domingo, 29 de março de 2015

A soteriologia TJ – arminiana, calvinista ou pelagiana?

Essa é a primeira postagem de uma série que pretendo expor, permitindo Deus. Se a soteriologia das seitas podem ser identificada com algum sistema conhecido entre o cristianismo protestante, ou com as heresias históricas a respeito do tema. As principais seitas ‘cristãs’ – Adventistas do Sétimo Dia, Espiritas, Mórmons, Testemunhas de Jeová, e as seitas Neopentecostais, possuem um sistema de doutrinas ligado ao livre-arbítrio. Não raro, a doutrina da depravação total nessas seitas é diluída, quer em sua forma mais branda com a chamada graça preveniente*, quer por negar que os efeitos da Queda sobre a alma humana, não chegam até esse ponto de uma morte espiritual plena. A causa é simples – as seitas flertam com algum tipo de racionalismo, ou apelo humanista, para introduzirem seus conceitos.

Percebe-se isso quando Adventistas, Espíritas e Testemunhas de Jeová apelam a um tipo de justiça racional, destituída da Divindade Soberana, ao questionarem o  tormento eterno. Com os sentimentos humanos estimulados, a pessoa recebe rapidamente seus questionamentos contra a doutrina do tormento eterno como legítimos, rejeitam tal ensino, apesar de estar claramente patenteado na Escritura.

Nesta primeira postagem tratarei especificamente da religião conhecida como Testemunhas de Jeová (TJ) no campo da soteriologia, e tentar entender em que classificação tal segmento religioso é corretamente classificado, ou pelo menos aproximado, até mesmo, definir o modo próprio da seita ver a salvação.

1. A Queda e seus resultados segundo a Teologia TJ: a perspectiva teológica da liderança TJ a respeito da Queda não é de imputação, mas apenas de hereditariedade. Não houve uma representação federal em Adão por toda raça humana, no sentido dessa raça pecar nele e com ele:

“Alguns têm explicado que isto significa que toda futura descendência de Adão compartilhou no ato inicial de pecado porque ele, como chefe da família, os representou e com isso, realmente, os tornou co-participantes no seu pecado. No entanto, o apóstolo diz que a morte “se espalhou” a todos os homens, o que dá a entender um efeito progressivo, em vez de simultâneo, nos descendentes de Adão [...] Responsabilizar todos os descendentes de Adão como participantes no pecado pessoal de Adão exigiria alguma expressão de vontade da parte deles quanto a terem-no como seu chefe de família [...] Portanto, a evidência indica que o pecado de Adão foi repassado para as sucessivas gerações em resultado da reconhecida lei da hereditariedade.” (Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3, p. 199).

Desta forma os teólogos da Torre de Vigia defendem em um sentido primário o pecado como uma doença que conduz à morte. A pessoa que nasce acaba pecando, e assim, e somente assim, ela se torna culpada de morte – mas não de morte eterna, mais adiante veremos a respeito disso.

O homem continua sendo capaz de vencer o pecado, não por uma obra regeneradora interna (Rm 8.1-8), mas no devido uso das faculdades racionais por fazer a vontade de Deus. Em uma explicação a respeito do caso de Jacó e Esaú, os teólogos da seita, em seu compromisso com uma limitação de Deus, faz uma afirmação que nos interessa agora:

“Jeová tinha a capacidade de ler o padrão genético dos gêmeos por nascer. Ele pode ter considerado isso ao prever as qualidades que cada um dos meninos desenvolveria e predizer o resultado.” (Raciocínios, p. 118 [grifo meu]).

2. Salvação segundo a Torre: Outro fator estranho na teologia da liderança TJ é como que se dá o processo de salvação. Antes, porém, devemos mostrar que o conceito de salvação é dividido em dois grupos – os 144 mil e as “outras ovelhas” que habitarão para sempre na Terra paradisíaca:

“... Deus achou bom reconciliar Consigo mesmo, por meio de Cristo, todas as outras coisas, fazendo a paz por intermédio do sangue que Jesus derramou na estaca de tortura. Paulo também explica que essa reconciliação envolve dois grupos de pessoas: “as coisas no céu” e “as coisas na terra” (Colossenses 1:19,20; Efésios 1:10). O primeiro grupo é composto de 144 000 cristãos que recebem a esperança de servir como sacerdotes celestiais e reinar sobre a terra com Cristo Jesus  [...] Por intermédio deles os benefícios do resgate serão aplicados gradativamente à humanidade obediente por um período de mil anos.” (Achega-se a Jeová, p. 146).

O novo nascimento para a teologia da Liderança TJ não é o mesmo que para a fé cristã protestante – quer seja arminiana ou calvinista. Enquanto o novo nascimento, bíblico, está atrelado em um regenerar do estado de pecado, dando vida espiritual com Deus, filiação de Deus e justificação diante de Deus e paz com Deus (Romanos 5; veja Salvos Pela Graça, p. 26; Teologia Concisa, p. 147), o novo nascimento jeovista está mais ligado com a perspectiva escatológica do que com o estado diante de Deus, embora não o dispense. Explico:

A)    Para o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová o ser humano não tem alma, nem espírito, nem parte imortal alguma que sobrevive à morte do corpo. Segundo propagam, esse ensino é Babilônico, grego, etc., não bíblico (Brochura “Que Acontece Conosco Quando Morremos”, pp. 5-16).
B)    Já que o ser humano não possui parte imaterial alguma, como ele poderia morar no céu de Deus? Daí entra em cena o Novo Nascimento, ou seja, é produzido um direito de existência fora do corpo após a morte, onde apenas os 144 mil (Ap 14.1,2), recebem. Quando os mesmos morrem, ressuscitam “num piscar de olhos” em espírito, e vão para o céu. Isso ocorre, segundo a heresia, desde 1918 [não obtive conhecimento se essa data foi mudada, visto que a seita TJ constantemente muda doutrinas relacionadas a datas e profecias, que não seja 1914, claro.]
C)     Portanto, a questão é que o novo nascimento tem uma ligação mais ao Reino de Mil anos que apenas os 144 mil participarão com Cristo, sendo mediadores das outras ovelhas (um estudo mais extenso disso está em A Sentinela 15/071995, pp. 9-25). Nessa perspectiva, até mesmo Jesus teve que nascer de novo para os Teólogos da Torre:

“Nascer de novo envolve ser batizado em água (‘nascer da água’) e ser gerado pelo espírito de Deus (‘nascer do espírito’), tornando-se assim filho de Deus, com a perspectiva de ter parte do Reino de Deus (João 3:3-5) Jesus teve essa experiência, assim como a têm os 144 000 que são herdeiros com ele no Reino celestial.” (Raciocínios, p. 257[grifo meu]).

