sábado, 24 de setembro de 2016

O Livre-Arbítrio

"Há no homem alguma genuína liberdade de escolha? Somos meros bonecos no teatro de fantoches divino? O homem escolhe livremente entre o Bem e o Mal? Um mero sim ou não, seria insuficiente para responder essas perguntas. Há tantos detalhes, correlações, etc., impossível tratar tudo neste curto esboço que tem por alvo, apontar a compatibilidade (ou não) do livre-arbítrio com os ensinos bíblicos.

Livre-arbítrio é um conceito metafísico muito conhecido. Filmes, livros, desenhos aminados, fábulas infantis ou mesmo palestras motivacionais, abordam a vida na perspectiva: “você faz seu destino”, “suas escolhas definirão o seu futuro”, “tudo depende de você”, e assim, no senso comum, nenhuma certeza é mais vigorosa do que esta: “tenho liberdade de escolha, é a partir delas que se constrói o meu futuro”.

Essa ideia ampla tem desdobramento nas mais diversas áreas. Geralmente aparece relacionado a moralidade para justificar a responsabilidade humana. Na ciência, indo de discussões sobre indeterminismo e partículas quânticas (seja lá o que isso for) até análises da psique humana, na busca pela compreensão comportamental e nos estudos sociais. Considerando antropologicamente, livre-arbítrio nada mais é que a capacidade natural de escolher diversas opção moralmente iguais; a simples tomada de decisão; agir conforme à vontade ou razão[1].

O fato é, homens não são máquinas, que seguem simples comandos, e nem meros animais que agem por instinto; são mais (normalmente) que débeis, bestas, bruto ou maníacos. Tomam decisões seguindo a própria vontade, muitas vezes contrariando o bom-senso, instintos de preservação ou emoções e sentimentos fortíssimos como medo, honra ou paixão. E por mais que a sociologia ou a psicologia tente padronizar o comportamento humano e reduzi-lo a ‘equações’ estáticas, na vida comum, no dia a dia – para além de teste simplistas em situações artificias, controladas e obtusas – tudo tende a um personalismo praticamente indeterminado (segundo nossa perspectiva finita e temporal).

Mas como fica quando transita para a teologia? Esse assunto é um verdadeiro “nó górdio[2]”. A bem da verdade o termo “livre-arbítrio” não aparece nas páginas da Bíblia Sagrada. Mas essa capacidade de agir por si mesmo, seguir a própria vontade, ao contrário do que se afirma costumeiramente, não é questionada pela Teologia Cristã genuinamente bíblica. O calvinismo ou a cosmovisão cristã reformada, apenas redimensiona – realisticamente – a força ou efetividade desse conceito. Inclusive parte da academia reformada mais recentemente têm usado[3] livre-agência, para tratar dessa capacidade de livre escolha. Falando simplistamente essa é uma solução semântica, ou seja, não é uma proposta fundamentalmente nova ou diferente para tratar a autodeterminação natural dos entes morais.

Definido então livre-arbítrio (livre-agência) – em termos gerais – como a capacidade agir de acordo com a própria natureza[4], as dificuldades facilmente se desfazem, sem apelar ao paradoxo ou ao mistério, sem negar a responsabilidade humana ou livre-agência e obviamente sem fraudar a soberania divina exaustiva. Ao observar o capítulo IX da CFW[5] percebe-se que essa solução funciona:

1) Criação:

Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder[6].
Adão foi criado ser moral. Capaz de fazer escolhas livres e conscientes, mais que isso, foi dotado de uma natureza sem inclinações que suplantassem sua vontade, quer para o certo quer para o errado. Diferentemente dos demônios que só fazem o mal, e dos anjos que obedecem a Deus, naturalmente o homem podia, sem impedimentos ou compulsões, agir bem ou mal, na prática, obedecer a Deus ou pecar.

Não obstante alguém poderia argumentar: Deus criou tudo bom e assim o homem ao pecar agiu contra a sua natureza (boa), mas ali em Gênesis o sentido de “viu Deus que tudo era bom” é de exatidão – aquilo que é exatamente o que deve ser – doutra feita, sendo a natureza humana comunicada da natureza divina, nada mais óbvio que no homem haver um grau de liberdade e autodeterminação. Assim, ao optar livremente por desobedecer, aceitando a indicação da Serpente, não houve, na decisão (não dar ouvido a ordem de Deus) que levou a Queda, ação contra a natureza!

2) Queda:
O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso[7].
Ao cair de sua inocência inicial, morrer espiritualmente – fruto do Pecado – o ser humano perdeu essa capacidade de livre escolha para o Bem (espiritual). Seu coração, vontade, natureza mudou, agora é naturalmente inclinado para o Mal. A desobediência tornou-se o padrão da conduta. Sua indisposição a Deus o impede de agir corretamente. Tudo quanto faz é essencialmente mau. Logo por sua natureza (espiritualmente) morta, o homem não pode receber, aceitar ou obedecer a Deus. E se não houver uma mudança profunda, uma transformação, uma alteração radical no homem, ele nada pode fazer para o Bem.

3) Redenção:
Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua natural escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau[8].
Transformado, vivificado, nova criatura, nova natureza, Vida dada pelo Espírito Santo, adotado como filho de Deus, capaz de crer e obedecer a Deus, tem a vontade para o Bem (espiritualmente certo) restaurada; é agora capaz de crer em Deus e em suas promessas, isso é, agir conforme essa fé (viver pela fé), ser diligente em sua santificação e submisso a Vontade Santa.

Entretanto os efeitos da Queda – como diriam alguns, a podridão da morte do homem natural ainda permeia essa vida – o pecado ainda é uma ocorrência real na vida desse homem ressuscitado em Cristo. Assim sua vida ocorre sobre a influência de duas forças contrárias: a carne, velho homem vendido com escravo ao Pecado[9], natureza pecaminosa, que não foi totalmente extirpada ainda e o Espírito que fala na Palavra.

Daí temos que a Carne milita contra o Espírito no homem, e não no mundo. Afinal ninguém é tentado por outra coisa que não por suas próprias paixões.

