quinta-feira, 31 de março de 2016

Ao Prof. Paulo Cristiano - sobre Leandro Quadros...

Prezado irmão, Presbítero e Professor Paulo Cristiano, li recentemente a polêmica do debate que envolve artigos escritos pelo sr. e a resposta de Leandro Quadros em uma revista. A respeito do conteúdo, que por hora aguardo os desdobramentos das pesquisas, não emito opinião – tenho divergências de ambos os lados. O que eu fiquei impressionado, porém, foi com a resposta pedante de Leandro Quadros. Ele de fato se sente o cavaleiro templário do adventismo brasileiro. Veja uma parte de um e-mail que ele enviou ao reverendo Ageu, a respeito de minha palestra no JMC, e depois compare com que ele disse ao irmão:

“... divulgarei a resposta com citações para os milhares telespectadores que tenho – e que já conhecem o uso que ele faz de tais fontes. Pena que, desse modo, a Instituição também será envergonhada, pois, postou o referido vídeo e julgou o uso das fontes como ‘apropriado’.”

Constatei o mesmo furor pedante quando enviou o e-mail ao irmão, contendo essa parte:

“Foram anos de ataques de vossa parte à teologia adventista. Está chegando o dia em que todos os internautas, telespectadores e ouvintes sinceros porão em dúvida vosso conhecimento sobre o adventismo. Talvez essa seja a maneira de Deus quebrar vosso orgulho (assim como quebrou o meu em certos momentos) para vossa própria salvação.” (e-mail no site do CACP).


Prezado Presbítero, Leandro Quadros descansa no poder da mídia e de uma plateia fiel. Isso dá poder! Percebemos isso... Ainda que eu possa discordar da abordagem do CACP, ou mesmo de sua identidade dispensacionalista moderada – (o CACP não é antinomista), percebo que Leandro Quadros faz tudo o que acusa, mas com o poder da mídia, ele sempre saí como vencedor aos seus torcedores. 

Gostaria de dizer apenas duas coisas a respeito do que Leandro Quadros sempre acusa. A citação fora de contexto, e a síndrome de perseguição.

A) CITAÇÃO FORA DE CONTEXTO: Leandro Quadros sempre cita duas partes do livro O Grande Conflito para provar que para Ellen White há crentes em todas as outras igrejas cristãs, desta maneira, eles não seriam exclusivistas. As citações são essas:

1“E em que corporações religiosas se encontrará hoje a maior parte dos seguidores de Cristo? Sem dúvida, nas várias igrejas que professam a fé protestante.”

2 ““Mas os cristãos das gerações passadas observaram o domingo, supondo que em assim fazendo estavam a guardar o sábado bíblico; e hoje existem verdadeiros cristãos em todas as igrejas, não excetuando a comunhão católica romana, que creem sinceramente ser o domingo o dia de repouso divinamente instituído. Deus aceita a sinceridade de propósito de tais pessoas e sua integridade.”

Porém, vejamos a citação selecionada por Leandro Quadros, quando se coloca como ‘bom vizinho dos evangélicos’. Veja dentro do contexto no livro de Ellen White:

“A mensagem de Apocalipse 14, anunciando a queda de Babilônia, deve aplicar-se às organizações religiosas que se corromperam. Visto que esta mensagem se segue à advertência acerca do juízo, deve ser proclamada nos últimos dias; portanto, não se refere apenas à Igreja de Roma, pois que esta igreja tem estado em condição decaída há muitos séculos. Demais, no capítulo 18 do Apocalipse, o povo de Deus é convidado a sair de Babilônia. De acordo com esta passagem, muitos do povo de Deus ainda devem estar em Babilônia. E em que corporações religiosas se encontrará hoje a maior parte dos seguidores de Cristo? Sem dúvida, nas várias igrejas que professam a fé protestante. Ao tempo em que surgiram, assumiram estas uma nobre posição no tocante a Deus e à verdade, e Sua bênção com elas estava. Mesmo o mundo incrédulo foi constrangido a reconhecer os benéficos resultados que se seguiam à aceitação dos princípios do evangelho. Nas palavras do profeta a Israel: "E correu a tua fama entre as nações, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da Minha glória que Eu tinha posto sobre ti, diz o Senhor Jeová." Ezeq. 16:14. Caíram, porém, pelo mesmo desejo que foi a maldição e ruína de Israel - o desejo de imitar as práticas dos ímpios e buscar-lhes a amizade. "Confiaste na tua formosura, e te corrompeste por causa da tua fama." Ezeq. 16:15. Muitas das igrejas protestantes estão seguindo o exemplo de Roma na iníqua aliança com os "reis da Terra": igrejas do Estado, mediante suas relações com os governos seculares; e outras denominações, pela procura do favor do mundo. E o termo "Babilônia" - confusão - pode apropriadamente aplicar-se a estas corporações; todas professam derivar suas doutrinas da Escritura Sagrada, e, no entanto, estão divididas em quase inúmeras seitas, com credos e teorias grandemente contraditórios.” (O Grande Conflito, 383).

“Mas os cristãos das gerações passadas observaram o domingo, supondo que em assim fazendo estavam a guardar o sábado bíblico; e hoje existem verdadeiros cristãos em todas as igrejas, não excetuando a comunhão católica romana, que creem sinceramente ser o domingo o dia de repouso divinamente instituído. Deus aceita a sinceridade de propósito de tais pessoas e sua integridade. Quando, porém, a observância do domingo for imposta por lei, e o mundo for esclarecido relativamente à obrigação do verdadeiro sábado, quem então transgredir o mandamento de Deus para obedecer a um preceito que não tem maior autoridade que a de Roma, honrará desta maneira ao papado mais do que a Deus. Prestará homenagem a Roma, e ao poder que impõe a instituição que Roma ordenou. Adorará a besta e a sua imagem. Ao rejeitarem os homens a instituição que Deus declarou ser o sinal de Sua autoridade, e honrarem em seu lugar a que Roma escolheu como sinal de sua supremacia, aceitarão, de fato, o sinal de fidelidade para com Roma - "o sinal da besta". E somente depois que esta situação esteja assim plenamente exposta perante o povo, e este seja levado a optar entre os mandamentos de Deus e os dos homens, é que, então, aqueles que continuam a transgredir hão de receber "o sinal da besta". (O Grande Conflito, p.449).

Percebe-se claramente que se Leandro Quadros ouvisse o Leandro Quadros, ele acusaria Leandro Quadros de citar Ellen White fora do contexto! Imagino Presbítero Paulo, se fosse nós que fizéssemos essa citação, assim ‘recortada’... o que ele diria?

B) PERSEGUIDOS: Achei também interessante quando Leandro Quadros disse:

“Foram anos de ataques de vossa parte à teologia adventista. Está chegando o dia em que todos os internautas, telespectadores e ouvintes sinceros porão em dúvida vosso conhecimento sobre o adventismo.”

Aqui sentimos o cheiro de sangue do cavaleiro templário... o Vingador à serviço da causa adventista. Pois bem, quem que há mais de um século diz que somos filhos de Babilônia? Quem tem ensinado que a imortalidade da alma pregado em nossas igrejas é doutrina do diabo? Quem é que disse que o domingo foi colocado pelo diabo na igreja cristã? Quem hoje classifica a doutrina ortodoxa da Trindade de filosófica e herética e não bíblica e que apenas as visões de Ellen White deram uma doutrina correta da Trindade?

Sim são eles... e fazem isso há décadas! Agora, por que alguns têm apresentado críticas ao adventismo, ele se sente perseguido injustamente?

