terça-feira, 2 de outubro de 2012

O reconhecimento dos Escritos do NT e os Pais primitivos


"Os Pais primitivos: Os Pais primitivos fornecem algumas pistas úteis sobre a situação. As cartas de Inácio contêm diver-sas referências a um considerável intercâmbio entre as igrejas (as da Ásia Menor, Grécia, Roma) por intermédio de mensageiros (muitas vezes oficiais), o que parece indicar um profundo sentimento de solidariedade vinculando-as, e uma ampla circulação de notícias e atitudes — um problema com um herege em um lugar logo ficaria conhecido em todos os lugares, etc. Que havia forte sentimento sobre a integridade das Escrituras, Policarpo deixa claro (7:1): “Quem perverter as palavras do Senhor…esse é primogênito de Satanás.” Críticos de nossos dias podem não gostar da terminologia de Policarpo, mas o uso de termos tão fortes deixa claro que ele estava mais do que atento e preocupado.


Semelhantemente, Justino Mártir afirma (Apol. i.58): “os demônios iníquos também destacaram Mar-cion de Pontus.” E em Trifo xxxv ele diz a respeito dos hereges ensinando doutrinas dos espíritos do erro, que esse fato: “nos incita, nós que somos discípulos da verdadeira e pura doutrina de Jesus Cris-to, a sermos mais fiéis e firmes na esperança anunciada por Ele.”

Parece óbvio que atividade herética causaria que os fiéis ficassem com maior cuidado e os obrigaria a definir nas suas próprias mentes aquilo que iriam defender. Assim sendo, o cânon truncado de Marcion evidentemente incitou os fiéis a definirem o verdadeiro cânon. Mas Marcion também alterou a redação de Lucas e das Epístolas de Paulo, e através de suas recriminações amargas fica claro que os fiéis estavam tanto cientes quanto preocupados. De passagem podemos observar que a atividade herética também fornece evidência indireta que os escritos do Novo Testamento eram considerados como Escritura — para quê falsificá-los se não tinham autoridade?

Dionísio, Bispo de Corinto (168-176), queixou-se de que as suas próprias cartas foram adulteradas e, pior ainda, também as Sagradas Escrituras.

E insistiram em que tinham recebido uma tradição pura. Assim Irineu disse que a doutrina dos apósto-los havia sido entregue através da sucessão de bispos, sendo guardada e preservada, sem qualquer alteração das Escrituras, sem permitir nem acréscimos nem diminuições, envolvendo leitura pública sem falsificação (Contra Hereges IV. 32:8).

Tertuliano também atesta o seu direito às Escrituras do Novo Testamento: “Eu tenho os verdadeiros registros oficiais desde os próprios donos… Eu sou herdeiro dos apóstolos. Assim como prepararam com cuidado o seu testamento e o outorgaram a uma custódia…mesmo assim eu a retenho.”317

Irineu

A fim de assegurar precisão na transcrição, os autores às vezes incluiriam no final de suas obras literárias uma intimação dirigida a copistas futuros. Assim, por exemplo, Iri-neu anexou ao final do seu tratado Sobre o Ogdoad o seguinte: “Eu te conjuro, quem copiar este livro, por Nosso Senhor Jesus Cristo e por seu glorioso Advento, quando vier julgar os vivos e os mortos, que compares o que transcreves e o corrijas a partir deste manuscrito do qual estás copiando, e também que transcrevas este conjuramento e o coloques na cópia.”318

Se Irineu tomou tais precauções extremas em prol da transmissão precisa de sua própria obra, quanto mais ele teria preocupação pela transcrição exata da Palavra de Deus? De fato, ele demonstra a sua preocupação pela exatidão do texto por defender a leitura tradicional de uma única letra. A questão é se o apóstolo João escreveu χξς' (666) ou χις' (616) em Ap. 13:18. Irineu assevera que 666 se acha “em todas as cópias mais antigas e aprovadas” e que “aqueles homens que viram João face a face” atestam esta leitura. E ele adverte aqueles que fizeram a alteração (duma só letra) que “o castigo sobre aquele que aumenta ou diminui qualquer coisa da Escritura não será leve” (xxx.1). Parece que Irineu está impondo Apoc. 22:18-19.

Considerando a intimidade entre Policarpo e João, a sua cópia pessoal do Apocalipse provavelmente foi feita sobre o autógrafo. E considerando a veneração de Irineu para com Policarpo, a sua cópia pessoal do Apocalipse provavelmente foi feita sobre a de Policarpo. Embora Irineu evidentemente não mais poderia se referir ao autógrafo (nem noventa anos depois deste ter sido escrito!) claramente ele estava numa posição para identificar uma cópia fiel e declarar com certeza a leitura original — isto no ano 186 DC. Que nos conduz até Tertuliano.

Tertuliano

Por volta do ano 208 ele instou aos hereges:

Percorrer as igrejas apostólicas, nas quais os próprios tronos dos apóstolos ainda estão nos seus lugares proeminentes, nas quais os seus próprios escritos autênticos (au-thenticae) são lidos, expressando a voz e representando o rosto de cada um deles individualmente. Acáia fica bem perto de vocês, (na qual) vocês acham Corinto. Já que vocês não estão longe de Macedônia, têm Filipos; (e ali também) têm os Tessalonicenses. Já que vocês podem atravessar para Ásia, encontram Éfeso. Além disso, estando perto da Itália, vocês têm Roma, donde chega às nossas mãos a própria autoridade (dos apóstolos mesmos).319

Alguns já pensaram que Tertuliano estivesse afirmando que os autógrafos de Paulo ainda estavam sendo lidos no seu tempo (208), mas pelo menos ele queria dizer que estavam utilizando cópias fiéis. Era de esperar algo diferente? Por exemplo, quando os cristãos em Éfeso viram que o autógrafo da carta de Paulo a eles estava ficando gasto, não iriam com cuidado fazer uma cópia idêntica para o seu uso continuado? Eles deixariam o autógrafo perecer sem fazer uma tal cópia? (Deveria ter havido um fluxo constante de pessoas vindo para fazer suas cópias da carta ou verificar a leitura correta.) Creio que somos obrigados a concluir que no ano 200 a Igreja de Éfeso ainda estava em condições de atestar a redação original de sua carta (e assim também para as outras igrejas detentoras de autógrafos) — mas isto é contemporâneo com P46, P66 e P75!

Ambos Justino Mártir e Irineu afirmaram que a Igreja estava espalhada por toda a terra, no tempo deles — lembremos que Irineu, em 177, tornou-se bispo de Lions, na Gálea, e ele não foi o primeiro bispo daquela região. Juntando esta informação com a afirmação de Justino que as memórias dos apóstolos eram lidas todos os domingos nas congregações, torna-se claro que deveria haver milhares de cópias dos escritos do Novo Testamento em uso, em torno de 200 DC. Cada congregação precisa-ria de uma cópia para fazer leitura, e deveria haver cópias particulares entre aqueles que podiam cus-tear o trabalho.

Temos evidência objetiva na História para sustentar as seguintes proposições.

• O texto verdadeiro jamais “se perdeu.”

• Em 200 DC a exata redação original dos diversos livros ainda podia ser verificada e certificada.

Portanto não havia nenhuma necessidade de praticar a crítica textual, e qualquer esforço nesse sentido seria espúrio.

Contudo, certas regiões presumivelmente estariam em situação melhor para proteger e transmitir o texto verdadeiro do que outras."



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