4) Consumação:
É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só[10].
Na consumação dos tempos, quando Cristo em Majestade e Glória reunir todos os seus, e transformar a corruptibilidade em eterna e perfeita comunhão consigo mesmo, o eleito não perderá sua liberdade de vontade, mas sua natureza será tão mudada e seu coração tão fiel que sua única vontade será fazer tudo conforme a Vontade do Pai. Não será por compulsão ou como autômato, mas a mais profunda liberdade para o Bem, o Bom, o Certo. Cumprindo assim a predeterminação que afirma o apóstolo Paulo: sermos a imagem de Cristo (Rm 8;28). Liberdade perfeita!

Conclui-se que livre-agência é uma característica dada por Deus ao homem, criado à sua imagem e semelhança, para que possa, dentro dos limites existenciais, naturais e sociais, expressar-se como ser humano, um ser moral distinto dos animais. Entretanto esta capacidade, está prejudicada atualmente, efeito do Pecado, da morte espiritual.

Já não há liberdade efetiva, pois um dos caminhos diversos foi impedido, e não só exteriormente (Gn 3;24), mas também por morte da boa vontade (Gn 2;17 e Rm 3;10); O homem natural já não procura o bem, nem mesmo o reconhece! Livremente faz aquilo que lhe é natural, escolhe apenas a forma como vai desobedecer. E como escreveu Heinrich Bullinger "... a vontade, que era livre, tornou-se uma vontade escrava. Agora ela serve ao pecado, não involuntária mas voluntariamente. Tanto é assim que o seu nome é “vontade”; não é “relutância”[11].

O homem morto em seus pecados não tem vontade para aquilo que é divino; logo não pode decidir fazer o que é espiritualmente bom. Sabendo que crer no Evangelho é algo bom, que produz bondade, que é segundo o conselho divino, ao ouvir o Evangelho, o homem natural não tem vontade de obedecer (crer) esse Evangelho, pois está indisposto (morto) para Deus.

Naturalmente o homem rejeitará a Graça anunciada (o perdão dos pecados em Cristo). Por si só, porque morto, incapaz de agir de acordo com a justiça divina, permanecerá rejeitando a Graça todas as vezes que está lhe for anunciada. E se nada mudar a condição do homem natural (espiritualmente morto), sua rejeição será para a condenação eterna. Por que a “condição moral do coração determina o ato da vontade, mas o ato da vontade, não pode mudar a condição moral do coração”[12].

E mais no que “depende, no todo ou em parte, para sua aceitação diante de Deus, e para sua justificação diante de Seus olhos, seja o que for, em que você descansa, e confia, para a obtenção de graça ou glória; se for algo menos do que Deus em Cristo, você é um idólatra...”[13]. Ou seja, confiar em si mesmo, no poder de decisão natural do ser humano, torna este ainda mais culpado diante de Deus; “o Livre-Arbítrio foi suficiente para levar Adão para longe de Deus, mas nunca foi capaz de trazê-lo de volta”.

Havendo então a renovação da Graça (ação do Espírito Santo), o homem é habilitado (novamente) para o bem. O homem que antes morto, revive, se instala uma nova natureza capaz de desejar obedecer a Deus. Essa nova natureza, produzirá frutos: a sede pela verdade divina, a fome pela justiça divina, a busca pela vontade divina! Será compatível com a santificação sem a qual ninguém verá a Deus consumada plenamente na morada eterna.

E como bem nos lembra Calvino[14], “Agostinho trata desta questão muito bem, e, como todas as demais, a resolve muito atinadamente, dizendo:”
“...Deus, que é Senhor de todas as coisas, e que a todas criou boas, e previu que o mal surgiria do bom, e soube que a sua onipotente bondade lhe convinha mais converter o mal em bem do que não permitir que o mal existisse, ordenou de tal maneira a vida dos anjos e dos homens que primeiro quis mostrar as forças do livre-arbítrio, e depois o que podia o benefício de sua graça e justo juízo”.
___________________
[1] No sentido de mente, como um todo.
[2] Metáfora comumente usada para um problema insolúvel (desatando um nó impossível) resolvido facilmente.
[3] O uso me parece certo, entretanto é inegável que a maioria dos teólogos e comentaristas renomados mais antigos usam livre-arbítrio e não livre-agência.
[4] Há certa definição de livre-arbítrio como a capacidade de decidir contra a própria natureza. Esta acepção além de errática e inútil, é biblicamente impossível: Errática – como agir de maneira contrária ao, necessariamente, natural ou ontológico? Qualquer ação assim seria uma sobreposição de uma natureza, que mudada, logo, agiu de modo natural a sua (nova) natureza. Inútil – pois serve apenas para provar uma nulidade; tal coisa não acontece. Indo ao absurdo é como esperar que Deus aja diabolicamente ou que o Diabo aja com a qualidade da benesse divina. Biblicamente impossível – Deus não pode mentir, isso não lhe é natural (2 Tm 2;13), mas alguém duvida que Deus tem livre juízo e autodeterminação?
[5] A escolha da CFW como modelo, põe fim a uma eventual acusação que o tema não é tratado pelos reformados do modo como apresento; sela a certeza da manutenção da confessionalidade calvinista afinal é a mais completa e aceita Confissão Reformada, depurada e consoantes com as outras expressões; o que se provado nela, em geral, de forma convincente, pode se afirmar como cosmovisão reformada.
[6] Do Livre Arbítrio, cap. IX, I e II.
[7] Do Livre Arbítrio, cap. IX, III.
[8] Do Livre Arbítrio, cap. IX, IV.
[9] Carne já liberta mais ainda aleijada, manca e mal-acostumada ao vício do pecado.
[10] Do Livre Arbítrio, cap. IX, V.
[11] Segunda Confissão Helvética, IX, 2.
[12] A. A. Hodge – CFW Comentada, pág 225.
[13] A. M. Toplady – Contra o Arminianismo e Seu Ídolo Dourado, o Livre-Arbítrio, pág 3.
[14] Institutas da Religião Cristã, UMESP, pág 409."