Poxa vida Presbítero Paulo, já ia me esquecendo de provar isso que eu disse, se não ele vai dizer que eu disse bobagens fora do contexto. Portanto, para satisfazer o grande, super, mega,  apologista da TV Novo Tempo, ‘o Titã’ ( nas palavras do apresentador Tito), eis as provas:

“As igrejas denominacionais caídas é que são Babilônia. Babilônia tem estado a promover doutrinas venenosas, o vinho do erro. Esse vinho do erro e composto de doutrinas falsas, tais como a imortalidade natural da alma, o tormento eterno dos ímpios, a negação da existência de Cristo antes de Seu nascimento em Belém*, a defesa e exaltação do primeiro dia da semana acima do santo e santificado dia de Deus. Estes erros e outros semelhantes são apresentados ao mundo pelas varias igrejas, e assim se cumprem as Escrituras que dizem: ‘Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição.’ E uma ira criada por doutrinas falsas, e quando reis e presidentes sorvem esse vinho da ira da sua prostituição, enchem-se de ódio contra os que não concordam com as heresias falsas e satânicas que exaltam o sábado falso, e levam os homens a pisarem a pés o monumento de Deus.” (A Igreja Remanescente, p.51[*concordamos nesse ponto]).

“Não podemos adotar outro nome mais apropriado do que esse que concorda com a nossa profissão, exprime a nossa fé e nos caracteriza como povo peculiar. O nome Adventista do Sétimo Dia e uma continua exprobração ao mundo protestante. E aqui que esta a linha divisória entre os que adoram a Deus e os que adoram a besta e recebem seu sinal.” (A Igreja Remanescente, p. 58).

“[...] a declaração da serpente a Eva, no Éden – “certamente não morrereis” – foi o primeiro sermão pregado acerca da imortalidade da alma. Todavia, esta assertiva, repousando apenas na autoridade de Satanás, ecoa dos púlpitos da cristandade, e é recebida pela maior parte da humanidade tão facilmente como o foi a nossos primeiros pais.” (O Grande Conflito, p. 539).

Satanás promoveu a mudança do dia do repouso com a esperança de levar a cabo seu propósito de frustrar os plenos de Deus [...] Os que renunciam à verdade de origem celestial e aceitam o domingo como dia de repouso receberão a marca da besta.”[...] Os homens honram os princípios de Satanás acima dos princípios que regem os céus; aceitaram o falso dia de repouso que Satanás exaltou com o sinal de sua autoridade.” (Citado em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 984; 985).

Com respeito ao que pensam e dizem a respeito da Trindade clássica, você pode ler meu artigo a respeito disso AQUI.

Por último, já que houve menção, preciso ser honesto com minha consciência. Discordo da maneira que o Pr. João Flávio Martinez do CACP, tratou o nosso irmão Fernando Gali quando este mudou de posicionamento a respeito do adventismo. Crer que o adventismo é cristão é algo que temos vistos em muitos apologistas. Oro para que Deus mova o CACP para que algum dia apresente um pedido de desculpas a esse irmão que sempre serviu e servirá a causa do Mestre em nosso país. De igual maneira, espero que ele, Fernando Gali, não caia nas investidas de marketing de Leandro Quadros, e venha de algum modo estar do lado dele em qualquer empreendimento.

Presbítero Paulo Cristiano, não se incomode muito com Leandro Quadros, ele tem poder financeiro, revertido em mídia. Mas aos que de fato se interessarem por ler tudo, sabemos que Deus estará sempre promovendo a Sua Verdade (Jo 17.17).

De seu irmão em Cristo, na causa apologética

Luciano Sena

quarta-feira, 30 de março de 2016

Bases fundamentais da Fé Reformada

Infelizmente alguns têm confundido a crença nos cinco pontos do calvinismo como sendo a fé reformada. Quero dizer que todo Reformado é calvinista, mas nem todo calvinista é Reformado. Reformado tem que subscrever algum documento confessional de alguma igreja reformada, que cobre a fé reformada em sua totalidade, que vai além das chamadas doutrinas da graça. Além disso, algumas pessoas só porque leem algum livro sobre os cinco pontos, já se acham que estão habilitadas a se identificarem como Reformadas.  Mais arriscado ainda é quando igrejas decidem incluir exposição da fé reformada com pessoas pouco habilitadas para tal.

O conjunto das doutrinas da fé reformada possui Teontologia, Revelação, Epistemologia, Eclesiologia, Escatologia, doutrina Aliancista, entre outras. Mesmo os cinco pontos não podem ser classificados como sendo matéria apenas da Soteriologia (nos cinco pontos temos a doutrina dos Decretos, Harmatologia e Pneumatologia). Portanto, tomemos cuidado com esse reducionismo, quando muitos se dizem Reformados, mas na verdade são apenas calvinistas de cinco pontos.

Pretendo ser breve e didático na exposição daquilo que creio que sejam as bases norteadoras de toda a fé reformada.

1.  A Suficiência da Escritura Sagrada. A Bíblia é a inerrante, infalível e inspirada Palavra de Deus (Jo 17.17; Is 55.6; II Tm 3.16). Portanto, temos um documento suficiente para edificação e salvação. Qualquer outra fonte de revelação deve ser rejeitada por um autêntico reformado, pois a Escritura já é completa (II Tm 3.17). Qualquer tradição religiosa que não decorre da Escritura não deve ser encarada como norma de fé (I Te 2.13). As seitas como o mormonismo, adventismo – com suas fontes ‘inspiradas’, e de  outra forma o jeovismo e o romanismo – com seus lideres como sendo ‘canais’ de Deus, é inconsistente com a autoridade e suficiência da Escritura.  O pentecostalismo (leigo), virtualmente na suas praxes litúrgicas tem sido responsável pelas mais bizarras heresias. Apesar de que seus representantes não colocarem essas revelações como normas de fé e prática, portanto, diferente das seitas citadas, em essência, porém, o pentecostalismo é inconsistente com a doutrina da suficiência da Escritura, conforme pensa a fé Fé Reformada.

2. Deus inquestionavelmente Soberano. Um Reformado não pensa como os arminianos modernos e teístas abertos, que classificam as ações soberanas, (conforme lidas na perspectiva bíblico reformada) de Deus como injustas ou más (Rm 9.19-24). Para um Reformado quando Deus pune, ele é tão bom e justo quanto quando perdoa (Rm 3.5-8, 19-26). Nenhuma ação ou permissão de Deus o qualifica ou desqualifica-o. Ele é que qualifica suas ações. Sendo Santo tudo que faz, por definição é santo. Seu domínio soberano afasta-nos de qualquer dualismo, e sua santa providencia destrói qualquer “acaso”. Nos dizeres Bíblicos ‘Ele É, o que É, ele mata e faz viver, ele fere e cura, e ninguém escapa de suas mãos’ (Dt 32.39). Apesar de reconhecer o grande valor humano, e valorizá-lo como tal, o Reformado nunca pressionará a interpretações bíblicas à partir dos sentimentos humanistas como fazem os arminianos, pelagianos, semi-pelagianos, ateus e espíritas.

3. Deus é Um e Três. A crença na Trindade e na Unidade Divina é firmada e respaldada na Escritura Sagrada (Mt 28.19), aceita, definida, e defendida pelos credos cristãos históricos. Esse é o DEUS do cristão reformado. Não confunde e nem diminui as pessoas divinas, nem divide a única (numérica) substância da divindade (Jo 10.30; Hb 1.3). Fora disso não existe Deus, mas ídolos produzidos pelo homem herético. Tudo que é dito de Deus ontologicamente, só pode ser dito do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e enquanto economicamente, cada pessoa tem suas funções bem como propriedades que os distingue (II Co 13.13). O Modalismo/Unicista do Tabernáculo da Fé, o Unitarismo, o Henoteísmo das Testemunhas de Jeová, Tristeísmo – quer seja o triteísmo pessoal mórmon ou o ontológico adventista, não são bíblicos.