2. Salvação como uma filosofia de pensamento denominacional, não como um milagre soberano regenerativo na alma de quem crê. Para a Liderança TJ a salvação está relacionada com a afiliação às crenças da organização Torre de Vigia, ou como dizem “A Organização de Jeová”.

“Em razão de as Testemunhas de Jeová basearem na Bíblia todas as suas crenças, normas de conduta e procedimentos organizacionais, sua fé na própria Bíblia como sendo a Palavra de Deus lhes dá a convicção de que possuem a verdade.” (Raciocínios, p. 388).
“Quem, então, são os que formam o corpo de verdadeiros adoradores hoje? Não hesitamos em dizer que são as Testemunhas de Jeová.” (Viver Para Sempre, p. 190).
“... existe uma organização que é notavelmente diferente de todas as demais. A Palavra de Deus, junto com muitas provas registradas, identificam claramente que essa organização não é outra senão as Testemunhas de Jeová.” (Organizados Para Fazer a Vontade de Jeová, p. 5).

Precisamos definir bem as facetas das crenças jeovistas e o que eles pensam a respeito da salvação. Pois a falta de sintonia entre o que eles pensam e o que a Bíblia ensina, é gritante. Podemos errar por falta de conexão.

A)     O pensamento teológico da seita afirma que a salvação se dará, em dois momentos. Quando chegar o fim de todas as coisas no Armagedom, os que servirem a Jeová fielmente na Organização serão livres e passarão para viver no novo mundo. E os que forem dos 144 000 irem para o céu logo em seguida ao Armagedom para começar o reino de mil anos com Cristo na Terra.
B)     Aqueles que morreram servindo a Deus na Organização ‘verdadeira’, que são das outras ovelhas (incluindo todos os servos de Deus do Velho Testamento) ressuscitarão e se ajuntarão com a Grande Multidão de Testemunhas de Jeová que passaram do Armagedom, e viverão na Terra. Esses são os justos que herdarão a terra.
C)     Os que morreram na ignorância receberão a chance de ressuscitarem na nova terra – os injustos, para aprenderem a verdade da organização de Jeová. Serão erguidos a um estado de perfeição para que sejam habilitados em passarem na prova final, após o milênio, junto com todos os demais das outras ovelhas.
D)    Os que foram infiéis a Deus no passado, saíram da Organização, não ressuscitarão nem passarão com vida no Armagedom. Estarão para sempre mortos. Os que forem infiéis no milênio, na prova final e após serão eliminados por Jeová para sempre, sem a necessidade de nova vindicação mundial.
E)     Em um sentido a salvação após a prova final para as outras ovelhas é eterna enquanto permanecerem submissos. Eles poderão cair (apesar da possibilidade ser mínima) mesmo na eternidade. Para os 144 mil, Deus concederá a eles imortalidade, pois eles demonstraram fidelidade e foram provados. Eles jamais cairão.

Ø  Essas afirmações podem ser vistas em várias publicações da seita. Mas de modo específico no livro Revelação – Seu Grandioso Clímax Está Próximo pp. 113-129; 286-313.

Essa é, em linhas gerais, a salvação segundo a Liderança TJ.

Como adquirir direito de disputar no futuro por essa salvação [incerta]? Através do conhecimento dos ensinos e das atividades da religião Torre de Vigia. Eles classificam isso como o “conhecimento que conduz à vida eterna”. O perdão é oferecido a todos que clamam por perdão a Jeová. A base com que Deus perdoa é a morte de Jesus Cristo de Nazaré, que já não existe mais. Mas a permanência nessa salvação depende do esforço de cada um - por toda eternidade. Além disso, o que Jesus fez em um sentido jurídico, não é em um sentido pessoal. Para os TJs Jesus abriu caminho para termos as oportunidades de salvação. Ele garantiu vagas ilimitadas para a Terra, limitadas para o céu, mas não garantiu a salvação pessoal de quem quer que seja.

Existe alguma semelhança entre a soteriologia arminiana ou calvinista com a salvação da Torre de Vigia? Minha resposta é não. Ainda que possa ter suas semelhanças, mas não pode ter uma identificação direta nem indireta. Na verdade, a influência sociana e pelagiana é bem mais percebida do que das escolas ortodoxas do protestantismo.