Autor: Reverendo Esli Soares

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Conselhos aos pastores que procuram o Andrew Jumper

Achei o conteúdo desse vídeo muito oportuno para a atual demanda de  pastores presbiterianos fazendo mestrados no Andrew Jumper (e no Makenzie). Isso é benéfico em algumas áreas, no preparo de professores de seminários, entre outras poucas necessidades, mas não tem sido útil para IPB na representação de seu povo em geral, muito menos ao serviço desses.  De um lado mais negativo e ácido, os programas de especializações acadêmicas, em busca de títulos, tem estimulado apenas a carnalidade arrogante de alguns anões ministeriais. Assim, disponibilizo esse vídeo para contribuir para reflexão - pensando especificamente na minha denominação.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Evangelizando as Testemunhas de Jeová: O Nome de Deus - (artigo expandido)

1 – O NOME DE DEUS
‘Qual é o nome de Deus ?’ Essa é uma das perguntas que as Testemunhas de Jeová mais gostam de fazer no trabalho de distribuição de publicações. Após essa indagação, a Testemunha de Jeová (TJ) geralmente lê o Salmo 83.18 para o morador. Nessa introdução o TJ aproveita, geralmente, da tradução Almeida Revista e Corrigida, para mostrar na Bíblia da própria pessoa que o nome de Deus é “Jeová”. Logo, concluem eles, a religião ‘Testemunha de Jeová’ seria uma representação fiel do próprio Deus. Desenvolvendo ainda mais esse assunto, o TJ levaria o morador a ler Mateus 6.9, ou mesmo recitar a oração do Pai-Nosso. No trecho que a oração diz ‘santificado seja o Teu nome’ o TJ inferiria a conclusão; ‘esse nome é Jeová !’. Para título de promoção religiosa, o TJ terminaria com Atos 15.14, onde é dito que Deus tiraria ‘um povo para o Seu nome’. Talvez milhões de pessoas, se tornaram adeptos da religião ‘Testemunhas de Jeová’ por essa simples abordagem. Essa é uma doutrina peculiar e distintiva da religião, por isso eles trabalham bem o tema:

“O que está errado é deixar de usar o nome. Por quê? Porque os que não o usam não poderiam ser identificados com os que Deus toma como “povo para seu nome”.” (A Verdade que conduz a vida eterna, p.18).

“Quem, então, atualmente trata o nome de Deus como santo e o torna conhecido em toda a terra? As religiões em geral evitam o uso do nome Jeová. Algumas até mesmo o tiraram de suas traduções da Bíblia. [...] Existe apenas um povo que realmente segue o exemplo de Jesus neste respeito. [...] de modo que adotaram o nome bíblico “Testemunhas de Jeová”. (Poderá Viver para sempre, p. 185).

“O nome impar de Deus, Jeová, serve para diferenciá-lo de todos os outros deuses [...] o nome Jeová tem um rico significado. Invocar a Jeová como seu Deus e Libertador pode conduzi-lo a infindável felicidade.” (Conhecimento que conduz a vida eterna, pp. 25,27).

“A verdade é que o nome de Deus aparece milhares de vezes nos manuscritos bíblicos antigos. Portanto, Jeová deseja que você saiba qual é o nome dele e que o use.” (Bíblia Ensina, pp. 13,14).
  
Sem dúvida alguma esse tema é a base de sustentação da religião das Testemunhas de Jeová desde o ano de 1931. Antes a religião TJ era conhecida apenas como ‘Estudantes da Bíblia’ (Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus, pp. 151-156; As Testemunhas de Jeová, unidas em fazer mundialmente a vontade de Deus, p.10), e no geral, a concepção que eles tinham do nome de Deus até então, não era muito diferente das igrejas protestantes. Três exemplos em suas publicações podem confirmar essa informação.

“A Bíblia demonstra que o nome de quem exerce poder supremo na criação e em todas as coisas, é Deus. Ele tem também outros nomes que se encontram na Bíblia, todos os quais tem um significado profundo acerca do seu propósito para com as suas criaturas.” (Criação, p. 10)

“O nome Deus quer dizer o Altíssimo, o criador de todas as coisas. O nome Jeová significa os propósitos do Eterno para com as suas criaturas. O nome Deus todo-poderoso quer dizer que seu poder é ilimitado. O nome Altíssimo dá entender que ele é o Supremo e que além dele não existe nenhum outro E o nome Pai quer dizer o Doador da vida.” (Riquezas, p.135).

“O criador é imortal. De eternidade a eternidade, e o nome dele é Deus(Salmo 90.2; 1Timoteo 6.15,16). Deus criou o céu e aterra. ( Gênesis 1:1). Deus significa o “Todo-Poderoso”. Ele revela-se a si mesmo, como a saber: “ Deus Todo-Poderoso”, que significa aquele cujo poder é ilimitado; “Senhor”, significando supremo Governador; “ Jeová” significando seu propósito para com suas criaturas; “ Pai” ”, significando doador de vida; “ Altíssimo” , o que é sobre tudo.” (Inimigos, p. 22).

Embora esse ensino dentro da própria literatura da religião TJ possa ser muito embaraçoso para uma mente inquiridora, os adeptos da seita TJ estão condicionados a ver isso como uma evolução rumo à verdade. A única coisa que deixa-os embaraçado nessa diminuição do problema é que, o que hoje eles condenam em outras religião como ‘mentira do diabo’, foi ensinado por eles por mais de 60 anos, como ficou provado acima !

Mas como podemos mostrar ao TJ que a concepção ensinada a ele, como passaporte para salvação, está equivocada? Faça a seguinte pergunta:

1º) Se o uso do nome Jeová é um requisito para salvação, por que esse nome não aparece em nenhum dos quase 6000 manuscritos do Novo Testamento ?

Ao fazer essa pergunta, será bom saber se o TJ acha que antes de 1931 os Estudantes da Bíblia (antigo nome das Testemunhas de Jeová) morreram sem salvação, pois somente desde o ano de 1931 é que eles passaram a ter essa doutrina!?

Muitos adeptos tem lido erroneamente o que a própria Liderança TJ tem mostrado em sua literatura, e geram uma argumentação do tipo: ‘Foram os tradutores que tiraram da bíblia o nome de Deus!’ Você deverá enfatizar que o Novo Testamento possui milhares de cópias e nenhuma daquelas cópias tem qualquer uso do nome de Deus.

