sexta-feira, 1 de abril de 2016

Princípios Básicos da Interpretação Bíblica

Os princípios que apresento aqui, o faço a leitores que são crentes regenerados, que creem na inspiração e inerrância da Bíblia divinamente inspirada, pois apenas esses, poderão compreender a importância final disso – a glória de Deus, em uma crença e vida correta. Como ensina um antigo catecismo cristão:  “5. Que é o que as Escrituras principalmente ensinam? As Escrituras ensinam principalmente o que o homem deve crer acerca de Deus e o dever que Deus requer do homem. João 20:31; 11 Tim. 1:13.”

1. Toda interpretação de um texto bíblico deve começar pelos caminhos gramático e histórico, isto é – o sentido linguístico captado pelo leitor original deve ser o que o leitor moderno deve buscar.

1.1. Quando é dito 'linguístico’ deve levar em consideração os gêneros e recursos incluídos na definição linguística. Metáfora, simbólica, literal, poética, parábola, hipérbole, tipos (tipologia) profética e até alegórica - quando o caso for demonstrado [Alegoria só devem ser assumida quando os autores inspirados indicaram alegoria, como vemos em Galátas 4.21-31].

1.2. Ao dizer que depois de encontrar as bases linguísticas, morfológicas e gramaticais, tarefa da Teologia Exegética, devemos buscar o sentido histórico visto que os especialistas nos ensinam que o contexto imediato na carta é a primeira pista de encontrar esse sentido original. O professor de Grego do NT, do Instituto Bíblico Eduardo Lane, Rev. Gilson Altino*, dizia em sala de aula: “O contexto é soberano”. E na verdade, é o contexto que determina qual a intenção linguística.

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1.2.1. Caso você não domine os idiomas originais da Bíblia (esse é o caso da maioria de nós) você deve procurar em um dicionário e/ou léxico o sentido de um termo bíblico, você perceberá, (como acontece em qualquer língua), que existe vários sentidos no termo em apreço. Cito como exemplo a palavra “espírito” conforme apresentado nos dicionários bíblicos, significa: ‘vento, espírito, hálito, ânimo, Espírito Santo, anjo, demônio’ (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol 1, p. 713-741). Qual dessas várias definições você escolherá para dizer que aquele é o sentido do uso? Quem determina o uso é o autor original no contexto que foi aplicado.

2. O próximo passo é buscar no arcabouço geral bíblico se aquela interpretação bíblica está em harmonia com o que a Bíblia disse a respeito do assunto. Isso, os especialistas bíblicos chamam de “analogia da fé”, que em termos práticos, uma interpretação bíblica não pode contradizer outra parte. Para tanto, precisamos usar clareza e quantidade.

2.1. O melhor caminho a tomar aqui, nos ensinam os intérpretes bíblicos, é usar passagens mais claras para interpretar passagens menos claras. Também, se o assunto é tratado em maior quantidade na bíblia.

2.2. É nesse ponto que a Teologia Bíblica nasce. A teologia bíblica é a ciência que acompanha a atividade da Revelação em seus vários estágios, e nesse campo constrói suas bases.

2.2.1. Um assunto que ilumina de forma indispensável a compreensão bíblica é que a Revelação é progressiva. De maneira simples, uma nova revelação – contemplando de Genesis a Apocalipse – é acumulativa, executiva, aditiva, em comparação à antiga disposição do assunto tratado.

2.2.2. O exemplo mais claro disso é ler o livro bíblico de Levítico e depois ler o livro aos Hebreus. Notamos que Aos Hebreus mostra a execução, ou o cumprimento das várias leis de Levíticos na Soberania de Cristo sobre os anjos, sobre Moisés, sobre Abraão, sobre Arão, em na obra messiânica e redentora. Nesse sentido que lemos o Evangelho de João 1.17.

3. A Bíblia é um livro de um autor divino com autores secundários humanos (II Tm 3.15-17; II Pe 1.20,21). Portanto, existe um sentido pleno (sensus plenior), na abrangente revelação do Autor Divino, que levou o autor humano a escrever aquilo que escreveu. Há um proposito direto, específico em cada escrito bíblico, ao mesmo tempo em que há um propósito do autor divino para a revelação geral de sua vontade e de sua verdade.