*A Graça Preveniente é uma doutrina Arminiana, que segundo seus promotores, tem como objetivo capacitar o morto espiritual a ver e a ouvir, embora, não o regenere – ele continua morto, nem o salve, é irresistível para o objetivo proposto- iluminar e capacitar, mas o que ela apresenta pode ser resistido. A doutrina da graça preveniente nada mais é do que um arranjo solúvel entre manter o livre-arbítrio e a depravação total. É dito da graça preveniente:

A graça preveniente é um ato soberano de Deus pelo qual ele suspende a raça humana de sua depravação e nos concede a capacidade de respondermos à graça de Deus.” (grifo meu).


quinta-feira, 19 de março de 2015

Comunidades Presbiterianas - a onda do pragmatismo

A Igreja Presbiteriana do Brasil vive uma realidade muito deprimente, na maioria de suas igrejas locais – que muitos não fazem ideia. Em documentos oficiais ela defende uma doutrina e liturgia reformada, mas no geral, percebemos que não temos um modelo de igreja presbiteriana mesmo localmente distribuídas. Além disso, temos uma onda de um modelo de Igreja que se intitulam “Comunidades”, que por anos, manteve tal nome com descarada rebeldia ao Supremo Concílio. O Supremo Concílio lá dos idos de 2006... em 2014 tivemos a demonstração que grandes nomes da IPB estão do lado das Comunidades, ou não se importam com tal assunto, apesar de confirmarem a posição antiga, de rotular Igreja e não Comunidade. Muitas ainda continuam, nem dando a mínima a essa decisão, que na verdade, foi sem um apoio enérgico do último SC.

Esse modelo segue fielmente o modelo de plantação de igrejas “sensível aos ouvintes”. Onde músicas sertanejas, palestras motivadoras, psicologias, são mescladas com a Bíblia, ao passo que ensinos a respeito da Princesa Diana, UFC e os Vingadores, vídeos de bandas mundanas, U2, Titãs, e desenhos dos Simpsons, disputam o palco (púlpito?) em muitas dessas comunidades, no momento da pregação da Palavra (ou palestra motivacional?). Os delegados do SC de 2014 deixaram de pensar nas práticas litúrgicas metodológicas dessas comunidades, ofuscado pela informação que tais deram, dizendo que são reformadas. Todo mundo na IPB sabe que as Comunidades Presbiterianas estão longe do modelo reformado litúrgico, mas muitos conciliares que tem tal noção são indiferentes.


A teologia das Comunidades é humanista, pois é a necessidade do homem que é o centro do culto, não Deus. Em nada é diferente, em seus pressupostos, com a teologia da prosperidade, apesar de procurar resultados diferentes, em múltiplas facetas. Além disso, está claro o público alvo desse clube, pessoas com alguma condição financeira um pouco mais estável, que reflita um ambiente da cultura pop.

Se tal movimento continuar crescendo, em breve, a destruição total da imagem de Igreja Reformada será uma realidade, visto que já está sendo diluída por outros motivos. A estratégia foi eficaz, convidar nomes de influência para tais encontros, depois com certeza não haverá coragem da parte desses de rejeitar tal modelo de igreja.

Pastores jovens, ou recém-formados, que aderem a esse movimento dentro da IPB demonstram aversão à instituição, a seminários e a confissões (claro, eles só não são contra o sustento pastoral que essa instituição proporciona a eles!!!). Recentemente um cantou uma música do Sérgio Reis. Outro criticou a instituição, ao que perguntei a ele por que ele não sai da IPB – ele me disse que estava criticando a ICAR...(?) Ainda outro pastor presbiteriano dessa onda pediu ao grupo de louvor em um culto ao ar livre começar cantando músicas sertanejas para atrair as pessoas...  outro, fez uma pesquisa de campo, onde levantou o gosto das pessoas em relação a músicas, modelo de púlpito, estilo de pregação e nome, daí ele começou plantar um clube a esse gosto, ou melhor, uma “comunidade presbiteriana”.

A omissão dos conservadores mais conhecidos do passado no assunto em tela demonstra que só lutarão por assuntos de seu interesse acadêmico ou pessoal. Enquanto alguns poucos ainda lutarão por uma IPB mais centrada biblicamente no culto a Deus, e aos seus estatutos confessionais e constitucionais.


Deus nos guarde... 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Aos Amilenistas: uma sugestão de reajuste no Paralelismo Progressivo

O sistema de interpretação que nega corretamente o milênio* dispensacionalista e clássico, chamado de Amilenista+, geralmente, segue uma divisão do livro do Apocalipse chamada de Paralelismo Progressivo (Mais que Vencedores, pp. 47-49, William Hendriksen; Comentário do Novo Testamento, Apocalipse, p 21,22, Simon Kistemaker; A Bíblia e o Futuro, p. 263-267, Antony Hoekema). Isso torna o Amilenismo possível dentro do esquema. Depois de apresentar o Paralelismo Progressivo, Hoekema afirma:

“Agora estamos prontos para a interpretação do Apocalipse 2.1-6 [...]” (A Bíblia e o Futuro, p.267).

Deve ser dito também que a abordagem pós-milenista de Apocalipse 20 é a mesma dos amilenistas, porém, com um detalhe diferente significativo. A ressurreição de Ap 20.4,5 segundo os pós-milenistas da atualidade é a regeneração, que há razoável base bíblica, quando os amilenistas produzem um ‘neologismo teológico’ chamando o estado intermediário de “ressurreição” ( A Ilusão Pré-Milenista, pp. 31-56; O Milênio - 3 pontos de vista pp.48-50).

A interpretação Amilenista do Apocalipse não raro faz uso das quatro escolas de interpretação apocalíptica (Escatologia do Novo Testamento, p. 52), sendo a idealista de maneira mais geral, e a preterista, futurista e historicista em outros pontos. Uma combinação das ideias gerais, leva os Amilenistas fazerem uma boa aplicação dos princípios do livro na vida e esperança cristã, ao passo que o gênero literário do livro é estritamente respeitado, em seus símbolos.

No referido Paralelismo Progressivo, recurso hermenêutico canônico de vários  amilenistas, afirma-se que em cada paralelo entre os blocos, a próxima sessão avança mais no esclarecimentos de aspectos que não foram expandidos no bloco anterior. Embora essa divisão seja arbitrária e não resiste a testes minuciosos, ainda assim há uma satisfatória aceitação dessa divisão, pois de fato, podemos perceber, sem sermos dogmáticos, paralelos nas visões de João registradas no livro.