“[...] nenhum antigo manuscrito grego dos livros de Mateus a Revelação hoje disponível contém o nome de Deus por extenso.” (O Nome Divino, p.23).

Isso deverá constituir um empasse muito sério. Pois se o Novo Testamento não testemunha a favor da principal doutrina da religião TJ, ela está ‘malhando com ferro frio’ e criando expectativas falsas em um fundamento ilegítimo.

Se o TJ tiver a correta concepção desse assunto, exposta pela liderança TJ, ele responderá :“Os manuscritos hoje existentes foram adulterados logo no inicio do segundo século.” Peça a ele alguma prova para essa acusação. Caso cite um estudioso George Howard (Tradução do Novo Mundo com Referências, p. 1504) diga ao TJ que naquele artigo o professor George afirmou ser uma ‘tese’, e que alguns anos depois ele mesmo abandonou-a, dizendo:

"As Testemunhas de Jeová foram longe demais com meus artigos. Eu não apoio as teorias delas.”



“http://testemunha.orgfree.com/nome.htm#Conspiração”

A Liderança TJ nega em uma nota no apêndice da ‘Tradução do Novo Mundo com Referência’ que se tratava de uma tese, contrariando o próprio autor que afirmou ser uma tese. Visto que foi encontrado MSS do Velho Testamento, que datam do primeiro século, deduzem eles, que Jesus e os apóstolos devem ter usado, nos escritos, o nome de Divino. Embora alguns manuscritos da LXX contenham o nome na forma hebraica, isso não prova em nada, que por causa desses os autores do NT tenham usado! A Tradução do Novo Mundo com Referências, de 1986 lista uma quantia de 10 manuscritos, e conclui assim:

“Estes dez fragmentos de manuscritos indicam que os tradutores do texto hebraico para o grego usavam o nome divino onde ocorria no texto hebraico.” (p.1504).

Ou seja, a liderança TJ possui provas que algumas traduções do VT para grego, a versão LXX, continha o nome divino, com uma quantia de 1500 MSS (Provas Documentais, p.175), então ela conclui o que não pode ser encontrado em quase 6.000 MSS do Novo Testamento!!! Com esse tipo argumento, baseado em provas e contra provas, podemos chegar à conclusão a qualquer coisa...

Além disso, a nova versão da Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, de 2014, trás uma afirmação em relação à preservação do texto fidedigno, que serve para seus interesses proselitistas, perceba:

“(1) Os manuscritos gregos que temos hoje não são originais. A maioria dos milhares de cópias existentes foi produzida pelo menos dois séculos depois de os originais terem sido escritos. (2) nessa época, os que copiavam os manuscritos substituíam o Tetragrama por Kyrios, palavra grega para “Senhor”, ou copiavam de manuscritos onde isso já tinha sido feito.” (Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada – Apêndice 5, p. 1800).

Deve ser lembrado ao TJ o seguinte; que se ele acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, e se essa palavra foi preservada fiel. Note o contrassenso do que foi escrito anteriormente em relação a esse assunto, da preservação da Escritura. A Liderança TJ afirmou:

hoje temos um texto [do NT] autêntico e fidedigno” (Estudo Perspicaz, Vol. 2, pg. 757).

“Qual é, então, a avaliação fundamental quanto à integridade e à autenticidade textual, após esses muitos séculos de transmissão? Não só existem milhares de manuscritos para se comparar, mas as descobertas de manuscritos mais antigos da Bíblia durante as últimas décadas fazem remontar o texto grego a uma data tão antiga quanto por volta do ano 125 EC, somente duas décadas depois da morte do apóstolo João, que ocorreu em 100 EC, mais ou menos. As evidências provenientes desses manuscritos fornecem forte garantia de que temos hoje um texto grego fidedigno, em forma acurada.” (Toda Escritura, p. 319).

A Liderança TJ, quando para defender o uso do nome Jeová no texto do Novo Testamento, lança mão da dúvida da preservação e confiabilidade do texto grego. Mas, por outro, lado contrariando a isso, diz que o texto é fidedigno! Uma forma dissimulada, com uma confecção dissimulada.

O próprio Deus não protegeu a transmissão do texto, perdendo-se uma importantíssima doutrina. Duas conclusões conflitantes: A) Ou o uso do nome de Deus, conforme destacado pela Liderança TJ, não tem apoio neotestamentário comprovado, ou B) o que temos em matéria de manuscritos está longe da verdade, estamos sem orientação. Ambas as opções ele não aceitará, mas ambas alternativas são decorrentes dos fatos que a Liderança TJ apresenta.

Nós cristãos aceitamos que Deus preservou a Sua verdade nos manuscritos existentes. E ele mesmo, não manteve o uso do nome divino, tão recorrente no VT, presente no NT na linguagem prevalecente dos autores do NT. A doutrina da preservação da Escritura entende-se a tudo que é necessário para a salvação e edificação da Igreja, está contido e preservado nas páginas da Bíblia, não faltando nada (II Tm 3.15-17).

Ainda nesse tema pergunte ao TJ :

2) Por que a ênfase no uso do nome ‘Jeová’ sendo que se sabe que tal forma do nome de Deus é errônea !?

Deve-se esclarecer que a forma do nome de Deus, “Jeová” é hibrida, onde tentou-se combinar as letras vogais da palavra em hebraico Adonay, com as quatro consoantes do nome divino, ao que surgiu Jeová (Dicionário Bíblico, John L. McKenzie, p.231; Introdução ao Antigo Testamento, p. 764, nota 13). Com uma insignificante possibilidade de ter qualquer ligação com o nome divino, nem mesmo, uma adequação legítima de uma pronúncia exata para outro dialeto (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol 1, pp. 559,560). De fato, a forma do nome divino Jeová, no período bíblico, é “um termo que na verdade nunca existiu” (Quem é Quem na Bíblia Sagrada, p.598).

“Provavelmente a forma Yahweh (em português geralmente transliterado e pronunciado Javé) seja o mais próximo que poderemos chegar da pronúncia original. A forma tradicional Jeová não pode estar certa, pois simplesmente reflete a prática dos escribas judeus de sobrepor os sinais das vogais, de ‘Adonay às consoantes Y-H-W-H [...]” (Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento, pp. 217,218).

