Os adventistas do sétimo dia concordam que, segundo
as Escrituras, o Dia da Expiação é o décimo dia do sétimo mês judaico:
"Isso vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez dias do mês,
afligireis as vossas almas, e nenhuma obra fareis, nem o natural nem o
estrangeiro que peregrina entre vós. Porque naquele dia se fará expiação por
vós, para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados
perante o Senhor".– Levítico 16:29-30.
Os adventistas do sétimo dia também concordam em
que qualquer calendário judaico indicará que o sétimo mês judaico é o mês a que
os judeus chamam de "Tishri". Para ajudar o leitor, os doze meses
judaicos estão alistados abaixo, tendo o número de dias de cada mês e seu
correspondente aproximado no calendário gregoriano:
- Nisã (30 dias) - março/abril
- Iyyar (29 dias) - abril/maio
- Sivã (30 dias) - maio/junho
- Tammuz (29 dias) - junho/julho
- Av (30 dias) - julho/agosto
- Elul (29 dias) - agosto/setembro
- Tishri (30 dias) - setembro/outubro
- Cheshvan (29 ou 30 dias) - outubro/novembro
- Kislev (29 ou 30 dias) - novembro/dezembro
- Tevet (20 dias) - fezembro/janeiro
- Sh'vat (30 dias) - janeiro/fevereiro
- Adar (29 dias) - fevereiro/março
Não há disputa entre os adventistas do sétimo dia,
cristãos e judeus quanto a essa informação. Contudo, os adventistas do sétimo
dia há muito têm ensinado que no ano de 1844, o Dia da Expiação (o 10o de
Tirshri) ocorreu em 22 de outubro. Os adventistas do sétimo dia teimosamente
sustentam a data 22 de outubro basicamente porque Ellen G. White declara ser
correta.
O
décimo dia do sétimo mês, o grande Dia da Expiação, o tempo da purificação do
santuário, que no ano de 1844 caiu em 22 de outubro, era considerado como o
tempo da vinda do Senhor. Isto estava em harmonia com as provas já apresentadas
de que os 2.300 dias terminariam no outono. . . . o fim dos 2.300 dias no
outono de 1844 permanece sem impedimentos" – The Great Controversy [O
Conflito dos Séculos], págs. 400, 457.
Esta alegação dos adventistas do sétimo dia está em
contradição direta com a data judaica para o Dia da Expiação que em 1844 foi 23
de setembro. Isto é claramente comprovado por enciclopédias e almanaques
judaicos do século XIX, modernos programas computadorizados de calendário e
cálculos astronômicos feitos por numerosos observatórios.
Está simplesmente fora de questão que o Dia da
Expiação judaico em 1844 foi 23 de setembro. Assim, no que concerne aos judeus
ortodoxos/rabínicos, os adventistas do sétimo dia estão equivocados em sua
alegação de que o Dia da Expiação em 1844 caiu em 22 de outubro. Para verificação, por favor consulte no website o item "The 2300 dias and October 22,
1844 - Wrong Day, Month, Year and Event! [Os 2.300 dias e 22 de outubro de 1844—dia, mês,
ano e evento errados!]" (que também inclui um link para
um website judaico que tem um programa computadorizado de
calendário).
Esta recente evidência era inesperada para os
eruditos adventistas do sétimo dia e os está forçando a admitir que em 1844 os
judeus rabínicos/ortodoxos de fato celebraram o Dia da Expiação (o 10o.
de Tishri) em 23 de setembro. Em resultado disso, esses eruditos estão agora
cientes de que sua data 22 de outubro está em sério descrédito, pois tinham
ensinado que os judeus rabínicos/ortodoxos também celebravam o Dia da Expiação
em 22 de outubro de 1844.
Discrepância
de Um Mês—Como Explicar?
Os ASDs alegam que em 1844 uma seita judaica bem
pequena, os "caraítas", usavam um calendário
diferente e assim celebraram o Dia da Expiação (o 10o de Tishri)
em 22 de outubro, um mês depois dos judeus rabínicos/ortodoxos que o faziam em
23 de setembro. Assim, o ensino ASD todo com respeito aos 2.300 dias de Daniel
8:14, o Juízo Investigativo, o Grande Desapontamento, e a entrada de Jesus no
Santíssimo tem por fundamento somente as palavras de sua profetisa Ellen G.
White em sua alegação de que os caraítas celebraram o Dia da Expiação em 22 de
outubro de 1844. Se qualquer dessas asserções estiver incorreta, então o
adventismo do sétimo estará em séria dificuldade teológica.