Considerando os acertos do sistema, e levando em conta a minha consideração por essa forma de interpretar, penso que um pequeno reajuste no fim de um do bloco pode resolver definitivamente um impasse hermenêutico do sistema Amilenista, que é o fluxo de Apocalipse 19 para o 20. Os Amilenistas sugerem como base a semelhança dos blocos que compreendem o capítulo 11 para o capítulo 12 – onde o fim do mundo é posto no fim do capítulo 11 e há um retorno ao ministério de Cristo no capítulo 12, assim também seria o caso, segundo eles do sexto bloco, isto é, os capítulos 19 para o 20 (Não me deterei nas impossibilidades disso agora, mas muitos sabem que é uma maiores fraquezas do sistema Amilenista, tal porção, dado as evidencias claras da continuidade da visão iniciada em Ap 19.11).

Pensemos na possibilidade de terminar o penúltimo bloco não em Apocalipse 19.21 mas em Ap 20.15?!  Estenderíamos assim todos os eventos do capítulo 20 no desdobrar do “último dia” [que sabemos, não é mais um dia, é o Grande Dia do Juízo]. Levando em conta o progresso de alguns paralelos, teríamos assim, mais detalhes do reinado dos santos e da participação deles no último dia, conforme ensinado em toda Bíblia, chamado de mil anos.

Em uma referência bem limitada, já houve quem fez essa associação semelhante, embora seja pré-milenista:

“Robert Wall vê 19.11-20.15 como um grupo de visões que descrevem “um único evento concluindo com o estabelecimento da comunidade escatológica no jardim cidade de Deus””(O Milênio – 3 pontos de vista, p. 188).

Será que essa suposição não teria base alguma em outro paralelo em Apocalipse? Sim, com certeza! Olhe os capítulos 6º e 7º de Apocalipse. No fim do sexto capítulo, com a abertura do sexto selo, temos um paralelo aos eventos de Apocalipse 19.11-21, isto é – a volta de Cristo e o julgamento. Perceba que no próximo capítulo temos a informação da igreja, dos santos naquele período e logo após no céu (144 mil e a grande multidão diante de Deus e do Cordeiro). O que ocorre também em Apocalipse 20 – os santos passam a reinar com Cristo.

Se os Amilenistas, nos quais eu caminho partes do trajeto hermenêutico apocalíptico, mas sem nenhuma possibilidade de prosseguir no ponto em questão, olhassem para o último dia; como iniciado em Apocalipse 19.11 e findando em Apocalipse 20.15 – fazendo uma comparação com Mateus 25.31-46, teria um maior êxito na exposição, e provavelmente, e a leitura do Apocalipse 20 teria uma leitura mais natural, dentro do simbolismo do livro.

... para pensar e refletir.

Deus nos ilumine.

* Pelo menos corretamente ao negar a natureza do milênio que esses apresentam, mas ficando na mesma situação por oferecer uma alternativa também errada, mas obviamente, não com as heresias dispensacionalistas, em meu ponto de vista.

+ Ninguém nega o milênio, o que existe são interpretações a respeito que são auto excludentes, daí a ideia de chamar alguns de Amilenistas ser uma nomenclatura infeliz, pois, em um sentido pleno, todo Amilenista crê no milênio sendo realizado agora, e portanto, Cristo voltando depois. Nesse sentido, o Amilenista também é Pósmilenista. 

terça-feira, 10 de março de 2015

O Espírito de Profecia

Um texto bíblico é ‘atribuído’ ao ministério de Ellen White. Apocalipse 19.10, a Nova Versão Internacional traduz esse texto dessa maneira:

“Então caí aos seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: “Não faça isso! Sou servo como você e como os seus irmãos que se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus! O testemunho de Jesus é o espírito de profecia.”

Segundo a Igreja Adventista, esse texto faz alusão ao ministério profético da igreja no tempo final:

O remanescente será conduzido pelo testemunho de Jesus, manifestado através do dom de profecia [...]

Antes de Sua encarnação, Cristo encheu os escritores bíblicos com Seu Santo Espírito e forneceu-lhes profecias a respeito de Seu sofrimento e subseqüente glória (I Ped. 1:11). Após a ascensão, Ele continuou revelando-Se a Seu povo. As Escrituras afirmam que Ele concedeu Seu “testemunho” – “o espírito de profecia” – ao Seu fiel povo remanescente (Apoc. 12:17; 19:10;[...]

“O Espírito de Profecia na Igreja Adventista do Sétimo Dia. O dom de profecia manifestou-se ativamente no ministério de Ellen G.White, co-fundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia.”

[Nisto Cremos, pp. 225 , 79, 301].

Esse é um conceito norteador para a vida e missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

“Os adventistas do sétimo dia creem que Ellen G. White foi uma verdadeira profetisa de Deus, enviada para guiar e aconselhar a Igreja nestes últimos dias. Um dos princípios fundamentais mantidos pela igreja é o de que “o dom do Espírito de Profecia é um dos sinais distintivos da igreja remanescente”, e “este dom foi manifestado na vida e no ministério de Ellen G. White” (SDA Church Manual, Revised 1976, p. 37).” (http://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/o-uso-de-fontes-nao-inspiradas-por-ellen-white/)

O texto de Apocalipse 19.10 diz na parte final: “... Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.” Parece que o Adventismo lê muito mais do que está escrito no texto. Podemos apresentar duas formas de entender esse texto:

Primeiro, o ‘espírito de profecia’ refere-se a um comportamento e/ou disposição evangelística, o testemunhar o próprio Jesus. Com essa interpretação chegaríamos à conclusão de que A Palavra de Deus, nesse texto, está garantindo que o que motiva a função e disposição profética da Igreja de Cristo é o testemunhar Jesus Cristo sob o poder do Espírito Santo, diante de oposição e indiferença. O ‘espírito de profecia’ não é o ministério de Ellen White, mas de toda a Igreja de Cristo atuante em testemunhar Cristo (1 Pe 2.9,10). O Novo Testamento Versão Fácil de Ler traduz assim esse texto:

“Cuidado! Não faça isso! Eu sou seu companheiro, assim como sou companheiro de seus irmãos que proclamam a verdade que Jesus revelou. E é proclamando essa verdade que eles provam que têm o espírito profético. É a Deus que você deve adorar!