Essa forma de traduzir o nome de Deus está perpetuado mais pela tradição do que por pesquisas linguísticas atuais. Vale lembrar que a tradição protestante, desde seus Reformadores, depois pelas traduções protestantes tradicionais, usaram de forma muito mais abundante o nome Jeová, do que vemos hoje no arraial protestante. A religião da Torre de Vigia, porém, como vimos, faz disso um sinal da religião verdadeira. O que agora deve ser destacado, é que apesar de não termos nada contra o uso da forma “Jeová”, essa insistência está construída sobre um aspecto muito incerto.

Veja o que a Liderança TJ já admitiu a respeito:

“Na Bíblia Hebraica o nome de Deus é representado pelas quatro letras ... correspondendo a YHWH. Séculos antes da rebelião protestante contra a autoridade religiosa dos papas de Roma no século dezesseis, os clérigos católicos romanos pronunciavam Ieová a combinação sagrada das quatro letras... Todas as evidencias disponíveis indicam que foram os clérigos católicos romanos que introduziram a pronúncia. Dizia a Enciclopédia Americana no Volume 16, páginas 8,9 (edição de 1929):  A tradução de “Jeová” remonta aos princípios da Idade Média e até recentemente se dizia que ela foi inventada por Peter Gallantin (1518), confessor do papa Leão X. Escritos modernos, entretanto, atribuem-na a uma data mais antiga, segundo se acha no “PugeoFidei” de Raymond Martin (1270). Isto se deu porque hebraístas cristãos consideravam superstição substituir o nome divino por qualquer outra palavra... – Raimundo Martim (ou Raymundus Martini) foi um monge espanhol da Ordem Dominiciana.” (Santificado Seja teu Nome, pp. 18,19).

Deve ser bem enfatizado essa informação ao TJ que estiver sendo evangelizando. Essa doutrina é a pedra fundamental dessa religião, se ela for corretamente exposta, a estrutura que domina a alma e a mente do TJ terá sido seriamente abalada. As Testemunhas de Jeová são ensinadas a terem resistência a qualquer coisa que tenha influencia da tradição cristã antiga, especialmente católica, ou mesmo protestante, já que tais sistemas são filhas de Babilônia, ‘o império da religião fala do Apocalipse’!

3) Se a forma Iavé ou Javé é a mais provável, sendo Jeová uma mera tradição (até mesmo com um certo grau de erro) por que não usar Javé?

A Liderança TJ responde de uma maneira bem diferente de sua insistência em usar o nome. A insistência é que use sistematicamente o nome, mas a busca pela exatidão do nome não recebe nenhum interesse acurado:

“A pronuncia Iavé talvez seja a mais correta, mas a forma latinizada Jeová continua a ser usada porque é a forma mais comumente aceita de tradução em português do Tetragrama [...]” (Toda Escritura [edição de 1966], p. 318).

O ponto vital não é de que maneira deve pronunciar o Nome Divino, que “Javé”, “Jeová”, quer de outra forma, desde que a pronúncia seja comum no seu idioma.”(A Verdade que conduz a vida eterna, p.18).

“A forma Iavé é geralmente preferida pelos hebraístas, mas não é possível saber atualmente a pronuncia correta. Assim a forma latinizada Jeová continua a ser empregada por estar em uso a séculos e por ser a forma mais comumente aceita da tradução em português do Tetragrama[...]” (Toda Escritura [edição de 1990], p. 327).

Então, por que esta tradução usa a forma “Jeová” do nome divino? Porque essa forma tem uma longa história em português.”(Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada – Apêndice 4, p. 1798).

Em outras palavras, uma acomodação tradicional. Devemos dizer que não temos nada contra uma tradição. De fato, nada que condene as pessoas por usar o nome Jeová , mas essa forma foi superada por pesquisas mais recentes. A coluna central da religião da Torre de Vigia, está assim, sobre um fundamento sem sustentação.

Algumas Testemunhas são mais desprendidas ao dar respostas, pode ser que ele , por uma mera questão de rótulo, concorde com você, e tente reverter a situação argumentando que ‘se é Javé, a forma correta, por que os protestantes vocês não usam ?’ Mas lembre-se que é ele que ensina a necessidade do uso do nome de Deus para ser salvo, não você. Não que estamos negando algum ensino bíblico. Mas o ponto nevrálgico está num uso religioso que seria o passaporte para salvação, que os Lideres TJ tem enfatizado desde 1931.

Segundo, se ele concordou, mesmo que superficialmente, agora ele deve refletir na próxima pergunta:

4) Se uma Testemunha de Jeová decidir usar a forma Javé, no Salão do Reino, em seu trabalho de casa em casa, ou adotar um versão da Bíblia que use essa forma do nome divino, ela sofrerá represarias?

Por mais que ele tente enfraquecer a questão, não existe nenhum TJ no mundo que faria isso, pois a uniformidade é imposta sob a ameaça de expulsão. Nos quase 90 anos, desde 1931, religião da Torre de Vigia já imprimiu essa uniformidade na sua existência, e na mentalidade de seus adeptos, e jamais haverá uma mudança nesse ponto. Certa vez uma Testemunha de Jeová me disse: “o nome de Javé não identifica o povo de Jeová, são os católicos que usam.” Pobre credulidade.

A razão disso é que as seitas tem uma necessidade de serem diferentes e de exclusivismo, e como se percebe, essa sensação é extraída de práticas e doutrinas peculiares:

“Se alguém lhe falasse sobre o Deus da Bíblia e usasse o nome Jeová, com que grupo religioso você o associaria? Existe um só grupo no mundo que usa o nome de Deus regularmente em sua adoração, como fizeram Seus adoradores dos tempos antigos. São as Testemunhas de Jeová.” (O Nome Divino que durará para sempre, p. 30).

“[...] seu povo na terminação do sistema de coisas, dedicado a divulgar o nome e o propósito dele, devia corretamente ser chamado de Testemunhas de Jeová. Este nome distingue devidamente os verdadeiros adoradores cristãos de jeová de todos os outros que hoje afirmam ser cristãos.” (As Testemunhas de Jeová, unidas em fazer mundialmente a vontade de Deus, p.11).