4. O homem é uma criatura depravada. A crença autêntica Reformada não faz concessão com o evolucionismo (Gn 1.1,26,27). É uma negação da Fé Reformada achar que teístas evolucionistas são Reformados. No Brasil e no mundo, a grande capacidade teológica e histórica de certos autores, seduziu muitos reformados e eles fecham os olhos para esse descompasso com a Fé Reformada. Fomos criados por Deus (Mt 19.4) segundo à sua imagem (Gn 9.6) para um propósito (Ec 12.13,14) nos tornando seres impares, capazes de amar, planejar, sendo sociáveis, ansiamos por significado e utilidade, racionais, constituímos família com base no amor, para procriação e cuidado. Não somos produto do acaso, nem de evolução ocasionada.

Por outro lado, somos pecadores, totalmente depravados. Os arminianos creem na depravação total, mas são inconsistente com ela por causa da falsa doutrina da graça preveniente, que não regenera – mas [ironicamente], irresistivelmente, capacita o depravado. Para o Reformado a depravação total não é apenas uma incapacidade salvífica (Ef 2.1; I Co 2.14), mas também e igualmente, uma potencialização de nossa inimizade com Deus (Rm 5.10). Nossa natureza rejeita a Deus, se irrita com ele, foge Dele (Gn 3.10) sempre resiste a Ele(Mt 23.37; At 7.51; Rm 3.10-18). Nossa crença da Queda, do pecado original, deve ser considerada pela  hereditariedade (Rm 5.12) e sua culpa pela imputação (Rm 8.20). A representação federal de Adão (e Eva), leva-nos a crer que o que o que eles fizeram era exatamente o que qualquer um de nós faríamos se estivéssemos em sua lugar. Não há entre os filhos de Adão um inculpável.

5. A salvação é uma obra eterna de Deus. O Reformado vê a salvação como obra exclusiva do Deus Trino, planejada na eternidade e como tal, executada e mantida por Ele (Ef 1.3-14). Nenhuma pessoa se achegaria a Cristo se isso não fosse realizado por Deus Pai (Jo 6.44). Nenhuma pessoa saberia quem é Deus Pai se o Filho não o revelasse (Mt 11.27). Nenhuma pessoa saberia quem é Deus se o Espírito Santo não o revelasse efetivamente (I Co 2.10-16). Ninguém poderia confessar a fé no Senhorio de Cristo, se não fosse isso dom do Espírito Santo (I Co 12.3, compare com M 7.21-23). Mesmo a fé sendo dom Deus, ela só é corretamente exercida na orientação de Deus (At 16.14). Nenhum eleito seria santo sem a obra santificadora do Espírito Santo. Deus escolheu entre a humanidade pecadora, caída, que o rejeitou o Édem, pela morte de Cristo os justificou (Is 53. 11), que são chamados assim Eleitos. Os demais, por causa de sua ‘negligencia e desprezo voluntário da graça que é oferecida, são justamente deixados na sua incredulidade e nunca se chegam sinceramente a Jesus Cristo.’


6. A glória de Deus. Por último, para o Reformado, a glória de Deus é a causa de tudo que existe. Deus criou tudo para sua glória (Ap 4.11). Sabemos que a obra do Filho era a salvação dos que iriam crer (Jo 3.16,36), mas essa também tinha por alvo a glória de Deus. Essa foi a preocupação de Jesus: Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.”(João 13:31,32).  Todo seu juízo, todo seu amor, toda sua bondade, o céu e o inferno, perdão e punição, ações e permissões, tudo e qualquer coisa que veio e virá ocorrer, por fim, redundará na glória de Deus na manifestação de seus atributos. O principal texto bíblico para o Reformado é Romanos 11.36: Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. Devemos desejar a Deus, estimá-lo, honrar seu nome, obedecê-lo em tudo, temer de ofender seu coração, portanto, nos dizeres no Senhor Jesus: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.” (Mc 12.30).


sábado, 19 de março de 2016

Como ser um bom aluno na EBD?


Na atividade pedagógica da igreja, muitas pessoas apreciam um mestre capaz, quer seja nas aulas, quer seja na pregação. De fato, quem ensina, faz muita diferença. A Bíblia diz que quem ensina deve fazer isso com esmero, com dedicação (Rm 12.7). A marca do ensino de Jesus foi seu ensino eficaz, simples e com poder (Mt 7.29). Existem vários princípios bíblicos que nos orienta para um ensino com qualidade e eficaz. Porém, não é sobre quem ensina que quero tratar aqui, mas a respeito de quem aprende. Em muitos casos, quem está aprendendo não aprendeu a aprender, e isso, faz uma enorme diferença também. Às vezes criticamos os professores, mas também podemos ser péssimos alunos. Perceba que a Bíblia repetidas vezes afirma “quem tem ouvidos ouça”:

“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Mateus 11:15 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Mateus 13:9 Se alguém tem ouvidos, ouça. Apocalipse 13:9 E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Marcos 4:9 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. Marcos 4:23Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. Marcos 7:16 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Apocalipse 2:29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Apocalipse 3:6 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Apocalipse 3:13 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Apocalipse 3:22 Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.Lucas 16:29 Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Mateus 13:43 por isso te rogo que me ouças com paciência. Atos 26:3 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas Apocalipse 2:11 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Lucas 14:35 Escutai vós, pois, a parábola do semeador. Mateus 13:18

“Ouça!!!” Não é apenas uma referência do processo de audição, mas uma advertência que aqui é o exercício da obediência,  de como temos recebido a ordem, o ensino, e isso, só será possível se prestarmos atenção naquilo que aprendemos, portanto, em como aprendemos.  Os teólogos de Westminster sintetizaram bem a perspectiva do aprendizado, na pergunta e resposta do Catecismo Maior:

“Que se exige dos que ouvem a Palavra pregada? “Exige-se dos que ouvem a Palavra pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração; que comparem com as Escrituras aquilo que ouvem; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e prontidão de espírito, como a Palavra de Deus; que meditem nela e conversem a seu respeito uns com os outros; que a escondam nos seus corações e produzam os devidos frutos em suas vidas.” Dt 6:6,7;Sl 84:1,2,4;119:11,18; Lc 8:18; I Pe 2:1,2; Ef 6:17,18; At 17:11; Hb 2:1;4:12; Tg 1:21.”

Elementos indicados para o bom aprendizado:

1.      diligencia – aprender envolve trabalho, esforço, dedicação, se viermos para a escola dominical ou para o culto, com a ideia de descansarmos, com atenção displicente, não aprenderemos nada efetivamente. Anotações breves pode nos auxiliar na diligencia.
2.      preparação – aqui envolve um interesse consciente. Descansar antes, e se desligar de interesses seculares. Nos livrar antecipadamente daquilo que pode atrapalhar nossa atenção, conversas durante a EBD, celular, levar apetrechos para o local de reunião, deixar as crianças de qualquer maneira, e se incomodar com coisas supérfluas.
3.      orar – interceder pela escola dominical, pelo sermão, pelos estudos, em nossas orações pessoais, pedir para que Deus capacite os professores, pregadores, e que nos capacite a aprender, orar por outros alunos, é algo que as pessoas não fazem, na maioria das vezes. Isso cria afinidade espiritual com esses recursos ordinários que Deus delegou como meios de graça.
4.      ler a escritura – no ensino da Noiva de Cristo, apenas a Sua carta é autoridade inspirada. Devemos ler os textos bíblicos mencionados no estudo, no sermão, e qualquer afirmação feita pelo professor, pregador, etc, deve ser comparada com as Sagradas Escrituras. A autoridade do pregador (e dos livros usados, revistas, nem dos símbolos de fé), não é inata a ele, mas atrelada à Palavra.
5.      "que recebam a Verdade com fé , de amor , mansidão e prontidão de espírito , Como a Palavra de Deus " – receber a instrução apresentada desta maneira, é o resultado esperado. Quem tem essa disposição, aprende melhor. Sem resistir, sem justificar, sem racionalizar, sem dirimir, sem aumentar, apenas receber com “o coração pronto e sincero” como dizia João Calvino.
6.      Meditar – pensarmos um pouco mais nas realidades bíblicas estudadas, pode nos aproximar de uma meditação bíblia mais salutar. Medite em como você reagiria se estivesse o lugar de Jó? Caso fosse Thiago ou João Batista? Se ao menos fosse um expectador à frente do túmulo de Lazaro?! Meditar nos relatos bíblicos é viver emocionalmente as situações ali, para que a nossa devoção pessoal seja aprimorada.
7.      Conversar a respeito – é muito triste ver nos corredores da igreja irmãos conversando apenas sobre futebol, filmes, novelas, política, passeio, diversão, trabalho, entre outros assuntos, e tão pouco a respeito do conteúdo tratado na EBD, no sermão, e do culto. Devemos continuar tendo interesse nisso em nossa comunhão cristã, especialmente no ambiente de culto, e do templo. Não que não conversaremos sobre outros assuntos, mas que não seja esses assuntos nossa prioridade.
8.      “que a escondam nos seus corações” – Na psicologia bíblica, o coração está ligado ao centro das motivações. Ele que determina nosas ações, na linguagem bíblica. Sendo, nessa perspectiva o centro de nossos desejosos. Fazer dele nosso baú, nde guardamos as coisas preciosas de Deus.
9.      “produzam os devidos frutos em suas vidas.” –Na perspectiva do Catecismo, ‘produzir frutos’, quando ouvimos a Palavra, é agir em conformidade com ela. Podemos até ser bons alunos na EBD, prestarmos atenção, anotarmos, nunca faltarmos, e ainda sim, sermos péssimos cristãos em nosso lar, em nosso ministério, no ambiente de trabalho e na escola. O processo educacional da Igreja, busca imprimir em nós o caráter de Cristo. Esse é o objetivo final.


“Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança da manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo.” (Tt 2.11-13).

terça-feira, 1 de março de 2016

Avaliação Teológica do “Neo-Trinitarianismo” Adventista

Avaliação Teológica do “Neo-Trinitarianismo” Adventista

Autor: Ev. Luciano Sena

INTRODUÇÃO
Esse texto tem por objetivo fazer uma apresentação e comparação da doutrina trinitariana adventista, com a doutrina cristã clássica, conforme biblicamente exposta nos credos cristãos ortodoxos. Conto que os leitores já tenham a noção cristã da trindade – se não, que façam antes de ler esse artigo, ou logo depois. Em uma obra teológica, ou mesmo, o Credo Atanasiano.

Dado a importância do tema, bem como toda a sua complexidade, ele necessariamente precisa ser extenso e minucioso. Deve ser dito que, apesar de que a doutrina da Trindade seja um assunto de consenso entre as igrejas cristãs protestantes e evangélicas (sejam elas arminianas, calvinistas, pentecostais ou independentes), o autor desse texto é um Cristão Reformado Confessional, membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, e escreverá com esse viés. Que Deus nos fortaleça na defesa da verdade (Dt 6.4,5; Mt 28.19; Jd 4).

Não apresentarei nesse artigo, nenhuma discussão de outras doutrinas da religião em mira, a não ser, os assuntos diretamente correlacionados, a divindade de Cristo e a personalidade do Espírito Santo. Outros temas, se necessário for, só serão mencionados. E mesmo a história que permeia o desenvolvimento da doutrina, não será explorada extensivamente. Esse artigo tem por objetivo central avaliar a doutrina trinitariana adventista, como hoje é explicada pelos seus teólogos.

Espero que esse texto mostre definitivamente, que não é possível compartilhar da comunhão cristã trinitariana, com essa religião. Ela deve continuar sendo considerada uma seita, soba perspectiva da principal doutrina cristã, isto é, a doutrina de Deus.

I. MUITOS ESTÃO ENGANADOS

Esse artigo se faz necessário, pois muitos acham que a doutrina da trindade é compartilhada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD).O renomado autor Reformado, Antony Hoekema, tendo em mãos as informações das doutrinas oficiais dessa igreja, afirmou:

A denominação [IASD] compartilha com os demais grupos evangélicos doutrinas como as da trindade, da divindade de Cristo, da obra expiatória de Cristo e de sua segunda vinda.” (Novo Dicionário de Teologia, p. 36 [grifo acrescentado]).1

Porém, esse mesmo escritor escreveu uma obra em inglês intitulada As Quatro Principais Seitas (1963), onde defende que o grupo é uma seita. No mesmo verbete no livro citado acima, ele afirma categoricamente que

“[...] a doutrina da igreja remanescente, que permanece como um ensino oficial adventista, parece tornar difícil, senão impossível, sua identificação com as correntes evangélicas.” (Ibidem, p. 37 [grifo acrescentado]).

Esse conceito de A. Hoekema a respeito da doutrina adventista da trindade, pode ser considerado representativo de muitos outros. Por qual motivo? Primeiro porque o documento oficial de doutrinas trás consigo uma afirmação clara da crença na trindade e suas explicações ali, parecem ser, satisfatórias.

“2. A Trindade. Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua auto-revelação. Para sempre é digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação. (Deut. 6:4; 29:29; Mat. 28:19; II Cor. 13:13; Efés. 4:4-6; I Pedro 1:2; I Tim. 1:17; Apoc. 14:6 e 7).
3. Deus Pai - Deus, O Eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação. Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se, e grande em constante amor e fidelidade. (Gên. 1:1; Apoc. 4:11; I Cor. 15:28; João 3:16; I João 4:8; I Tim. 1:17: Êxo. 34:6 e 7; João 14:9).
4. Deus Filho - Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo. Jesus sofreu e morreu na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Virá outra vez para o livramento final de Se um povo e a restauração de todas as coisas. (João 1:1-3 e 14; 5:22; Col. 1:15-19; João 10:30; 14:9; Rom. 5:18; 6:23; II Cor. 5:17-21; Lucas 1:35; Filip. 2:5-11; I Cor. 15:3 e 4; Heb. 2:9-18; 4:15; 7:25; 8:1 e 2; 9:28; João 14:1-3; I Ped. 2:21; Apoc. 22:20).
5. Deus Espírito Santo - Deus, o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram sensíveis, são renovados e transformados por Ele, à imagem de Deus. Concede dons espirituais à Igreja. (Gên. 1:1 e 2; Lucas 1:35; II Pedro 1:21; Lucas 4:18; Atos 10:38; II Cor. 3:18; Efés. 4:11 e 12; Atos 1:8; João 14:16-18 e 26; 15:26 e 27; 16:7-13; Rom. 1:1-4).”

Tendo como base esse documento oficial, muitos, como Hoekema, não tiveram outra alternativa, a não ser olhar para eles nesse ponto, infelizmente, como ortodoxos. Por outro lado, como provaremos mais adiante, não havia na época um desenvolvimento do que deveria ser a doutrina da trindade no arraial adventista.

E mesmo assim, deve ser dito que palavras escondem conceitos, e muitas vezes, os termos são usados com concepções não originais, revestidos do pensamento de um novo locutor.Apesar de existir essa aparente confissão trinitariana, que muitos podem até pensar que seria definitivo para guiar o pensamento doutrinário, um historiador adventista indica que isso foi resultados de mudanças,do que havia sido publicado:

Mudanças para o Adventismo Parecer Mais Cristão: [...] devemos observar que durante o período que vai de 1919 a 1950 houve também tentativas de tornar o adventismo mais cristão, especialmente durante a década de 1940. Essa década, por exemplo, testemunhou esforços da parte de alguns de “purificar” e fortalecer as publica adventistas. Três áreas ilustram essa tendência. A primeira diz respeito à Trindade [...].” (Em Busca de Identidade, pp.157, 159,161)

Veja como exemplo, que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os Mórmons, usa o termo “trindade”, porém, sabemos que as concepções não são em nada trinitarianas!