Segundo, de uma maneira mística, o Testemunho de Jesus é a sua confirmação pessoal na profecia apocalíptica dada ao apóstolo João, e todos os profetas anteriores, sendo o espírito de profecia esse testemunho.

“Tanto as hostes angélicas como a Igreja seguram bem o testemunho de (dado por) Jesus. Esse testemunho incluiu tanto o testemunho histórico do Senhor, preservado pelos Evangelhos, como o que ele continua a dar pelo seu Espírito, tais como as revelações deste livro. A cláusula explanatória que se segue significa, ou que o ensino de Cristo, tornado conhecido no passado e no presente, é o espírito ou essência [...] de profecia, ou que o Espírito Santo, que inspira a profecia, interpreta ao profeta o testemunho de Cristo, tanto o revelado como o não revelado. Aquela interpretação parece dar-se melhor com contexto; esta concorda com João 15:26,27.” (O Novo Comentário da Bíblia – Edição em 1 Volume, p.1479. Ed. Vida Nova.)


Não há qualquer possibilidade de que tal texto tenha o sentido pretendido pela tradição Adventista, de aplicar ao ministério de Ellen White, ou eventualmente a ela mesma, a nomenclatura ‘espírito de profecia’.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Rev. Marcelo Lemos: um arminiano flertando com o liberalismo?

"Acredito ter ficado claro no primeiro artigo – Flertando com o Liberalismo? - duas coisas: primeiro, que não escrevi motivado pelo debate Calvinismo X Arminianismo, ainda que eu mesmo seja um calvinista; segundo, que não estou acusando o pastor arminiano presente ao debate de ser, de fato, um liberal. 

Entretanto, o que vimos acontecer no debate do programa “Vejam Só!”, da Rit, semana passada foi, mesmo que sem intenção, um flerte com o liberalismo. E o fato de que o pastor arminiano, e seus defensores, não consigam perceber isso é tanto decepcionante quanto assustador.


Vou citar aqui, uma vez que o debate persiste,  o principal argumento usado para defender a posição que o pastor arminiano defendeu no debate da RIT. O argumento que analisarei aqui pode ser encontrado no maior portal em defesa da teologia arminiana no Brasil (Arminianismo.Com). Trata-se de um argumento usado pelo site, e também por vários arminianos no Facebook – ainda que até mesmo irmãos arminianos repudiam a confusão feita no debate, e perpetuada depois por muitos.

“Como não havia um desenvolvimento teológico a respeito dos agentes (o diabo e seus anjos, por exemplo) que também atuam no universo criado por Deus, tudo era atribuído a Deus, até porque, de uma forma ou de outra, tudo está sob o seu controle, mesmo quando algo é feito por intermédio de outro. Os casos de Jó e Davi (a respeito do censo que ele levantou) são clássicos. Ainda que aqueles males tenham sido provocados pelo diabo, eles são atribuídos a Deus”.

Esse argumento, admito, é muito melhor que o argumento usado pelo pastor arminiano durante o debate. Porque nesse argumento ao menos se admite que “tudo está sob o controle de Deus”, então, Deus é a fonte de tudo. Perfeito. Aliás, esse raciocínio, como argumentou Graconato no debate, coloca tanto arminianos quanto calvinistas no mesmo barco a respeito da causa primeira de todas as coisas. Agora, ainda que o pastor arminiano tenha desejado falar a mesma coisa, não foi o que ele fez. Suas palavras foram: “(...) todas as coisas sãoinadvertidamente atribuídas a Ele, é por isso que nós vemos I Samuel 1 dizer lá que Deus “cerrou a madre de ana”... Como não tem ninguém para fazer isso, tudo é dito que Deus é quem faz, e por isso tudo a culpa é de Deus no Antigo Testamento, sobretudo no Antigo Testamento”.

Observe a diferença entre o argumento usado pelo site Arminianismo.Com e o argumento usado pelo pastor arminiano. Para o site é dito que a culpa é Deus porque, de certa forma , Deus controla todas as coisas. Mas para o pastor, tudo é atribuído a Deus porque os autores escreveram “inadvertidamente”. Ora, no primeiro caso o site está interpretando o texto bíblico, sem lançar contra ele um juízo negativo de valor, já no segundo está claramente sendo dito que o texto errou. Interpretar é coisa legítima, mesmo quando se erra, mas fazer juízo negativo contra o conteúdo do texto é liberalismo – não importa que o maior site arminiano do Brasil tente dizer o contrário.

No entanto, mesmo o site Arminianismo.com cai no erro de atribuir imperfeição ao texto bíblico; se é verdade que o parágrafo citado termina bem, seu começo é um ataque contra a inerrância bíblica, porque o autor diz: “Como não havia um desenvolvimento teológico a respeito dos agentes (o diabo e seus anjos, por exemplo) que também atuam no universo criado por Deus, tudo era atribuído a Deus”. Afinal, porque a Bíblia diz no Antigo Testamento que Deus criou este ou aquele mau? Ela fez isso porque seus escritores eram ignorantes, ou ela fez isso porque, de alguma forma, Deus realmente controla todas as coisas? Um arminiano pode simplesmente ficar com a segunda hipotese, e com isso aceitar que a Bíblia não erra. Mas não é o que o pastor fez lá na RIT, e não é, infelizmente, o que o site Arminianismo.com publicou em sua página. Para ambos, os autores impregnaram o texto bíblico com seus erros teológicos.