“Qualquer pessoa que testemunhe publicamente sobre Jeová é geralmente identificada como pertencente ao grupo indiviso – “Testemunhas de Jeová”. (Raciocínios a Base das Escrituras, p. 384).

Desta forma, jamais uma Testemunha de Jeová, fará uso do nome de Deus, Javé, por uma questão de exatidão. Seu discurso não é levara a pessoa a usar o nome de Deus, em termos doutrinários, mas em termos que a identifique ao grupo que segue a Torre de Vigia.

A abordagem desse tema talvez encontre outro caminho. A liderança TJ conseguiu firmar na cabeça de seus adeptos que“Deus e Pai, não são nomes, mas títulos!” (Poderá Viver para Sempre, p. 41). O problema nessa resposta é a falta de correspondência cultural e etimológica. Em nossos dias, por certo, não usamos ‘Deus’ como nome. Mas não era o caso nos dias bíblicos. Em nossos dias, os nomes geralmente são dados por sua estética, nos dias bíblicos, por seu significado e propósito.

A seguinte pergunta será importante:

5) Se os termos ‘Deus’ e ‘Pai’ não são nomes, então por que Isaias 9.6 diz que são?

Seria importante ler junto com o TJ a passagem na versão TNM:

“Porque um menino nos nasceu, Um filho nos foi dado; E o reinado estará sobre os seus ombros. Ele receberá o nome de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” (Tradução do Novo Mundo, revisão de 2014).

Não encare isso como resolvido. Está em jogo aqui uma vítima plenamente doutrinada. Prossiga mostrando que esse argumento não é válido. Pergunte ao TJ se ‘Brasil’ é nome de gente?(Ele sabe que essa pergunta é dúbia, pois ‘Brasil’ é nome de país e de madeira, e mesmo assim existem pessoas com esse nome!) A palavra que se torna identificação de uma pessoa é o seu nome. Esse é o uso bíblico. Mostre, além disso, que quando a palavra ‘nome’ aparece na bíblia, não necessariamente está correlacionado com uma identificação. Efésios 3.15 é um exemplo claro de que o termo nome significa ‘existência’.

A Testemunha de Jeová está condicionada a pensar que toda vez que aparece a expressão “nome” de Deus, em qualquer lugar – seja na Bíblia ou em livros de referencias, para ela tem que significar Jeová. Não há uma construção bíblica nela, mas lavagem dogmática eficaz.

Pergunte ao TJ :

6) Por que Jesus não usou uma  única  vez o nome Jeová  ao  orar ?  Devo seguir o exemplo dele (de Jesus)?

Essa pergunta é importante, pois muitos TJ afirmam, com colaboração da Liderança, que se alguém orar a Deus e não usar o nome Jeová outros ‘deuses’ podem responder! Insista em pedir ao TJ que procure na bíblia as orações de Jesus, e encontrar o uso do nome de Deus.

A próxima pergunta exigirá mais atenção teórica de sua parte. 

7) Com qual autoridade os tradutores da Tradução Novo Mundo colocaram 237 vezes o híbrido nome Jeová no Novo Testamento ?

Essa pergunta está acima da média. A maioria TJ responderá de forma errada o processo que a Liderança adotou para enxertar 237 vezes o nome Jeová no Novo Testamento. Talvez digam que os manuscritos originais do NT possuíam. Ou algo do tipo. Se ele souber a resposta, ou mesmo recorrer ao livro Raciocínios (que é um manual de respostas que eles possuem), ele dirá ‘que como o nome de Deus apareceu no Velho Testamento quase 7000 vezes não seria ilógico que sumisse abruptamente no Novo Testamento. Em especial quando citassem o VT.’ É uma tese, não apoiada por fatos. Ao contrario, os fatos contrariam essa tese.

A verdade é que o uso do nome de Deus começou a ser substituído por circunlóquios uns 400 anos antes do tempo do Novo Testamento. E, as traduções do VT que recorrente entre os discípulos já não tinham a expressão lida para o nome de Deus. O que resta como apoio para os tradutores da TNM ?Outras versões que fizeram o mesmo. Mais nada. Se a conversa for com humildade, pondere atenciosamente com o TJ que ao colocar 237 vezes o nome Jeová no Novo Testamento, com quase 6000 manuscritos contra, é insistir numa ilusão. E diga que isso vai depor contra eles no Dia Juízo Final (Ap 22.18).

A próxima pergunta tem por base esclarecer uma dúvida sincera que o TJ possivelmente tem:

8) Substituir o nome de Deus por Senhor tem base nos escritores do Novo Testamento. Agora, substituir Senhor por Jeová no Novo Testamento tem base onde?

Será necessário alguns versículos para elucidar esse tema. Leia alguns desses em sua Bíblia comparando com a TNM. Lucas 4.18,19 compare com Isaias 61.1,2. Mateus 22.44 compare com Salmos 110.1. E Romanos 10.13 compare com Joel 2.32. Na mente da Testemunha de Jeová existe um dilema. ‘Se ali no Velho Testamento existe o nome de Deus, necessariamente quando aquela passagem fosse citada no Novo Testamento, o nome de Deus teria que aparecer’. Temos um delicado assunto diante de nós. Será importante quando evangelizar uma Testemunha de Jeová, dizer que nos dias do Novo Testamento, os Escritores inspirados não colocaram o nome de Deus no Novo Testamento. Assim sendo, a prática atual de verter o Tetragrama por SENHOR no Velho Testamento tem base nos Apóstolos. Além de que desde os anos 400 a.C esse estilo tomou espaço entre o povo de Deus.

Informações Adicionais:

No original hebraico o nome de Deus aparece com quatro consoantes, geralmente chamado de tetragrama. Formando o impronunciável nome, Yhwh. Motivo esse, que levou os tradutores antigos e modernos, a substituírem por SENHOR. O teólogo reformado, Louis Berkhof informa que ‘a pronúncia e origem do nome de Deus estão mais ou menos perdidos’. (Teologia Sistemática, pg 48. Editora Cultura Cristã). Segundo Berkhof, a interpretação teológica para o possível significado do nome está na Imutabilidade Divina, em relação aos seus propósitos com seu povo. O Manual Bíblico Unger (pp. 77,78) sugere que não existe muito consenso entre os eruditos para o significado da raiz do tetragrama, já que para alguns acham que a raiz etimológica do nome é ativo e para outros causativo.

