões.

    A primeira objeção.
    O hotel de Hilbert é uma ilustração. Ele mostra que se fosse possível existir no mundo(a idéia de infinitude é formal)um número realmente infinito de coisas, esse hotel também poderia existir. Acho que vc não crê nisso, crê?

    A segunda:
    "Vc já pensou se esse acréscimo, ao invés de ser um surgimento, poderia ser uma modificação de coisas já existentes"
    Kra, acho que vc fez confusão.
    Esse acréscimode elementos não é necessariamente um surgimento de coisas. É qualquer tipo de movimento (uso o termo aqui numa terminologia pré-socrática).
    Vamos usar uma terminologia aristotélica pra facilitar as coisas: Uma substância pode sofrer algumas mudanças em suas categorias, tais como locomoção, alteração (onde cabe sua evolução), aumento ou diminuição, e geração ou corrupção (se é que é isso que vc quer dizer por surgimento). Qualquer uma dessas mudanças podem ser contidas no que o argumento chama de 'evento'. Assim, seja uma mudança substâncial, ou em qualquer outra categoria, a mudança é um evento e não pode regredir eternamente. Não pode haver uma evolução sem princípio, pra ser direto.

    Terceira questão (uso 'questão' e não 'objeção' por não ter visto objeção nela... ou foi? se foi, esclareça o que quer dizer):
    Se por limite do uso da inferência vc quer dizer um limite para a razão, eu concordo. Se está dizendo que exitem casos em que não posso raciocinar, terei de discordar, ou, no mínimo, pedir pra vc discorrer sobre o assunto.

    Não, algo não pode surgir do nada, pois fere as leis da lógica. Se admitirmos isso teremos de abandonar a lógica e com isso a comunicação significativa. Aonde quer chegar? Não seria isso uma objeção neh? Pois foi exatamente isso que o argumento quis mostrar. O raciocínio nos leva a crer que o mundo surgiu do nada. Mas como do nada não surge nada, alguém teve de ter criado.... etc, etc, etc.
    Leia com mais calma o artigo.

    ResponderExcluir
  5. Imagine assim: Você entra numa nave e sai da terra em direção ao espaço, seguindo uma linha reta. Onde vc chegará (se um dia chegar)? Quando chegará? Essa viagem terá fim? Veja, estou falando do universo e não de matéria, mas pergunte-se também, existe matéria em toda esta imensidão de espaço? Não se sabe!

    Agora focando onde reconhecidamente existe matéria. Você afirma que ela não pode surgir do nada, e (imagino) também não pode desapareçer. Imagine que uma folha de papel represente o universo caótico (desconhecido) e quando vc amassa formando uma bola, ela represente o sitema solar "organizado" que conheçemos... Seria impossível imaginar este papel sendo amassado e desamassado infinitamente? Esta foi minha objeção.

    A questão é que essas premissas estão baseadas em hipóteses, e estas, com várias concorrentes. Portanto, de conclusivo não se tem nada (só hipóteses mesmo). Flutuações no vácuo e particulas virtuais (na quantica) diz que a energia pode apareçer e desapareçer vinda do nada
    de um modo espontâneo e imprevisível... a energia total do universo é igual a zero... Por isso a objeçao com o uso da inferência, sacou?

    ResponderExcluir
  6. 1_A questão do primeiro parágrafo pode, a priori um raciocínio acurado, parecer provar a existência de algo infinito, a saber: a extensão do universo. Mas perceba que vc infere que só podemos inferir se há fim atravéz da experiência, e nisso vc caí em falácia. Primeiro, não sei se vc não leu direito ou se não quer entender, mas percebe que a experiência que vc descreve se encaixa no que eu chamo de infinito potencial (isso, seguindo uma teoria empirista, que discordo, como vc propõe). Mas a questão é que inferimos que não se pode existir infinitos reais com a abstração da experiência que temos de mundo e inferências lógicas. Repito, se fosse possível haver algo infinito nesse mundo, seja o que for, SEJA O TEMPO, seja o espaço, seja a matéria, então seria possível que o hotel de Hilbert fosse uma realidade. Vc crê que possa haver um hotel desses iron?
    Outro erro, postulo que não seja possível nenhum conjunto com infinitos elementos, isso inclui o tempo, logo, para esse astronauta certificar-se que o espaço é infinito, ele deveria percorrê-lo por um tempo infinito e então concluir tal fato. Isso não seria possível, logo, nem pelo seu método empírico tosco isso seria razoável ou experimental.
    2_Ironbone, quanto ao seu segundo parágrafo, vc se esqueceu que o argumento postula um começo necessário. Antes da folha de papel, não havia nada, nem folha amassada nem folha desamassada. Aliás, discute-se muito a viabilidade científica da hipótese de Carl Sagan sobre a oscilação. Ainda assim, a hipótese postula um passado infinito, então, seria sim impossível imaginar esse evento infinitamente.

    3_ Por fim, a questão das hipóteses. Vc diz que as premissas estão baseadas em hipóteses. Perceba que esse é um raciocínio filosófico, e não científico, portanto se vc estiver colocando o termo hipótese para as premissas como coloca para um postulado científico, que é sempre hipotético, vc errou o alvo.
    Agora, se postulas por hipóteses qualquer enunciado, seja ele inferências lógicas e testes de coerências de nossas experiências, então vc cairá em ceticismo epistemológico, de modo que estará um 'pé atrás' sobre todo postulado. Acaso és anarquista ou cético epistemológico? Se for, a discussão será outra.
    Bom, uma coisa é dizer que o que temos em nossas mãos é uma hipótese, outra é dizer que ela não corresponde à realidade. É isso que vc tem que provar ironbone. É óbvio que a teoria tem concorrentes, mas isso não afeta a veracidade dela, a não ser que se prove que outra teoria é melhor.
    "Flutuações no vácuo e particulas virtuais (na quantica) diz que a energia pode apareçer e desapareçer vinda do nada" A lógica diz que não... com qual vc fica ironbone? Com a volúvel pragmática (hipo)tese científica ou com a lógica? Já pensou na possibilidade de este postulado estar incompleto? Isso seria viável com a lógica: portanto, o melhor seria dizer que 'Flutuações no vácuo e partículas virtuais (na quantica) diz que a energia pode surgir e aparecer vinda de algo que ainda não conhecemos, ou que não conseguimos perceber'.

    Lancei algumas questões, leia com atenção. Se formos prosseguir o debate vc precisa lidar com elas, (bem como com o resto do artigo).

    Por fim, vja que nem sou um grande defensor desse argumento (apesar de me interessar muito em continuarmos com nosso diálogo). Se quiser se aprofundar (o que requer que vc entenda esse artigo primeiro), te indico esse site: http://teismo.net/

    ResponderExcluir
  7. Lucio, tb acho isso. Existem questões já porposta que precisam ser apreciadas, se não refutadas, para que o debate possa caminhar com objetividade.
    Está muito bom, a conversa sadia e respeitosa.
    abraços

    ResponderExcluir
  8. que bom... eu já não tinha mais pipoca!

    ResponderExcluir