Acerca de todo o debate que se gerou depois do programa, o site arminiano declara o seguinte: “a acusação do Graconato e dos calvinistas é injusta. O Pastor não afirmou que a Bíblia contém erros, poderia dar a eles pelo menos o benefício da dúvida”. Como já afirmei no primeiro artigo, minha opinião é que o pastor arminiano realmente usou um péssimo argumento, sem se dar conta das implicações lógicas do mesmo. Longe de mim acusar o pastor de liberal – mas que certo aspecto de seu argumento é o mesmo da neo-ortodoxia, sem dúvida o é. E não apenas o argumento dele flerta com o liberalismo, o mesmo fazem todos aqueles que, com argumentos semelhantes, tentam salvá-lo. E repito: nenhum arminiano precisa disso, e aqueles que se apegam a tal, apenas demonstram quão frágil é sua teologia, a ponto de precisarem atacar a própria Escritura em sua defesa.

Quanto a deixar que o pastor arminiano se defenda, sou completamente a favor. No entanto, durante o debate, não ficou nenhuma dúvida sobre o que ele estava dizendo sobre os autores bíblicos terem feito afirmações erradas. Não importa quanto o site arminiano acuse o Pastor Graconato de ter tratado seu colega com falta de caridade, a verdade é que o calvinista o interrogou lá mesmo; acompanhe a transcrição que fiz:

Pastor Arminiano: “todas as coisas são “inadvertidamente” atribuídas a Ele, é por isso que nós vemos I Samuel 1 dizer lá que Deus “cerrou a madre de ana”... Como não tem ninguém para fazer isso, tudo é dito que Deus é quem faz, e por isso tudo a culpa é de Deus no Antigo Testamento, sobretudo no Antigo Testamento (…) tudo então acabava sendo atribuído a Deus”.

Pastor Calvinista: “Erradamente?”

Pastor Arminiano: ““Erradamente, sem dúvida alguma! Porque Deus não tem a culpa de tudo isso!”.

Onde está a falta de caridade? Para ter certeza de que entendia corretamente o argumento do arminiano, o pastor calvinista torna a pergunta ainda mais específica (como se precisasse):

Pastor Calvinista: “Erros no Antigo Testamento?”

Pastor Arminiano: “Não! Erros na visão teológica de muitos autores bíblicos... nem tudo que a Bíblia narra ela aprova”.

Aqui temos uma boa notícia, e uma má. A boa é que o pastor, de fato, não deve ser acusado de ser um liberal, e neste site jamais o acusamos de tal coisa. A notícia ruim é que, apesar de acreditar que o Antigo Testamento não erra, seu argumento diz exatamente o contrário: o Antigo Testamento errou! Atentem para o eufemismo utilizado pelo pastor arminiano: “Erros na visão teológica de muitos autores bíblicos”. Ora, mas onde é que o pastor leu essa visão teológica errada dos tais autores bíblicos? Foi no Corão? Foi no livro dos Vedas? Foi no Livro de Mórmon? Claro que não! Certamente foi na Bíblia, logo, a Bíblia registrou uma teologia errada, transmitida aos povo de Israel como Palavra de Deus – logo, a Bíblia errou! Pior do que isso: errou e mentiu, porque, segundo o argumento, aquilo não era Palavra de Deus, e sim palavra de homens com uma teologia equivocada.

O mais assustador é a aparente incapacidade de lidar com conceitos teológicos distintos, ainda que relacionados. Vamos demonstrar essa aparente incapacidade de modo breve, antes de encerrarmos:

1) Tanto o pastor arminiano quanto seus defensores, argumentam, por exemplo, que “nem tudo que a Bíblia narra ela aprova”. Isso é verdade! Quando a Bíblia diz que “A” matou “B” não significa que ela aprova o assassinato. Quando a Bíblia diz que “C” estuprou “D” não significa que ela aprova aquela violação. Por exemplo, a Bíblia narra que os habitantes de Sodoma queriam ter relações sexuais os dois anjos que visitam Ló. Ela narra. Não diz que é bom. Mas isso não quer dizer que exista erro na narrativa, ou uma visão teológica “inadvertida” nela, ou em qualquer outra.

2) Tanto o pastor arminiano quanto seus defensores argumentam, ainda, que a Revelação Bíblica foi progressiva. Foi mesmo. Até chegar o Novo Testamento o conceito claro de Trindade, por exemplo, era desconhecido. Mas, quando foi que os autores do Antigo Testamento falaram contra a Trindade? Quando foi que os autores do Antigo Testamento negaram a Trindade? Quando foi que os autores do Antigo Testamento contradisseram o que o Novo Testamento revelou sobre a Trindade? Sim, eles falaram incompletamente, mas nunca contraditoriamente oufalsamente. É verdade que eles não viram a Trindade, mas é igualmente verdadeiro que tudo o que eles viram sobre Deus era a Verdade!

Por outro lado, querem nos convencer que eles viram erradoentenderam errado, e ainda nos transmitiram seus conceitos errados sob o nome de Palavra de Deus? Mas, quando confrontados, gritam “não! Não é isso!”, como se esses conceitos errados eles tivessem encontrados nos livros da Sra. White! Confundindo completamente os próprios conceitos teológicos dos quais se valem em sua defesa, tentam construiu uma apologética – absolutamente desnecessária para sua causa – através de um amontoado de eufemismos.


Não é objeito dessa polêmica aqui no Olhar Anglicano convidar quem quer que seja a abraçar, ou rejeitar, esta ou aquela visão soteriológica. Nossa única preocupação é dizer: não, meus amigos, a Bíblia nunca erra; toda ele é a perfeita Palavra de Deus! É isso que nós, anglicanos reformados, defenderemos, contra os teólogos liberais, ou contra aqueles que, ainda que sem a intenção, flertam com qualquer tipo de ataque as Escrituras."


