segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sobre ciência e fé... 4

4 Ordem e Uniformidade no cosmos.


Falaremos, agora, sobre os pressupostos científicos da ordem e uniformidade do cosmos.


Quanto à primeira questão, nós naturalmente presumimos que o universo está organizado de alguma maneira. “O pensador e o cientista crêem numa ordem desconhecida” (WHYTE apud ALVES, 2008, p.43). Presumimos que haja uma ordem que não podemos ver na essência do cosmo. “....os indivíduos estão em busca de ordem e [...] todos eles, independentemente de convicções pessoais, concordam em que a ordem é invisível” (ALVES, 2008, p.43); e: “Nisso a ciência está de mãos dadas com as pessoas do senso comum, não importa quais sejam suas crenças: uma e outras se negam a admitir que a natureza seja um conjunto de fatos brutos, destituídos de sentido” (ALVES, 2008, p.77).
Mas pode ser que ele seja desorganizado. Temos que pressupor aqui. “Procedemos de forma ordenada porque pressupomos que haja ordem. Sem ordem não há problema a ser resolvido. Porque o problema é exatamente construir uma ordem ainda invisível de uma desordem visível e imediata” (ALVES, 2008, p.30-31). A ordem do universo deve ser formulada mentalmente, ela não é um dado empírico.
E não é só isso, “... você tem de pressupor que é capaz de descobrir a ordem”(ALVES, 2008, p.31).
Quanto à questão da uniformidade do universo, também a pressupomos. “Uma coisa é certa: a conclusão de que o futuro será semelhante ao passado, de que a totalidade dos casos será semelhante aos alguns que examinei, não é lógica. (ALVES, 2008, p.127). Generalizações, feitas pela ciência, são passos de fé, são apostas, calcadas no pressuposto de que as coisas serão como foram, ou que todas as coisas são sempre como as observei. Cheung expõe: “...a questão sobre a uniformidade da natureza diz respeito ao futuro da nossa experiência relativa ao nosso presente, futuro esse que ainda não foi observado por qualquer ser humano” (CHEUNG, 2009, p.46-47), e ainda “... a ciência assume que a natureza é uniforme e estável, que os experimentos são reproduzíveis, que a física e a química serão as mesmas no ano seguinte” (CHEUNG, 2009, p.46); então questiona: “...por qual fundamento a ciência empírica pode garantir que o futuro será como o passado?” (CHEUNG, 2009, p.47), e “...a observação empírica de forma alguma pode justificar uma suposição audaciosa como essa. [...]sempre que ela [uma pessoa] pondera se a natureza será a mesma no futuro (seja no dia seguinte ou no próximo ano), permanece o fato que ela ainda não observou o futuro” (CHEUNG, 2009, p.46).

continua...
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BIBLIOGRAFIA:
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e a suas regras. 13. ed. São Paulo: Loyola, 2008. 224 p.
CHEUNG, Vincent. Questões Últimas. Tradução de Marcelo Herberts. Brasília: Monergismo, 2009. 143 p.

Um comentário:

  1. Eu tenho acompanhado algumas discussões sobre o assunto. E não tinha pensado por essa lógica. Ela fica meio escondida em alguns discursos, que bom que você conseguiu traze-la para nós. E realmente, se você for usar a própria ciência contra ela mesmo, partindo do principio de que a Ciência é a posteriori e os mitos são a priori, e sabendo que não há ciência sem pressupor uma ordem, então vemos que o que impulsiona a ciência é a priori e não a posteriori. Muito bom o texto!!

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