O
Que os Adventistas Dizem Sobre os Caraítas
Quando os adventistas do sétimo dia são
pressionados a apresentar evidência documentando que os caraítas de fato
celebraram o Dia da Expiação (o 10o de Tishri) em 22 de outubro
de 1844, não podem fazê-lo. Em vez disso, como prova, indicam informação no Seventh-day
Adventist Bible Commentary [Comentário Bíblico Adventista], e o livro
de L. E. Froom Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética
de Nossos Pais]. Estas "provas" são citadas abaixo:
SNOW, SAMUEL S. (1806-1870). Congregacionalista, depois cético, mais
tarde ministro milerita; iniciador do "movimento do sétimo mês".
Começando com um artigo escrito em 16 de fevereiro de 1843, ele realçou o
décimo dia do sétimo mês judaico, Tishri, o dia judaico da expiação, como o
verdadeiro fim da data profética dos 2.300 anos. Mais tarde ele estabeleceu o
dia específico como 22 de outubro de 1844, que no nosso calendário equivaleria
ao décimo dia do sétimo mês naquele ano, segundo o velho calendário judaico. .
. .
Em comum com todos os adventistas, Snow ficou
profundamente desapontado com a falha de o Noivo descer do céu em 22 de
outubro. Por um breve período ele questionou se um erro havia sido feito na
contagem profética do ano.
Contudo, logo começou a pregar estranhas doutrinas,
e publicou um periódico, chamado Jubilee Standard, de março a
agosto de 1843. Profundos conflitos se desenvolveram entre ele e os mileritas,
e ele se envolveu em extremo fanatismo, e finalmente proclamou ser ele próprio
Elias, o profeta. Logo separou-se do adventismo de todas as formas. –The
Seventh-day Adventist Encyclopedia [Encilopédia Adventista do Sétimo
Dia], vol. 10, p. 1357
Infelizmente, conquanto os adventistas do sétimo
dia aleguem que havia um "velho calendário judaico caraíta", não
conseguem apresentar nenhum! Faltando evidência empírica de que o 10o.
dia de Tishri em 1844 foi 22 de outubro, os ASDs indicam aos pesquisadores a
obra de L. E. Froom, Prophetic Faith of our Fathers, p. 792, onde
Froom tenta justificar a data de 22 de outubro em "Evidência E" e
". . . F". Contudo, Froom não apresenta nenhum documento caraíta para
demonstrar que eles tiveram uma data diferente dos judeus rabínicos para o Dia
da Expiação em 1844.
Os adventistas admitem que S. S. Snow era um indivíduo
indigno de confiança. Contudo, as bobagens de Snow vão além do simples engano.
L. R. Conradi, um ex-adventista do sétimo dia, registra a reivindicação de S.
S. Snow de revelação divina como fonte inicial para a data 22 de outubro de
1844:
De 22 de março até 22 de outubro de 1844, S. S. Snow, gradualmente
obtendo uma poderosa influência sobre todos os adventistas,
·
alegou que o Pai lhe havia revelado que a data de 22 de outubro de 1844
era o dia definido da vinda de Cristo para transformar os justos e destruir os
ímpios;
·
que o grande dia do livramento era o ano jubileu do Dia da Expiação. (O
fato) de que esse ano jubileu ainda estava anos no futuro, e que o Dia da
Expiação judaico caía em 23 de setembro, não o incomodavam.—The Foundation
of the SDA Denomination [O Fundamento da Denominação ASD], L. R.
Conradi (ex-ASD) p. 68, escrito em 1939.
Sendo que os adventistas do sétimo dia já tinham um
profeta, é compreensível que olhariam com desfavor a alegação de S. S. Snow de
revelação divina. Contudo, ao desacreditar Snow, são deixados somente com uma
fonte de evidência corroborativa: "o velho calendário judaico
caraíta".
Seria de pensar-se que com tanta coisa pendente
sobre um "velho calendário judaico caraíta", os adventistas do sétimo
dia o teriam reproduzido e distribuído como folhas de outono! Contudo, nem
sequer um "velho calendário judaico caraíta" pode ser encontrado – sem
dúvida porque não existe nenhum "velho calendário judaico caraíta".
Uma vez mais descobriremos os adventistas do sétimo dia perpetuando mesmo suas
doutrinas mais fundamentais sobre mitos.
