terça-feira, 20 de dezembro de 2011

COSMOVISÕES parte 3 (primeiro teste)



Por: Lucio Antõnio de Oliveira

Existem testes para averiguarmos qual é a melhor cosmovisão, qual é a verdadeira. Muitos autores estão cientes disso, e sistematizam uma metodologia de confrontar as outras cosmovisões com esses testes, mostrando a falsidade das outras cosmovisões e/ou a superioridade da cosmovisão cristã (por exemplo, o caso de Ronald Nash e James Sire).
Alguns outros escritores não estão plenamente cônscios dessa metodologia, mas desenvolvem bons argumentos sobre os testes que iremos expor (por exemplo, o caso de Chesterton).
Observemos, então, os testes para as cosmovisões:

1 - TESTE DA RAZÃO


Também pode ser chamado de teste da lógica. De forma bem direta, ele afirma que não pode haver uma contradição em uma cosmovisão. Sproul, expondo Aristóteles, é muito pertinente em observar que coisas contraditórias (que ferem a lógica) não podem coexistir (ou existe um, ou existe outro):

 “... a idéia de um objeto imóvel é perfeitamente lógica, assim como a idéia de uma força irresistível. O que não é lógico é a idéia de um objeto imóvel real coexistindo com a idéia de uma força irresistível real. Os dois não podem existir no mundo real. Por quê? O que aconteceria no mundo real se uma força irresistível encontrasse um objeto imóvel? Um deles teria de ceder. Se a força irresistível move o objeto imóvel, este na verade era móvel. E se é móvel, não pode ser imóvel ao mesmo tempo e na mesma relação. Por outro lado, se o objeto imóvel não se move, a força irresistível é na verdade resistível. Uma força não pode ser resistível e irresistível ao mesmo tempo e na mesma relação” (SPROUL, 2002, p. 44-45).

Ou seja, uma vez que se entende que a lógica é uma lei do ser, não se pode existir uma contradição no mundo real. Sproul ainda faz uma ressalva importante: “Isso não quer dizer que tudo o que é racional seja real [...] Tudo o que é real, porém, é racional. O que é ilógico não pode existir na realidade” (SPROUL, 2002, p.44).
É por isso que alguns filósofos vão concluir que:“Se um sistema conceitual contém como um elemento essencial (um ou mais membros) um conjunto de proposições que sejam inconsistentes, logicamente falando, tal sistema é falso” (YANDELL apud SIRE, 2009, p.307); e : “A presença de uma contradição lógica é sempre sinal de erro. Por isso temos o direito de esperar que um sistema conceitual seja logicamente consistente tanto nas suas partes (suas proposições individuais) quanto na sua totalidade” (NASH, 2008, p. 27); e finalmente com Cheung: “...as proposições contidas numa cosmovisão não podem se contradizer. Por exemplo, o princípio primeiro de uma cosmovisão não pode produzir uma proposição na ética que contradiga outra proposição na ciência” (CHEUNG, 2009, p.43-44).
O apologista pressuposicionalista (clarkiano) é perito em observar contradições nas cosmovisões alheias. Essa é uma estratégia que podemos chamar de reductio ad absurdum.
Pode ser que encontremos Cheung sugerindo isso quando ele comenta sobre  argumentação ad hominem: “Por ad hominem não nos referimos à falácia do ataque pessoal irrelevante. Em vez disso, essa forma de argumento ad hominem assume premissas acolhidas pelo oponente e a partir delas validamente deduz conclusões que contradizem sua posição ou que seriam inconvenientes ou repulsiva a ele” (CHEUNG, 2009, p.20).
Um ponto interessante de se observar é que objetores ao cristianismo também podem tentar observar supostas contradições na teologia cristã, ou na Bíblia. Cabe aos cristãos refutarem essas críticas. Neste sentido, teólogos bíblicos e sistemáticos são trazidos à baila para defender a fé cristã, e não só os filósofos e apologistas em geral (veja um exemplo).
Porém esse teste pode não ser suficiente para averiguar a veracidade de uma cosmovisão. Nas palavras de Nash:

...o teste da consistência lógica jamais pode ser o único critério pelo qual avaliamos as cosmovisões. O teste da consistência lógica pode ser apenas um teste negativo. Conquanto a presença de contradição nos alerte quanto à presença de erro, a ausência de contradição não garante a presença da verdade (NASH, 2008, p.27).

Apesar disso, Sire, em uma das últimas notas de seu livro sobre cosmovisões, declara: “para cada uma das cosmovisões, tenho ponderado e descoberto que todas elas [exceto o teísmo cristão, naturalmente. Cf. p. 310] contêm problemas de inconsistência” (SIRE, 200, p.372).

 Parte 4
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BIBLIOGRAFIA
CHEUNG, Vincent. Questões Últimas. Tradução de Marcelo Herberts. Brasília: Monergismo, 2009. 143 p.

NASH, Ronald H. Questões Últimas da vida: uma introdução à filosofia. Tradução de Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 448 p.

SIRE, James W. O universo ao lado: um catálogo básico sobre cosmovisão. Tradução de Fernando Cristófalo. 4. Ed. São Paulo: Hagnos, 2009. 384 p.

SPROUL, R. C. Filosofia para iniciantes. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 2002, 208 p.

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