Nota MCA: Compartilho plenamente da visão do Rev. Marcelo Lemos. E para mais esclarecimenteos sobre o uso que estão fazendo do termo "revelação progressiva" segue o que outro anglicano Reformado, J. I. Packer, ensinou: 

"Visto que o Novo Testamento representa dessa maneira um avanço sobre o Antigo, não podemos falar de revelação como progressiva? Tudo depende do que queremos dizer com “progressiva”. Se o nosso significado é simplesmente que os pronunciamentos de Deus no Antigo Testamento, embora diversos, contribuíram todos de um modo ou de outro para se desenvolvimento, para a vinda do seu Filho, a palavra é bastante aceitável. Mas grande parte da teologia liberal tem usado a palavra para expressar a ideia de que a história da revelação é realmente a história de como os pensamentos de Israel evoluíram, iniciando com algo muito grosseiro (um deus da guerra tribal) por meio de algo mais refinado (um criador moral) para a concepção de Deus ensinada por Jesus (um pai amoroso); e colocou a ideia de maneira tal que implica os cristãos não precisam se preocupar com o Antigo Testamento de modo algum, visto que toda a verdade do ponto de vista de Deus pode ser aprendida no Novo Testamento e todo o restante do que é dito sobre ela é mais ou menos falso. Mas isso não é assim. Deus estava certamente ampliando o conhecimento do povo mediante do povo sobre ele, mediante o processo revelatório, mas a ideia de que o que foi revelado contradiz e cancela o que foi revelado antes, é errada. Foi essa ideia que levou um amplo descaso com o Antigo Testamento. A revelação do Novo Testamento repousa em cada um de seus pontos no Antigo e seus fundamentos, e remover a fundação, uma vez que a superestrutura está no seu devido lugar, é a melhor maneira de deslocar a própria superestrutura. As pessoas que negligenciam o Antigo Testamento jamais poderão entender muito o Novo. Quando, portanto, a frase, “revelação progressiva” é usada coo etiqueta pra esse mito de desenvolvimento religioso evolucionário e, consequentemente, como uma justificação pra desconsiderar o Antigo Testamento, ela é falsa, e visto que a palavra “progressiva” tem sido forçada nesse sentido com muita frequência, é melhor abster-se de usá-la – simplesmente para evitar a confusão – quando for fazer uma colocação sobre a posição bíblica. A crença de que a revelação posterior, longe de se encontrar em conflito com a que foi antes, a pressupõe e a desenvolve a cada período, é mais bem expressa ao denominar o processo revelatório de “cumulativo” em vez de “progressivo”. (Havendo Deus Falado, p.83,84)."

terça-feira, 3 de março de 2015

A crença em Ellen White - foi um desvio ou uma consequência?

Os cristãos não fazem ideia da importância nevrálgica que o nome e os escritos da senhora Ellen White tem sobre a fé e espiritualidade adventista. É bem verdade, como temos constatado, que adventistas pesquisadores e imparciais não creem mais nela, tal como se apresentam em suas crenças e publicações oficiais. Graças a Deus por isso. Esses já reconhecem que Ellen White é um mito, uma lenda. E acreditar nela, tal como “espírito de profecia” é o mesmo de crer em Joseph Smith ou no Reverendo Moo.

O espírito interno pode ser visto no que um autor adventista escreveu, dado a doutrina de 1844, ele considera Ellen White assim:


 “[...] nunca mais questionei Ellen White como profetisa; em vez disso, minha confiança na verdade de 1844 permitiu-me vê-la como um dos maiores profetas que já existiram!” (C. Goldstein. 1844: uma explicação simples das principais profecias de Daniel, p.12 [grifo meu]).

No livro Em Busca de Identidade, o historia dor adventista George Knight faz reconhecimentos sinceros de várias questões que envolveram o adventismo. Só precisamos dizer que reconhecer não anula as implicações que prejudicam inteiramente a bandeira adventista de ser a “igreja remanescente”. Sabendo dessas implicações, já vi dois adventistas nas redes sociais negando as informações de G. Knight, como não sendo de alguma forma representação final da questão para tal julgamento.

Tenho várias anotações de aspectos esse livro que soam como um reconhecimento fatal. E gostaria de explorar uma delas nessa postagem. No fim do 4º capítulo do livro, o professor da Andrews mostra alguns erros cometidos por vários adventistas pioneiros, especialmente no desenvolvimento de algumas doutrinas. Algo chama atenção na página 90. Leia atentamente:

“Uma quarta tendência deu um papel mais destacado aos escritos de Ellen White na explicação das questões. Nas primeiras três décadas e meia de existência da Review, por exemplo, seus editores haviam respondido regularmente às perguntas a eles dirigidas com base unicamente na Bíblia. Isso começou a mudar a partir da década de 1880, quando pela primeira vez passaram a referir-se ao que Ellen White havia escrito sobre assuntos bíblicos [...] A prática aumentaria com o passar do tempo, à medida que a jovem igreja se afastaria de suas raízes. [grifo meu].

Até então, a IASD não possuía nenhum conjunto de crenças oficiais. O pioneiro adventista ariano U. Smith, havia escrito uma declaração de fé em 1872, mas sem alguma aprovação abrangente. Outra declaração de crenças foi escrita em 1931, a qual foi formalmente aprovada apenas na década de 40. Por fim, uma declaração preparada e aprovada por uma Assembleia Geral foi realizada em 1980 em Dallas.

Se segundo Knight, a crença em usar os escritos de Ellen White, como autoridade foi aumentando a partir de 1880, podemos perceber que essa tendência não parou. Bom destacar que internamente a visionária Ellen White já influenciava fortemente com suas visões, mesmo antes de 1880. Mas seu marido semiariano era mantinha sua postura de líder, não apenas em casa. Após a morte de Tiago White, portanto, recorrer a autoridade dela foi apenas um resultado obvio de quem era inspirada!

Compare abaixo a crença a respeito em torno de Ellen White na declaração de 1931 com a declaração de 1980 [lembrando que em 2005 houve um acréscimo em outro tópico].