3.1. Como prova apresenta-se as várias citações do Velho Testamento feita pelos autores do Novo Testamento. Isso é o resultado direto pela revelação progressiva identificada na teologia Bíblica, porém, como produto final e conclusivo. Vejamos apenas um exemplo – Isaias 7.14.

3.1.1. No contexto imediato da profecia de Isaias o oráculo está inserido no contexto histórico no sítio de Judá, no período do reinado de Acaz. O nascimento de um menino mostraria um sinal de que “Deus está conosco”, isto é, como Reino de Judá diante da ameaça de inimigos (veja Is 7.1,10).

3.1.2. Para tanto, precisa-se compreender que ‘donzela’ em Isaias deve significar uma jovem virgem recém casada. Esse sentido está presente no termo usado em Isaias 7.14. Quando o Evangelista Mateus cita a profecia de Isaias 7.14, (Mt 1.22,23) em relação a Jesus, uma compreensão plena do objetivo da profecia de Isaias é revelada.

4. Depois desses primeiros passos de uma interpretação bíblica, precisamos nos lembrar que a Igreja de Cristo já está sendo orientada pelo Espírito Santo há séculos (Jo 16.7-15; Mt 28.20). Devemos nos lembrar que os princípios que aqui foram mencionados, estão orientando muitos cristãos no decorrer da história. Os dogmas que a igreja cristã aponta como sistematização das suas conclusões devem ser considerados por nós, em nosso século XXI.

4.1. Não é sábio desconsiderarmos os Credos cristãos e Confissões, sem uma base abalizada e fundamentada na Escritura. Talvez seja até um sinal de presunção, que às vezes estamos lendo a Bíblia apenas por alguns anos, já nos sentimos capazes de não considerarmos,  nem usarmos os credos e confissões cristãs.

4.2. Credos e Confissões cristãs devem servir de orientações, não de normas inspiradas, nem são eles de interpretações bíblicas, antes, eles são resultados de interpretações bíblicas confessadas pela igreja como produto final. Pode nos revelar que outros já descobriram o caminho que por hora estamos trilhando, e comprovar que nossas interpretações podem estar certas ou erradas.

CONCLUSÃO

5. Por último, e mais importante. Devemos ter nosso coração submisso às Escrituras que é Deus falando nela e por meio dela. Os princípios de interpretação bíblica pode produzir em nós um sentimento perigoso, que somos nós que estamos determinando o sentido bíblico. Os princípios apresentados não servem para isso e são na verdade são contra isso! Nós devemos buscar o sentido já pressuposto pelo Auto Divino.

5.1. Para subjugar nosso coração precisamos orar por graça do Espírito Santo. Temos um capítulo bíblico inteiro que demonstra magistralmente qual é a disposição hermenêutica que devemos ter no coração. Se possível, leia, copie e ore, o Salmo 119 para imprimir no seu coração e em sua alma, aquilo que deve dominar sua mente, ao ler e interpretar a Bíblia.
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Obras consultadas:
Introdução à Hermenêutica Reformada. Paulo Anglada – Knox Publicações
Manual Bíblico de Haley – Editora Vida
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento – Edições Vida Nova
Dicionário Bíblico W. E. Vine - CPAD
Teologia Bíblica. Geerhardus Vos – Editora Cultura Cristã
Teologia Sistemática. Louis Berkhof – Editora Cultura Cristã
História das Doutrinas Cristã. Louis Berkhof – Publicações Evangélicas Selecionadas
Como Interpretar a Bíblia. Pedro Gilhuis – CEIBEL
Novo Dicionário de Teologia – Editora Hagnos

Ouvindo a Deus – Shedd Publicações

2 comentários:

  1. Luciano, é muito interessante esse site CIEBEL. Gostaria muito de fazer o curso, mas agora não posso, acabei de perder meu emprego e estou com um pouco de dificuldades financeiras.

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