Mesmo com essa incerteza quanto ao significado e pronúncia, não podemos nos esquecer que esse é um dos nomes de Deus, que apareceu não menos de 6.828 no VT (Dicionário W. E. Vine, pagina 288). Devemos procurar saber o que Deus mostrou ao seu povo com a revelação desse nome. E por certo, só teremos pleno conhecimento de Deus e de Seus atributos se tivermos, dentro das limitações desse tema, inteirados nesse assunto. Como nos esclarece o teólogo Wayne Grudem:

“Num sentido mais amplo, então, o “nome” de Deus se iguala a tudo aquilo que a Bíblia e a criação nos dizem a respeito dele.”(Teologia Sistemática [Wayne Grudem], p. 106).

O que deve ter em mira aqui, não é o uso de uma palavra que identifica uma pessoa, mas sim o significado que abarca aquela pronúncia. O erro da teologia da Torre de Vigia é que, ela concentra aquilo que é teologicamente correto aonde não se deve ser concentrado, no uso da pronúncia e, diga-se de passagem, uma pronúncia errônea. Recomendo para um resumido estudo desse importante tema o que J. I. Packer escreveu em ‘Teologia Concisa’ no capitulo intitulado ‘Auto-Revelação’. O Nome de Deus, é a reputação e a própria pessoa de Deus. Que em termos aparece como Javé, Senhor, Pai, Deus, Todo-Poderoso, etc.

Toda a controvérsia agora está em como o Novo Testamento tratou esse assunto. Existe um notável abandono do uso do nome de Deus, o tetragrama, entre os escritos do VT em comparação com NT. A razão, pode ser identificada pelo que aponta o teólogo Bavink, - Deus “se fez conhecido ao seu povo por seus nomes próprios: A Israel, como YHWH, à igreja cristã como Pai.”(Dogmática Reformada, vol 2, p.97) Há uma revelação maior da Paternidade divina entre os testamentos. Jesus revelou o nome de Deus a seus discípulos, como “Pai”, o que não existiu em base individual tão clara no VT (Teologia Bíblica, Geerhardus Vos, pp. 442, 443). E pior para a teologia do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, é que, ao sustentar um nome, o Novo Testamento indica o nome do Filho de Deus, Jesus Cristo. Que em última analise, é Deus, sendo por isso, o Próprio Yhwh. (não o próprio Pai!). O que os Cristãos hoje querem que as Testemunhas de Jeová entendam, é exatamente aquilo que os judeus, ouvintes de Pedro, deveria entender:

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Atos 4.12. Almeida Corrigida Fiel.


terça-feira, 13 de setembro de 2016

25 PERGUNTAS AOS AMILENISTAS

1º) Para o Amilenista, os eventos de Apocalipse 19,20 são análogos aos capítulos 11 e 12. Porém, o diabo em Apocalipse 12 foi lançado para a terra (no tempo do ministério de Cristo), é dito que ele ‘engana todo o mundo’ e ai da ‘terra, pois ele tem grande ira’ (v. 9,12) - Acha mesmo que isso seja análogo à realidade descrita em Apocalipse 20.3 que diz que o diabo foi preso para não mais enganar as nações?

2º) O que é dito do diabo em Apocalipse 12  tem correspondência com II Co 4.4; I Jo 5.19, textos esses escritos após o ministério terrestre de Cristo (portanto, após o inicio do evento de Ap 20.1-3)?

3º) Em Apocalipse 12.9 e 12, diz que o diabo foi lançado para a terra. O anjo de Apocalipse 20.1 ‘desce’ para prender o diabo em que lugar?

4º) O ministério terrestre de Cristo restringiu o poder do diabo, onde o Evangelho chega, e também onde o evangelho não chega? – leia I Jo 5.18,19.

5º)Em Apocalipse 9.1,2 quem é a ‘estrela’ que recebe a chave do abismo? O tempo da visão de Ap 9 e a natureza do abismo, sendo no mesmo livro, não causa dificuldades a sua interpretação Amilenista de Ap 20.1,2,3? Se não, explique com o texto de Ap 9.

6º) Com sua consciência tranquila, e fazendo uso dos símbolos do livro bíblico em questão, acha que no relato de Ap 20.1,2,3 – ao descrever, “corrente”, “chave”, “trancar no abismo”, “selar”, “para não mais”, descreve apenas a limitação circunstancial defendida pelo Amilenismo? Obs: Sinceramente, não creio que o Amilenista lê esses termos sem uma ‘camisa de força hermenêutica’.

7º) Usando a figura de linguagem de Jesus em Mateus 12.29, é possível dizer que a realidade descrita em Apocalipse 20.1,2,3 é a mesma? Leia Mateus 12.45.

8º) O relato de Apocalipse 20 é mesmo obscuro? O que você entende por obscuro?

9º) Você crê na revelação progressiva? Por qual motivo não aplicar esse princípio no caso em tela? Por exemplo: Compare João 14.1,2 com Apocalipse 22.9-22.5. Informações posteriores são acumulativas.

10º) A ressurreição de Apocalipse 20.4, é interpretada pelos amilenistas como sendo o estado intermediário. Sem nenhuma base bíblica para isso. Acredita ser uma interpretação consistente atribuir um sentido diferente e estranho a um termo que está tão bem definido na Escritura?

11º) Qual dicionário linguístico dá o sentido etimológico de ressurreição como ‘estado intermediário’? Isso é uma interpretação dogmática?

12º) Alguns Amilenistas, fazendo coro com Pós-milenistas, dizem que se trata de regeneração. O que é de fato incomparavelmente melhor do que dizer estado intermediário. Mas o texto diz que eles foram mortos porque eram cristãos. Ou seja, já eram regenerados! Então, eles eram regenerados e foram mortos para serem regenerados? Essa morte se fosse o caso, é a conversão?