“Na Trindadehá três pessoas distintas: Deus, o Pai Eterno; seu Filho, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Cremos em cada um deles.” (Guia para Estudo das Escrituras, p. 211, Apêndice do “O Livro de Mórmon”[grifo acrescentado]).

Outra coisa que contribuiu para esse engano de achar que a IASD não seria uma seita, por causa desse assuntos, foram os fatos que envolveram a produção e publicação do polêmico livro adventista Questões Sobre Doutrinas (lançado em inglês em meados da década de 1950, e em português apenas 2008). Esse livro, resultado de conversas entre representantes adventistas e apologistas evangélicos, resultou em uma mudança de paradigma a respeito dos Adventistas do Sétimo Dia. Um apologista, o renomado Walter Martin, chegou à conclusão de que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma igreja cristã, com algumas doutrinas excêntricas. O livro informa a opinião de Donald Banhouse, companheiro de Martim, nas entrevistas, exposta em um periódico chamado Eternity, de setembro de 1956:

“Gostaria de dizer que nos deleitamos em fazer justiça a um grupo muito caluniado de crentes sinceros, e em nossa mente e coração tirá-los do grupo dos que são completamente heréticos, como as testemunhas de Jeová, mórmons e os cientistas cristãos, reconhecendo-os como irmãos redimidos e membros do corpo de Cristo.” (Questões Sobre Doutrina, p. 14).

Muitos não aderiram a essa propaganda, enfatizando outros problemas, bem como as intenções proselitistas dissimuladas dos representantes adventistas, além de que em muitos momentos do livro, a versão foi bem ‘minimizada’, conforme o próprio autor das notas da edição comemorativa reconhece2. Baalen afirma categoricamente:

“Este livro [Questões Sobre Doutrina] de 720 páginas contém grande quantidade de conversa dobre, concedendo com uma mão e tomando de novo com a outra.” (Caos das Seitas, p. 174).

Porém, em Questões os adventistas defenderam com firmeza a doutrina da trindade, e ainda mais, reafirmou um compromisso com os credos protestantes e clássicos a respeito da divindade:

“I EM HARMONIA COM OS CRISTÃOS CONSERVADORES E OS CREDOS PROTESTANTES HISTÓRICOS, CREMOS: [...] 2 Que a Divindade, a Trindade, compreende Deus o Pai, Cristo o Filho e o Espírito Santo.” ( Questões Sobre Doutrina, p. 50[grifos acrescentados).

Essa afirmação viria a ser, com o tempo, não mais endossada, se é que ela foi mesmo algum dia. Os autores desse livro, disseram sobre os pioneiros adventistas, antitrinitarianos:

“Alguns continuam extrair citações extraídas de nossas publicações mais antigas, há muito obsoletas, e que não mais são impressas. Citam-na determinadas declarações, frequentemente torcidas e descoladas do contexto, de modo a darem uma descrição totalmente desvirtuada das crenças e ensinos que a Igreja Adventista do Sétimo Dia hoje sustenta.” (p.58).

Isso, porém, ou estava errado, ou veio a estar errado. Um exame nas orientações de Ellen White, considerada a profetisa inspirada da IASD, vai à contra mão dessa afirmativa dos autores do livro Questões:

“Quando o homem vier mover um alfinete do nosso fundamento o qual Deus estabeleceu pelo seu Santo Espírito, deixem os homens de idade que foram os pioneiros no nosso trabalho falar abertamente, e os que estiverem mortos falem também, reimprimindo os seus artigos das nossas revistas. Juntemos os raios da divina luz que Deus tem dado, e como Ele guiou seu povo, passo a passo no caminho da verdade. Esta verdade permanecerá pelo teste do tempo e da experiência.”
(www.adventistas.com/dezembro2005/diagnostico_iasd.htm (24 de Maio de 1905 - Manuscript Release Vol. 1 pág. 55.)

Essa questão não deve ser desconsiderada, sendo que mesmo os teólogos adventistas sabem que essa orientação poderia causar transtornos, como de fato tem causado:

O terceiro e último fator no presente avivamento do interesse pelo assunto da Divindade é a convergência do conselho de Ellen White no sentido de reimprimir e estudar as obras dos pioneiros [...] É adequado que o adventista do sétimo dia avance em direção contrária ao pensamento da ampla maioria dos pioneiros, que eram claramente antitrinitarianos?” (A Trindade, pp. 11,12) [grifo acrescentado])

É febril o fato que mesmo autoridades adventistas, reconhecem que o início de sua história, não escaparia com outra marca, a não ser uma seita!

“Se durante as quatro primeiras décadas de existência do movimento adventista do sétimo dia muitos de seus pregadores enfatizavam mais as doutrinas  adventistas distintivas do que as doutrinas evangélicas, a partir de 1888 essa tendência sectária e legalista passou a ser reequilibrada para uma maior ênfase na salvação pela graça mediante a fé...”
[Sobre o termo seita] Cremos, no entanto que o referido termo deveria ser usado especificamente em relação a grupos religiosos que restringem a salvação exclusivamente aos adeptos de seu próprio movimento religioso, e cuja ênfase nos componentes distintivos de sua fé acaba obliterando verdades básicas da fé cristã como a trindade e a salvação pela graça mediante a fé. À semelhança de outros movimentos religiosos, os adventistas do sétimo dia surgiram com características sectárias. Na tentativa de justificar sua existência, grande ênfase era colocada sobre os elementos distintivos  da fé adventista, relegando os componentes básicos da fé evangélica a um plano secundário. Além disso os primeiros adventistas sabatistas criam até o início da década de 1850, na teoria da “porta fechada”(Mat 25.10), que restringia a salvação quase que exclusivamente aos mileritas. Como já mencionado, foi apenas a partir de 1888 que os adventistas conseguiram superar sua ênfase sectária, reequilibrando os elementos distintivos da fé adventista com os componentes básicos da fé evangélica.” (Alberto R. Timm;  Revista Novo Membro pp. 7, 8 ; Publicação especial da Igreja Adventista do Sétimo Dia; União Brasileira da IASD, Editor: Leônidas Verneque Guedes.).

O judaísmo, o islamismo, as testemunhas de Jeová e o adventismo não trinitariano inicial sempre tenderam a ressentir-se da falta de uma clara doutrina de justificação pela graça baseada nos méritos da justiça divina. Foi apenas quando o adventismo começou a emergir de sua concepção não-trinitariana da divindade de cristo que passou a encontrar clareza na justificação somente pela graça mediante a fé.” (Trindade, p. 284).

Um reexame adventista posterior; das razões dos pioneiros serem antitrinitarianos, e mesmo assim, da profetisa conviver com eles, sendo considerado esses, pioneiros da ‘verdadeira igreja visível’, produziu uma teoria de justificativas e uma nova doutrina trinitariana, que satisfaz, a história dos pioneiros, mantendo Ellen White como a profetisa da igreja verdadeira, e ainda assim, puderam estender as mãos aos protestantes e dizerem: ‘cremos na doutrina da trindade’. É dessa versão trinitariana que trataremos.

II.                 A ‘VERDADEIRA IGREJA VISÍVEL’ COM UM FALSO DEUS

Um dos discursos mais palpitantes dos adventistas é dizer que eles são a ‘única igreja visível verdadeira’. Que eles possuem uma missão angélica em anunciara todas as pessoas a saírem de suas igrejas e se ajuntarem à verdade, e institucionalmente, essa verdade só pode ser encontrada, em sua inteireza, na Igreja Adventista do Sétimo Dia.