Talvez fique tão desapontado quanto eu pela falta
de evidência para a crença adventista de que o Dia da Expiação caraíta em 1844
deu-se em 22 de outubro. Contudo, não devemos passar por alto a influência de
Ellen G. White nesta questão. Em vista de que a Sra. White apôs o seu selo de
aprovação sobre a data 22 de outubro, os adventistas devem crer em 22 de
outubro a despeito de uma montanha de evidência contrária!
Qual é a evidência? Considerem o que modernos
judeus e caraítas têm a dizer:
O
que os Judeus e os Caraítas Dizem Sobre 22 de Outubro de 1844
No outono de 1998 correspondi-me com modernos
judeus rabínicos e caraítas com respeito ao "velho calendário judaico
caraíta" e a possibilidade de que o Dia da Expiação tenha sido celebrado
em 22 de outubro no ano de 1844. Gostaria de compartilhar com os leitores
alguns de seus comentários:
Na realidade não há coisa tal como um calendário caraíta perpétuo, uma
vez que a real celebração de festivais geralmente se determina por observação.
Eles usam de fato calendários que os ajudam a determinar "quando"
calcular.– Dr. Daniel Frank
Diferentemente do calendário rabínico, não existe
calendário caraíta perpétuo.--Dr. Philip E. Miller, Bibliotecário, The Klau
Library, Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion [Instituto Judaico
de Religião], Nova York, NY
No século 19 os caraítas geralmente estabeleciam os
feriados com base em cálculos muito inexatos e primitivos, e não na real
observação da Lua Nova. Ademais, nesse período diferentes comunidades caraítas
seguiam diferentes sistemas de cálculo e podem ter variado por alguns dias em
sua observância.—Nehemia Gordon, Jerusalém, Israel (www.geocities.com/Athens/Forum/3384/karaitekorner-main.html)
Se os adventistas (do sétimo dia) desejam
reivindicar que todas as autoridades judaicas têm estado erradas, e somente a
pequena seita dissidente dos caraim ("caraítas") tinha o Único
Verdadeiro Calendário—bem, eu gostaria de ver um certificado com a assinatura
de Deus nele!--Will Linden
Não creio que seja possível que o Yom
Kippur (o Dia da Expiação) caísse tão tardiamente como em 22 de
outubro no calendário de Hillel. Julgo que a data mais tardia em que poderia
ter caído seria algum tempo em torno de 15 de outubro.—Tracey Rich
O Dia da Expiação nunca ocorreu tão tarde no ano
quanto em 22 de outubro.—Prof. Prohofsky, Purdue University.
Um rápido exame em seu calendário (dos caraítas)
confirma que está fora de sincronia com o calendário de Hillel que os judeus
rabínicos (não caraítas) utilizam.— Tracey Rich
É importante que os modernos pesquisadores entendam
que os caraítas eram uma seita judaica muito pequena e espalhada sem qualquer
corpo governante central. Não havia um calendário caraíta universalmente
aceito, e assim é possível que várias comunidades caraítas celebrassem seus
festivais em diferentes dias, e estivessem "fora de sincronia" com os
judeus rabínicos. Contudo, a diferença em 1844 teria sido de somente um ou dois
dias, não um mês inteiro.
Por exemplo, considerem como os cálculos caraítas
modernos das fases da lua em 1844 e os dias santos anuais em 1998/1999 diferem
apenas ligeiramente daqueles admitidos pelos judeus rabínicos:
Fases da Lua Calculadas em 1844 pelos
CARAÍTAS*
|
JUDEUS RABÍNICOS**
|
Lua Nova 12 de setembro de 1844
|
14 de setembro de 1844
|
Lua Nova 28 agosto de 1844
|
28 de agosto de 1844
|
Dias Santificados/de Jejum Escolhidos em 1998/1999
Calculados Pelos
CARAÍTAS
|
JUDEUS RABÍNICOS
|
Rosh Hashanah 22
de setembro de 1998
|
21 de setembro de 1998
|
Yom Kippur 1o de
outubro de 1998
|
30 de setembro de 1998
|
Sukkot 6 de otubro de
1998
|
5 de outubro de 1998
|
Pesah 1o de
abril de 1999
|
1o de abril de 1999
|
Desses cálculos pode-se certamente argumentar que
os caraítas poderiam ter celebrado o Dia da Expiação no mesmo dia, ou ao menos
dois dias antes ou depois, dos judeus rabínicos. Contudo, existe documentação
de que os caraítas celebraram o seu Dia da Expiação no mesmo dia do judeus
rabínicos: 23 de setembro!