13º) O reinado e juízo dos santos revelado em Apocalipse 20, é descrito em outras partes da Escritura? (Mt 19.28; Rm 16.20; I Co 4.8; 6.2, etc.)

14º) O fato de não termos detalhes da natureza exata desses mil anos, é um erro dos Pré-Milenistas importarem textos da Nova Terra para esse período. Mas também, os Amilenistas não cometem erro semelhante por fazer que esse período seja o período da Igreja Militante, enquanto claramente temos em Apocalipse 20. 1-6, um relato da Igreja Triunfante?

15º) Os números em Apocalipse não devem ser interpretados literalmente. Mas se 1000 anos para o Amilenismo já dura 2000 mil anos, qual problema teria de pensar em um tempo bem menor de 1000 anos? [Às vezes Amilenistas fazem caricaturas, dizendo que todos os Pré-Milenistas pensam em 1000 anos literais. O Dr. Russel Shedd, pré-milenista histórico, escreveu: “se esse tempo é literal ou não, não nos preocupa.” (Escatologia do Novo Testamento, p.80).]

16º) Em Apocalipse 19.20 fala que a besta e o falso profeta são lançados no lago de fogo. Em Apocalipse 20.15 diz que o diabo foi lançado onde estão (ou já estavam) a besta e o falso profeta. Não é uma prova clara no texto que foram em momentos diferentes, ainda que dentro do mesmo Dia escatológico diferentes?

17º) Qual leitor da Bíblia, livre de uma concepção Amilenista, não veria uma sequência do Ap 19 para o 20?

18º) O último dia abarca todos os desdobramentos da volta de Cristo. Esse “dia” terá 24 horas? Ou podemos entender que a expressão dia aqui é uma descrição figurada do último momento da história desse mundo?

19º) O Paralelismo Progressivo aceito pelos Amilenistas, não seria como uma concepção importada para o livro de Apocalipse? Obs: Que há paralelismo no livro e que há progresso, isso qualquer leitor perceberia. Mas a uniformidade rígida imposta pela escola Amilenista, não é extraída do texto, mas uma inferência a ele.

20º) Fazendo uma concessão ao argumento do Paralelismo Progressivo, por qual motivo encerrar a última sessão em Apocalipse 19.18 e não em Ap 20.15, sendo que o relato do caso acrescentou uma informação que não foi colocada em sessões anteriores, a saber – a eliminação do Dragão?

21º) O reinado dos santos a quem foi dado o julgamento, nesse período chamado de mil anos, dentro do último dia, não corresponde às passagens bíblicas onde é dito que os santos ‘julgarão o mundo e os anjos’? Obs: Mesmo o Catecismo Maior (90) infere esse juízo como doutrina escatológica. O grande problema dos Pré-Milenistas é acrescentar como será a terra nesse momento. Prefiro manter o mesmo silencio da Escritura, apenas dizer o que ela diz no texto em tela.

22º) Os mil anos que aparece no texto tem o mesmo sentido (no quesito tempo) para o diabo e para os santos? Se sim, que implicações terá no estado intermediário, pois é dito que ele terminará (v 3,7)?

23º) Em Apocalipse 6.9,10 temos um registro do estado intermediário. A realidade espritual descrita nesse texto é bem diferente de Apocalipse 20.4,5 – e oposta ao rumo da interpretação Amilenista. Como você resolve essa diferença?

24º) Segundo os Amilenistas, o texto de Apocalipse 20.11-15 é uma descrição diferente do mesmo evento de Apocalipse 19.11-18. Porém,  uma comparação com Mt 25.31-46, temos uma semelhança de todo o texto de Apocalipse 19.11 a 20.15. Esse texto de Mateus, não une e sincroniza os acontecimentos na mesma ordem cronológica?

25º) É verdade que Apocalipse 20 é o único trecho que fala de “mil anos”. Mas os assuntos ali descritos são exclusivos desse capítulo? Reinado dos santos, anjo guerreando com o diabo, julgamento de Satanás, ressurreição, estão em outras partes da Bíblia?!
  •  ESCLARECIMENTOS: 

*Sou da tradição Reformada Confessional, mas não sou Amilenista, por convicção. Embora fiz um esforço em anos passados a aceitar essa interpretação, que carrega com ela algumas garantias de manter-se coesa com as confissões reformadas. Infelizmente alguns pensam que o Amilenismo é posição oficial da Fé Confessional Presbiteriana. O que não é. A tradição de vultos reformados teria uma identificação com o que é mais conhecido como Pós-Milenismo, mas eles pessoalmente, nãos as Confissões Reformadas. Nenhuma Confissão reformada esboça favorecimento a um Milênio judaico, ao mesmo tempo, não há também um tipo de Amilenismo nas Confissões. Uma Confissão Reformada nega de forma clara um ‘milênio judaico’. Porém, para o espanto de muitos, alguns teólogos da Assembleia de Westminster, que produziram a Confissão, eram pré-milenistas (VEJA - Alegrem-se os povos, p. 55). O respeitadíssimo calvinista J. C. Ryle era pré-milenista.


O que devemos ver claramente é que Apocalipse 19 vem antes do 20, não apenas em número, mas em eventos, e também deixar de achar que para pensar assim temos que ser exaustivamente pré-milenistas. Não precisamos, nem podemos compartilhar de tudo que os Pré-Milenistas ensinam – entre ser um pré-milenista pleno (mesmo o histórico), melhor ser sim Amilenista, mas não por causa do texto de Apocalipse 20, mas dado ao fato que a escola pré-milenista contém compromissos estranhos a um reino ‘meio santo e meio pecador’ de Cristo na terra e em por vezes, associado a Jerusalém literal. 

Ao mesmo tempo, apresentei perguntas aos Amilenistas que se posicionam no presbiterianismo brasileiro, como que se fossem os herdeiros da herança reformada nesse quesito. De fato, eles tem lugar na herança reformada, mas essa escola é recente – comparada ao pós-milenarismo, se assim ele se codificou no passado. Mas devo dizer, honestamente, que nem de longe o Amilenismo possui um sistema hermenêutico à prova de fogo. Essa escola tem graves dificuldades, é que nós no arraial Reformada, queremos diluir tais dificuldades não dando muita importância a assuntos escatológicos.