“Creem que seu movimento seja o único a apresentar as condições especificadas nesses versos de Apocalipse 12.17. Apesar disso, repudiam enfaticamente a ideia de que somente eles pertençam ao número dos filhos de Deus. Para os adventistas, todos quantos adoram a Deus segundo o que entendem ser Sua vontade pertencem a Ele e são membros potenciais do último remanescente. Não obstante, a ele foi confiada a tarefa de chamar homens e mulheres de toda a parte para adorarem ao Criador, em vista da proximidade da hora do juízo, e advertir contra ceder à grande apostasia escatológica predita em Apocalipse 13 [...] os adventistas continuam a manter esses pontos de vista.” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 639 [grifos acrescentados]).

Nos dias iniciais, seus lideres de maior influencia, negavam a doutrina da Trindade, como sendo um dos ensinos falsos de babilônia. Tanto, que um historiador adventista reconhece assim:

A maioria dos fundadores do adventismo do sétimo dia não poderia unir-se à igreja hoje se tivesse de concordar com as “27 Crenças Fundamentais” da denominação [...] Para ser mais específico, eles não poderiam aceitar a crença número 2, que trata da doutrina da trindade [...] Semelhantemente, a maioria dos fundadores do adventismo do sétimo dia teria dificuldade em aceitar e crença fundamental número 4, que afirma a eternidade e a divindade de Jesus [...] A maioria dos líderes adventistas também não endossaria a crença fundamental número 5, que trata da personalidade do Espírito Santo.” (Em Busca de Identidade, pp. 16,17).3

E se pensarmos que para eles Jesus era uma criatura, e que eles mesmo o adoravam como Deus, sendo uma criatura, podemos concluir que praticaram idolatria? Esse não é o Jesus da Escritura Sagrada. Para piorar, é dito que em seu arraial a situação era quase de politeísmo (pelo menos conceitual), como reconheceu um adventista pioneiro:

“Deve-se também ressaltar que a declaração de Daniel T. Bourdeau em 1890 mostra-nos que nem todos eram unânimes no antitrinitarianismo: "Embora afirmemos ser crentes e adoradores de um único Deus, tenho chegado a pensar que entre nós existem tantos deuses quantas são as concepções da Divindade". (A Trindade, p. 222).

Estariam então os pioneiros adventistas, condenados hoje, como hereges, e assim excluídos da IASD? Os autores de Questões Sobre Doutrina, por exemplo, dão razão para pensarmos que os pais da fé adventista, os pioneiros adventistas, não procurariam a Igreja Adventista do Sétimo Dia! Perceba:

“Parece-nos, portanto, que há muito menos probabilidade de alguém que mantenha posição ariana ou unitariana entrar na igreja Adventista do que em outra comunhão protestante.” (Questões Sobre Doutrina, p. 66).

Apesar da afirmação adventista acima ser virtualmente falsa, devido ao fato de existir, na época do livro citado, e hoje, vários adventistas não trinitarianos no seio adventista4, ela revela um impasse dramático entre a atual realidade adventista e seu passado – os pioneiros eram hereges?

Eles por um lado reconhecem isso, mas por outro deve preservá-los de receberem pessoalmente essa rotulação, pois isso seria um sério prejuízo de identidade, especialmente para Ellen White e para doutrina da ‘igreja remanescente’. Um recurso é legitimar esses erros como parte do plano de Deus. Os adventistas ensinam que Deus conduziu o movimento Milerita mesmo com a grande decepção de 1844, e da mesma forma, dizem que Deus conduziu o pioneiros arianos, mesmo pelos caminhos hereges que passaram. A questão aqui, como percebemos, não é de verdade ou coerência, mas de fidelidade cega a um movimento.

Qual foi então a postura dos teólogos adventistas diante desses fatos?

III.             JUSTIFICANDO OS PIONEIROS E ‘REAJUSTANDO’ A DOUTRINA DA TRINDADE

Nessa odisséia, ao encarar o fato que os pioneiros adventistas seriam mais Testemunhas de Jeová do que Adventistas trinitarianos, os teólogos da IASD assumiram uma postura de justificativa. Os caminhos foram:
Ø  (a) mostrar que os pioneiros erraram por desconhecerem a doutrina corretamente; (b) por culpa da própria doutrina, que confundia a distinção pessoal e corporal das pessoas da divindade, bem como por ensinar que heresias subordinacionistas; (c) pelas visões de Ellen White, a concepção da divindade foi originalmente própria e não vindo das religiões de “babilônia”.
Com o tempo a denominação entendeu a doutrina ‘corretamente’, a partir das visões de Ellen White e de seus escritos. Desta forma, os pioneiros estavam em pleno processo de desenvolvimento dessa questão, não podiam ser condenados por algo que eles não entendiam corretamente e que ainda seria revelado posteriormente. As seguintes citações de suas publicações e sites provam essa interpretação dos fatos de maneira clara:

“Os pioneiros apresentavam basicamente duas razões para rejeitar essa doutrina. A primeira é o fato de que muitos credos protestantes definem a Trindade como uma essência “sem corpo ou partes”. Em outras palavras, Deus não era entendido como um ser pessoal, mas abstrato e fantasmagórico. Essa compreensão sobre a Trindade “espiritualiza a existência do Pai e do Filho como duas pessoas distintas, literais e tangíveis”. Os pioneiros argumentavam que esse conceito contradiz a Bíblia, pois ela apresenta Deus como um ser pessoal “tangível”, que “possui corpo e partes”. A segunda razão é uma consequência lógica da primeira: os credos não distinguem claramente as pessoas da Divindade. Na linguagem teológica tradicional, a palavra pessoa não tem o sentido atual de individualidade, mas indica uma “face” ou “manifestação”. Portanto, de acordo com essa compreensão da Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três pessoas distintas, mas três manifestações ou revelações da essência divina. “Trinitarianismo” era definido como a “doutrina de que o Pai, o Filho e o Espírito são unidos em uma e a mesma pessoa”. Os adventistas criam na “personalidade distinta do Pai e do Filho, rejeitando como absurdo o trinitarianismo, que insiste que Deus, Cristo e o Espírito Santo são três pessoas e, mesmo assim, uma só pessoa” (http://setimodia.wordpress.com/2011/11/03/os-pioneiros-adventistas-e-a-trindade/)
O desenvolvimento da doutrina da Divindade no adventismo do sétimo dia pode ser dividido em seis períodos: (1) Predominância antitrinitariana (1846-1888); (2) Insatisfação com o antitrinitarianismo (1888-1898);  (3) Mudança de paradigma (1898-1913);  (4) Declínio do antitrinitarianismo (1913-1946);  (5) Predominância trinitariana (1946-1980); e Tensões renovadas (1980 até o presente). Os três primeiros períodos foram discutidos por Gane, Holt e Froom, e o período de 1888-1957, por Merlin Burt. Entretanto, nenhum desses lidam extensamente com os problemas trinitarianos durante a crise de Kelloggou o período a partir de 1980”
“Este artigo divide a história da compreensão adventista sobre a Trindade durante a vida de Ellen G. White nos seguintes períodos: (1) Ênfase na rejeição da doutrina tradicional da Trindade (1846-1890); (2) Tensões sobre a personalidade do Espírito Santo (1890-1897); e (3) Ênfase na aceitação da doutrina bíblica da Trindade (1897- ).”
“De 1931 em diante, a concepção de um Deus trinitário, junto com a plena igualdade de Cristo com Pai e uma cristologia de natureza dual, passou a ser parte essencial das crenças fundamentais adventistas.” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 224.)
“De cerca de 1846 a 1888, a maioria dos adventistas rejeitava o conceito da Trindade – ao menos como eles o entendiam. Todos os principais escritores foram antitrinitarianos, embora a literatura contenha referências ocasionais a membros que mantinham opiniões trinitarianas. Aqueles que rejeitavam a doutrina tradicional da Trindade dos credos cristãos eram crentes sinceros no testemunho bíblico concernente à eternidade de Deus o Pai, à divindade de Jesus Cristo “como Criador, Redentor e Mediador” e à “importância do Espírito Santo.” (http://setimodia.wordpress.com/2011/11/03/os-pioneiros-adventistas-e-a-trindade/).
“A declaração de crenças de 1931 apareceu nos anuários denominacionais e manuais de igreja, o que lhe deu algum status oficial, apesar de nunca ter sido formulada um tanto casualmente e nunca ter sido adotada oficialmente por uma assembleia da Associação Geral. Em 1946 a Associação Geral reunida em assembleia votou “que não se faça em tempo algum revisão desta Declaração de Crenças Fundamentais, conforme aparece no Manual [...]” (Em Busca de Identidade, pp. 22,23.)
“Ente 1846 a 1888, a maioria dos adventistas rejeitou o conceito da Trindade – pelo menos da forma como o entendiam.” (A Trindade, p. 217).
“Embora o arianismo e o antitrinitarianismo fossem muito forte entre os líderes adventistas pioneiros, a visão trinitariana da Divindade veio a tornar-se o ponto de vista padrão pelo menos a partir da década de 1940, se não antes.” (Trindade, p. 10).