Crença 19 em 1931
Crença 17 e 18 de 1980 versão 2005
“Deus pôs em Sua igreja os dons do Espírito Santo, enumerados em 1 Coríntios 12 e Efésios 4. Esses dons atuam em harmonia com os divinos princípios da Bíblia, e são dados para o aperfeiçoamento dos santos, a obra do ministério, a edificação do corpo de Cristo(Ap 12:17; 19:10;1 Co 1:5-7). O dom do Espírito de Profecia é um dos sinais que identificam a igreja remanescente (1Co 1:5,7; 12.1,28;Ap 12.17;19:10; Am 3.7; Os 12.10,13). Esse dom se manifestou na vida e no ministério de Ellen G. White.”

[As citações aqui foram extraídas dos livros Questões sobre Doutrina, e Nisto Cremos.]
Crença 17: “Deus concede a todos os membros de Sua Igreja, em todas as épocas, dons espirituais que cada membro deve empregar em amoroso ministério para o bem comum da Igreja e da humanidade. Sendo outorgados pela atuação do Espírito Santo, o qual distribui a cada membro como Lhe apraz, os dons provêem todas as aptidões e ministérios de que a Igreja necessita para cumprir suas funções divinamente ordenadas. De acordo com as Escrituras, esses dons abrangem tais
ministérios como a fé, cura, profecia, proclamação, ensino, administração, reconciliação, compaixão, e serviço abnegado e caridade para ajuda e animação das pessoas. Alguns membros são chamados por Deus e dotados pelo Espírito para funções reconhecidas pela Igreja em ministérios pastorais, evangelísticos, apostólicos e de ensino especialmente necessários para habilitar os membros para o serviço, edificar a igreja com vistas à maturidade espiritual e promover a unidade da fé e do conhecimento de Deus. Quando os membros utilizam esses dons espirituais como fiéis despenseiros da multiforme graça de Deus, a Igreja é protegida contra a influência demolidora de falsas doutrinas, tem um crescimento que provém de Deus e é edificada na fé e no amor.”
Crença 18: Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Esse dom é uma característica da igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do senhor, seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. Eles tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser provado todo ensino e experiência.”

Percebemos que a Crença Fundamental 19 de 1931 foi expandida em duas crenças oficiais. O volume explicativo também aumentou consideravelmente de ambas as crenças. Mas o que fica evidente é que, se George Knight afirmou que a confiança em Ellen White foi um afastamento das raízes adventistas lá em meados de 1880, poderíamos inferir que a presença marcante da crença nela nas declarações oficiais é uma demonstração deste continuo afastamento e que a Igreja Adventista do Sétimo Dia seria corretamente chamada de Igreja de Ellen White?

O semi-ariano, marido da profetisa, o pioneiro e co-fundador adventista, Tiago White, afirmou que a crença nos ministérios de Ellen White não devia ser “uma prova de comunhão cristã.” (Review and Herald, 13 de junho de 1871,p. 205, citado em Questões sobre Doutrina, p. 103). Outro ariano, intelectual pioneiro adventista, afirmou a mesma coisa afirma que crer em Dona White não é “uma prova de caráter cristão” (Review and Herald, 15 de fevereiro de 1870, citado em Questões sobre Doutrina, p. 103 ).

Interessante é que no Manual da Igreja, no voto batismal está incluso a crença nos postulados adventistas, que incluem, a crença em Ellen White. Percebendo assim uma ambivalência entre o que se diz que se faz, e o que se faz de fato (As citações são do Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, páginas 48 e 49. Os grifos foram acrescentados).

“8. Aceita o ensino bíblico dos dons espirituais e crê que o dom de profecia é um dos sinais de identificação da igreja remanescente?”
“11. Conhece e compreende os princípios bíblicos fundamentais como ensinados pela Igreja Adventista do Sétimo Dia? É seu propósito, pela graça de Deus, cumprir Sua vontade ordenando sua vida em harmonia com esses princípios?”
“13. Aceita e crê que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a igreja remanescente da profecia bíblica e que pessoas de toda nação, raça e língua são convidadas a fazer parte de sua comunhão e são nela aceitas? Deseja ser membro desta congregação local da Igreja mundial?”

Depois o mesmo Manual apresenta um voto alternativo, mas com o mesmo teor:

“2. Aceita os ensinamentos da Bíblia tais como expressos na Declaração de Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia e se compromete, pela graça de Deus, a viver em harmonia com esses ensinos?”

Depois o Manual afirma:

“Aliança Batismal – A Igreja adotou suas vinte e oito Crenças Fundamentais, juntamente com o Voto Batismal e o Certificado de Batismo e Compromisso, como uma aliança batismal. Uma cópia impressa dessa aliança, com o Certificado de Batismo e Compromisso devidamente preenchido, será entregue a todos os que forem aceitos na comunhão da igreja mediante o batismo. Um certificado apropriado também será entregue àqueles que forem aceitos por profissão de fé.”

Não é fato de a seita ter ou não direito de exigir a crença de seus membros em Ellen White, como explicaram o autores dissimulados do Questões Sobre Doutrina. O ponto é que é a esse fato em si que temos chamado a atenção. Se isso não incorre em sectarismo, misticismo em torno de ‘homens’, ou é uma crença mesmo a suficiência da Escritura? E lavando em consideração o que G. Knight disse, e obvio ele não concordaria com a minha conclusão, por isso ele continua adventista, apesar de tudo que confessa - não seria o caso que o Adventismo foi mais longe das verdade bíblicas com o passar do tempo?


Se essa religião não atacasse a doutrina da trindade nos seus primórdios, provavelmente teria uma chance de ser conduzida ao caminho da luz. Mas deixou-se levar por blasfemadores e sonhos ‘intermináveis’ de uma mulher que sofria moléstias mentais, acabou no que estamos vendo – uma seita. Misturaram com as sagradas letras, ensinos heréticos e imaginações ilimitadas (II Tm 3.15-17).