sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Rev. Cleverson Gilvan: A Doutrina da Reconciliação - Parte 2

4. O AUTOR DA RECONCILIAÇÃO – DEUS, O PAI

Ao discutirmos a autoria da reconciliação devemos voltar os nossos olhos
especialmente para 2ª Coríntios 5.18-21. Lá, o apóstolo Paulo dá uma clara informação sobre o assunto em questão. Logo no início do verso 18 ele diz que “Tudo provém de Deus”, esta expressão, por si só, sugere que Deus é a fonte última da nova vida, o que é observado mais especificamente quando analisamos esta expressão em conexão com a mensagem do verso 17, que fala dos salvos como novas criaturas. Contudo, a identidade do Agente da reconciliação torna-se mais clara na sequência do verso 18, onde ele diz que “Deus ... nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo”. Ora, é clara e lógica a referência à primeira pessoa da Trindade, pois, ao destacar a Segunda Pessoa – Cristo, fica evidente que o termo Deus não poderia se referir a outro senão ao Pai.
A mesma idéia é reforçada no verso 19 quando ele diz que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”. Uma clara declaração da autoria da reconciliação. Ela, portanto, não é uma iniciativa do Filho, nem tampouco, do homem, mas do Pai e somente do Pai. Veja que Paulo diz que Deus é que estava reconciliando consigo o mundo.
Em todas as ocorrências do verbo reconciliar no Novo Testamento Deus é sempre o sujeito.

5. O AGENTE DA RECONCILIAÇÃO – CRISTO

Um segundo conceito importante diz respeito ao agente da reconciliação. A Confissão de Fé de Westminster diz:
O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça do Pai. e para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus.[17]
O texto da confissão deixa a sugestão de que há uma participação do Filho na obra de reconciliação. Esta participação está apresentada no texto de Paulo em 2ª Coríntios 5.18-19. Lá, Paulo diz que Deus nos reconciliou consigo por meio de Cristo. Isto é, pela instrumentalidade de Jesus.
Stott diz:
(...) se Deus é o autor, Cristo é o agente da reconciliação. Os versículos 18 e 19 do capítulo 5 de 2 Coríntios tornam essa verdade clara como o cristal. "Deus. . . nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo" e "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo". Ambas as afirmativas nos dizem que Deus tomou a iniciativa da reconciliação, e que ele o fez em Cristo e por meio dele.[18]
A mesma idéia é fortalecida na argumentação de Calvino, nas suas institutas quando ele diz:
Ora, se bem que nesta ruinosa situação do gênero humano já ninguém sentirá a Deus, seja como Pai, seja como autor da salvação, seja como de qualquer maneira propício, até que Cristo se interponha como agente mediador para apaziguá-lo em relação a nós, todavia uma coisa é sentirmos que Deus, como nosso Criador, nos sustenta com seu poder, nos governa em sua providência, nos provê em sua bondade e nos cumula de toda sorte de bênçãos; outra, porém, é abraçarmos a graça da reconciliação que nos é proposta em Cristo.[19] (grifo meu)
Deste modo, fica claro que há uma participação de Cristo no ministério da reconciliação.

6. OS EMBAIXADORES E O MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO – OS SALVOS

2 Coríntios 5:19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra (logon) da reconciliação.
As Escrituras afirmam que aos filhos de Deus foi confiado o anúncio da reconciliação. Aqui devemos lembrar que embora a obra da reconciliação tenha sido consumada na cruz é necessário que os pecadores sejam convidados ao arrependimento.[20] Neste aspecto devemos lembrar que a pregação fiel do evangelho é um convite à reconciliação do homem com Deus.
Em 2ª Co. 5.18 o apóstolo Paulo diz que recebemos o ministério da reconciliação. Aqui devemos lembrar que a palavra usada para se referir a ministério é diakonian, que pode ser traduzida como ministério, ministração ou serviço, podendo referir-se aqueles que pelo mandato de Deus proclamam e promovem a religião entre os homens[21].
Segundo Calvino, a graça da reconciliação é aplicada em nós pelo ministério do evangelho e isto, de tal modo, que podemos compartilhá-lo.[22] Mais adiante, no mesmo comentário, falando sobre o ministério da reconciliação ele escreve:
Esta é uma das descrições mais notáveis do evangelho como uma mensagem entregue através de um embaixador com o fim de reconciliar os homens com Deus. É uma dignidade singular de ministros do evangelho sermos enviados por Deus com um mandato como mensageiros e, por assim dizer, com a garantia de sua boa vontade para conosco. (…) Aos ministros é dada a autoridade para nos declararem estas boas novas e fazer aumentar nossa segurança no amor paternal de Deus para conosco. É verdade que qualquer outra pessoa pode ser-nos testemunha da graça de Deus, mas Paulo ensina que este dever é imposto especialmente aos ministros.[23]
Assim, podemos dizer que o ministério da reconciliação é a declaração, divinamente autorizada, da obra de Cristo em favor do pecador.
Quando anunciamos o evangelho anunciamos o ministério da reconciliação. E, considerando que todos os crentes são comissionados por Deus para anunciar as virtudes de Jesus, vale reiterar o fato de que todos somos ministros da reconciliação. Veja o que diz Pedro: 1 Pedro 2:9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;.


 Autor: Rev. Cleverson Gilvan

[17] A Confissão de Fé de Westminster - http://www.teologia.org.br/estudos/confissao_westminster.pdf acessado em 15 de agosto de 2009
[18] STOTT, John R. W. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 1996. p. 87
[19] CALVINO, João. Institución de la Religión Cristiana. 3 ed. Paises Bajos: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1986. v.1 pág. 5
[20] STOTT, John R. W. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 1996. p. 88
[21] BÍBLIA ONLINE 2.0. Sociedade Bíblica do Brasil – Software – Strong – verbete diakonian.
[22] CALVINO, João. 2 Coríntios. Tradução de Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Edições Paracletos, 1995. p. 120
[23] Idem, p.120

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