Acredito que as informações adventistas acima sejam suficientes. Mas como essa concepção veio a desenvolver uma nova doutrina trinitariana?

IV.              RAOUL DEDEREN E FERNANDO CANALE, OS PAIS DO NEO TRINITARIANISMO ADVENTISTA

No meu livro A Conspiração Adventista, desenvolvi com informações históricas  o que cercou o surgimento dessa nova doutrina – que veremos mais adiante o que de fato ela é. Porém, lá eu apenas mostrei como Ellen White se tornou a mãe do trinitarianismo adventista. Ao mesmo tempo, devo destacar que ela jamais pensou ser a progenitora dessa doutrina!

Primeiro que Ellen White nunca usou o termo trindade em cerca de 70 anos de trabalho como liderança ‘profética’ da denominação. Há um esforço descomunal em provar que ela teria lido o termo Trindade em um resumo de fé. Mas o fato é que ela jamais usou, a não ser “O trio celeste” que é incorretamente traduzido por Trindade, ou mesmo que esse termo trindade substitua o termo divindade. Tirando essa desonestidade com seus escritos, ela jamais usou o termo (Evangelismo, p.  613, 615, 616, 617; O Desejado de Todas as Nações, p. 671; Testem. Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 392).

Bom lembrar, que há uma carta de seu filho, Guilherme White, atestando que sua mãe não cria na personalidade do Espírito Santo (Veja em: http://www.adventistas.com/julho2003/carta_willie.htm).

Ela também nunca denunciou seus ‘companheiros de fé’.

“Ellen White foi uma das poucas pessoas entre os líderes pioneiros adventistas que não era agressivamente antitrinitariana. Conquanto isso seja verdade, também é fato que suas antigas declarações não são claras quanto ao que cria.” (Questões Sobre Doutrina, p. 71, nota).

Mesmo assim, atribuem a ela a gênesis da doutrina da divindade de que possuem. Na verdade, quem diz que ela se tornou a principal mentora da trindade adventista são os teólogos da atualidade. Mas por certo, suas declarações após a morte de seu marido antitrinitariano, foram bem mais ‘trinitarianas’.

“Curiosamente, não foram os teólogos de nenhum lado da controvérsia de 1888 eu fizeram o adventismo recuperar o ponto de vista bíblico a respeito da Divindade, mas Ellen White. [...] Contudo, seria Ellen White quem apontaria mais claramente o caminho para a completa transformação no pensamento adventista sobre temas relacionados à Trindade entre 1888 e 1950.” (Em Busca de Identidade, p. 117, 118 [grifo acrescentado]).
“Qual foi o papel de Ellen White nesse processo? As evidências mostraram que as visões recebidas por Ellen conduziram a denominação através de estágios claramente discerníveis rumo a uma plena aceitação do conceito Bíblico da Trindade. O conceito se encontrava essencialmente completo em 1888, quando ela publicou O Desejado de Todas as Nações, e suas declarações de 1901-1906 suas declarações foram suficientemente explícitas para que em 1913 o editor da Reviewand Herald pudesse afirmar – sem medo de ser contraditado – que “a divina Trindade” é uma crença fundamental dos adventistas.” (A Trindade, p.248.).
“A declaração feita por Ellen White em 1898 de que “em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530) constituiu o ponto de partida tanto para a ratificação da Trindade como um ensino bíblico autêntico (Dederen, 5,12) como para uma forma distinta de compreendê-la como doutrina. A declaração de Ellen White não só descartava o erro básico incluído na primitiva cristologia adventista e na doutrina de Deus, a saber, o subordinacionismo temporal do Cristo preexistente, mas também da doutrina clássica (Dederen, 13) que envolvia a eterna e ontológica subordinação do Filho.” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 169.).

Perceba, que uma coisa foi a denominação se tornar trinitariana, como vimos no tópico anterior, outra foi quando Ellen White, com sua autoridade de referencia doutrinária, virou o leme da denominação nessa direção. É certo que ela, se era trinitariana, ficou em silêncio em boa parte do tempo. E se tornou trinitariana mesmo, foi depois que seu esposo morreu.

“Será que ela mudou de uma visão semi-ariana para uma trinitariana, ou mantinha privadamente uma opinião trinitariana todo tempo? Não é possível apresentar uma resposta taxativa a este respeito.” (A Trindade, p. 239).

E já que ela foi a mãe, precisamos saber quem foi o pai, ou os pais. Como indicado no subtítulo, minha percepção é de que, unido ao fato de que os pioneiros adventistas atacavam a doutrina da trindade (pelo menos em partes, para os teólogos adventistas, eles tinham alguma razão), ao fato de que Ellen White nunca defendeu a trindade dos credos nem condenou diretamente seus irmãos arianos, considerando que ela mesma construiu uma doutrina aparentemente trinitariana em seus moldes, o que resultou ao unir tudo isso? Entra em cena um teólogo adventista chamado Raoul Dederen, logo em seguida outro de nome Fernando Canale.

Vejamos seu papel no que veio a ser a nova doutrina trinitariana adventista:

“Um desdobramento importante desde 1970 tem sido a tentativa de articular as pressuposições bíblica que dão base a uma doutrina bíblica da Trindade, claramente diferenciadas dos credos tradicionais. Num notável artigo de 1970, Raoul Dederen apresentou uma breve exposição sobre a Divindade em ambos os Testamentos. Ele rejeitou a “Trindade do pensamento especulativo”, que fez uso de termos filosóficos para descrever as “distinções dentro da divindade para as quais não existe base definida dentro do conhecimento revelado de Deus” (Dederen, pág. 13). Advogou, em lugar disso o exemplo dos apóstolos: “Rejeitando os termos da mitologia grega ou a metafísica, eles expressaram suas convicções numa despretensiosa confissão de fé trinitarinana, a doutrina de um Deus subsistindo e agindo em três pessoas” [...] Em 1983, Fernando Canale fez uma análise e uma crítica radical das pressuposições filosóficas gregas subjacentes ao que Dederen havia chamado de pensamento especulativo [...] mostrou que a teologia clássica católica e protestante tomava seus mais básicos pressupostos acerca da natureza de Deus, o tempo e a existência deuma “moldura” provida da filosofia aristotélica. [...] Na obra mais recente Handbook of Seventh-day Adventist Theology, editada por Dederen, Canale escreveu um artigo magistral sintetizando as conclusões alcançadas até aquele momento em seu continuo trabalho a respeito da doutrina de Deus.[...] “Num sentido muito real, a ênfase adventista nas Escrituras como única fonte de dados para se estabelecer a teologia ofereceu às reflexões sobre Deus um novo e revolucionário começo. Sistematicamente desconfiando das posições teológica tradicionais criticando-as [...] Canale estabelece um forte argumento para o ponto de vista de que os adventistas, pelo fato de “terem se apartado da concepção filosófica de Deus como atemporal” e “ “abraçando a concepção histórica de Deus apresentada na Bíblia”, conseguiram desenvolver uma visão bíblica da Trindade”. (A Trindade, pp. 228,229).