Com
a Palavra o Rabino Caraíta Yusuf Ibrahim Marzuk
Um dos primeiros céticos com respeito à crença
adventista quanto ao Dia da Expiação ter caído em 22 de outubro de 1844 foi o
ex-pesquisador adventista do sétimo dia, E.S. Ballenger.
Ballenger escreveu em seu periódico The
Gathering Call, maio-junho de 1941:
22
de outubro de 1844 tem sido um tempo crucial para os ASDs uma vez que seus
pioneiros fixaram sobre tal data a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo; e
ainda se apegam tenazmente a essa data a despeito de todos os fatos ao
contrário. O Dia da Expiação caiu em 23 de setembro de 1844, em vez de 22 de
outubro. Isso pode ser facilmente demonstrado consultando-se qualquer almanaque
judaico da época, ou qualquer autoridade judaica ortodoxa. Eles celebraram o
Dia da Expiação em 1844 no dia 23 de setembro.
Os defensores da idéia (ASDs) declaram que
conquanto os judeus ortodoxos possam ter celebrado o Dia da Expiação em 23 de
setembro, os judeus caraítas o observaram em 22 de outubro. Realizamos uma
cuidadosa investigação, e descobrimos que esta é uma falsa alegação. O
rabino-chefe dos caraítas do Cairo, Egito, Youseff Ibrahim Marzuk, em resposta
a uma indagação quanto ao dia em que celebraram a expiação em 1844, escreveu:
"Quanto
às datas da Páscoa e do Yom
Kippur, são as seguintes: -- Segundo os judeus caraítas, no ano de 1843
o Yom Kippur caiu
numa quarta-feira, dia 4 de outubro, e exatamente a mesma data segundo os
rabínicos. No ano de 1844, caiu numa segunda-feira, 23 de setembro, tanto para
os caraítas quanto para os rabínicos".
Quem era o Rabino Youseff Ibrahim Marzuk e por que
sua resposta à consulta de Ballenger tinha autoridade sobre tal questão? No
processo de responder a estas perguntas eu dediquei-me a uma pesquisa bastante
ampla em websites caraítas e recebi as seguintes informações
via e-mail:
Sou levado a crer que o relatório de Ballenger baseia-se em algum tipo
de carta de Yusuf Ibrahim Marzuk. Isso parece-me provável porque houve uma tal
pessoa ativa na comunidade caraíta do Cairo em 1941. Mourad el-Kodsi, em seu
livro The Karaite Jews of Egypt refere-se a Yusuf Ibrahim
Marzuk como chefe da Comunidade caraíta nesse período, conquanto el-Kodsi não
faça menção à correspondência com Ballenger. Na pág. 221 el-Kodsi escreve:
"Yusuf
Ibrahim Marzuk (1882-1952): membro do concílio religioso, então deputado da
comunidade por muitos anos. Às vezes, especialmente nos anos da década de 30,
ele era a única autoridade. . . ."
Na pág. 59 el-Kodsi declara que Yusuf Ibrahim
Marzuk era "o dirigente executivo da comunidade" em 1940. Não pode
haver dúvida que Yusuf Ibrahim Marzuk mencionado por el-Kodsi é a mesma
personalidade referida por Ballenger."—Nehemia Gordon, Jerusalém, Israel.
Confirmação adicional da pesquisa de Nehemia Gordon
ocorre com o Dr. Philip E. Miller, que escreve:
Marzuk era um homem muito instruído, e se disse que
as datas coincidiam, então provavelmente isso se deu.— Dr. Philip E. Miller,
Librarian, The Klau Library, Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion,
New York, NY
CONCLUSÃO
A alegação dos adventistas do sétimo dia de que os
caraítas celebraram o Dia da Expiação um mês depois dos judeus
rabínicos/ortodoxos é meramente um mito.
22 de outubro de 1844 é uma teoria não-bíblica,
historicamente falida, sustentada simplesmente sobre uma falsa profetisa, Ellen
White. Já passou do tempo para os dirigentes adventistas admitirem a verdade a
respeito de 22 de outubro de 1844.
Contudo, em vista do modo como a liderança
adventista tem tratado toda outra evidência que contradiz as crenças
adventistas, este pesquisador não prenderá a respiração na expectativa de tal
admissão!
NOTAS
** As datas rabínicas foram extraídas de The Jewish Holidays, A
Guide & Commentary, por Michael Strassfeld, pág. 241, Harper & Row,
(c) 1985
Traduzido de:
Autor: Sydney Cleveland
Título original: 22 de Outubro de 1844 — As Coisas Se Complicam
Para o Adventismo Tradicional