Como que em passe de mágica, em um laboratório acadêmico, tudo que o cristianismo defendeu em matéria de trindade na história da fé cristã, foi desafiado, e colocado sob o prisma profético de Ellen White. Os dois cavaleiros, Dederen e Canale, então, capacitaram a IASD publicar criticas contra os credos cristãos históricos, como não sendo bíblicos e exatos, e com isso entenderam por qual motivo os pioneiros adventistas rejeitaram a trindade!

“Canale faz uma sólida defesa do seu argumento de que pelo fato de os adventistas terem se “afastado da concepção filosófica de Deus como intemporal” e terem “aceito a concepção histórica de Deus conforme apresentada na Bíblia”, eles estavam habilitados a desenvolver uma genuinamente bíblica opinião da Trindade.”
(http://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/ellen-g-white-e-a-compreensao-da-trindade/#texto-rodape-91
Existem, porém, razões teológicas mais complexas para se rejeitar a doutrina clássica na Trindade. Foi assim que alguns pioneiros adventistas entenderam que a interpretação clássica da Trindade imanente era incompatível com a Trindade econômica conforme apresentada na Escritura.” (Tratado de teologia Adventista do Sétimo Dia, 168 [grifo acrescentado]).
A única maneira de os pioneiros, em seu contexto, efetivamente separarem as Escrituras da tradição foi pelo abandono de qualquer doutrina que não pudesse apoiar-se unicamente na Bíblia. Assim, eles inicialmente rejeitaram a doutrina tradicional da Trindade, a qual claramente contém elementos não pertencentes às Escrituras. À medida que prosseguiram trabalhando com base nas Escrituras, periodicamente desafiados e estimulados pelo Espírito Santo através das visões de Ellen White, gradualmente convenceram-se de que o conceito básico de um Deus em três pessoas de fato aparece nas Escrituras." (A Trindade, p. 230)

Por isso, em uma obra teológica da IASD, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, dizem a respeito de todos os credos e teólogos:

Os teólogos adventistas disparam suas críticas em quase todas as autoridades teológicas das tradições cristãs no assunto em tela: “1. Sobre as explicações de Agostinho a respeito da Trindade, dizem: “Há razões para se perguntar se essa visão faz justiça à revelação bíblica de três pessoas independentes. O Deo uno parece absorver o Deo trino. A trindade é substituída pela monarquia.”Tomás de Aquino: “Visto, porém, que sua abordagem não emana da Escritura, ele é incapaz de apresentar a coerência interna da concepção bíblica de Deus” De Martinho Lutero dizem: “Quanto à Trindade, o teólogo alemão ratifica o dogma tradicional [...] A doutrina luterana de Deus, porém, é insuficiente para abranger com fidelidade todas as informações bíblicas sobre Deus.” De João Calvino, um dos maiores exegetas do período da Reforma, afirmam: “A doutrina calvinista de Deus também é insuficiente para incluir e incorporar com fidelidade todas as informações bíblicas sobre a Divindade.” A respeito da teologia trinitariana de Jacó Armínio, dizem: “A teologia arminiana atua dentro de uma matriz mais filosófica do que bíblica.” E, a respeito da procedência eterna do Espírito Santo, dizem: [...] a processão do Espírito não designa um processo interno na constituição do ser trinitário, como a teologia clássica veio a crer.” (A Conspiração Adventista, p 120).
“[...] Atanásio parece estar falando de dois Deuses (ou, na verdade, três quando se adiciona o Espírito Santo) ao passo que a definição filosófica de Deus assevera que Ele é um e invisível” (A Trindade, p. 162).
“[O Credo Atanasiano] Conserva, infelizmente, uma forma sutil de monarquianismo e subordinacionismo ontológico, quando explica as diferenças das pessoas metafisicamente, recorrendo às ideias de geração e processão.” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 163.).

Um exame simples das acusações de Dederen e Canale, mostra que são por demais insuficientes. Primeiro que nem os credos nem as confissões, são carregadas assim de especulações filosóficas, se é que há. Qualquer leitor pode constatar isso. Segundo, que mesmo eles, os teólogos adventistas, usam termos como “trindade” e “subsistindo e agindo em três pessoas”, etc, que não são termos bíblicos, mas explicações teológicas e filosóficas de algo que nos escapa em outros termos.

Não é compartilhada a ideia de que a doutrina da Trindade em sua exposição confessional e nos credos, seja filosófica em suas ponderações:

“Como Atanásio ensinou há muito tempo, não afirmamos essa doutrina por um interesse meramente filosófico.” (Teologia Sistemática, Fraklin Ferreira; Alan Myatt, p. 196 [grifo acrescntado).

Longe de ser elaborada sob influências filosóficas e religiosas, tudo indica que a doutrina da Trindade tem sobrevivido justamente contra as tentações desse tipo que,de vez em quando, ameaçam empurrar a Igreja para o unitarismo teórico ou prático.” (Novo Dicionário de Teologia, p. 1166[grifo acrescentado]).

Lembrando ainda que o termo Trindade é usado nas Crenças Fundamentais adventistas, porém,esse termo aparece muito em Agostinho e consagrado no credo Atanasiano, assim, eles que criticam uma suposta carga filosófica nos credos, e na teologia, dependem dos credos, para se aproximarem daqueles creem nesses, com uma imagem enganosa, visto que rejeita os postulados dos mesmos.

Outro assunto que refletiu nesse contexto foi a rejeição da noção atemporal de Deus. Isso desbocou no Teísmo Aberto, defendido pelo teólogo adventista Richard Rice (Teísmo Aberto, p. 180, nota 5). Segundo o Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, muitos nos burgos adventistas têm olhado com simpatia a essa teoria (p. 170). Por um lado, o Tratado elogia essa posição, mas até certo ponto, rejeita as implicações escatológicas, tão necessárias aos adventistas, que é um movimento apocalíptico (p. 167,168). A rejeição da doutrina da trindade, nos postulados clássicos, leva a outras perigos heréticos.

V.                 O QUE DE FATO É A NOVA TRINDADE ADVENTISTA?

Dizem os eruditos adventistas - a doutrina da trindade clássica ensina que o Filho derivou a sua existência ontológica do Pai. E que Ellen White, quando escreveu que em Cristo há vida original, não derivada, rejeitou essa teoria!

“Jesus declarou: "Eu sou a ressurreição e a vida." João 11:25. Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. "Quem tem o Filho tem a vida." I João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 530).

Os teólogos adventistas insistem que essa passagem marcou toda a mudança da teologia adventista a respeito da divindade. Embora percebemos que pouca coisa foi dita ali, é claro que o conceito da divindade de Cristo é ao contrário do que os pioneiros diziam; que Jesus teria sido criado. Porém, eles foram bem mais longe nas conclusões contra a doutrina cristã da trindade:

“A declaração de Ellen White não só descartava o erro básico incluído na primitiva cristologia adventista e na doutrina de Deus, a saber, o subordinacionismo temporal do Cristo preexistente, mas também da doutrina clássica (Dederen, 13) que envolvia a eterna e ontológica subordinação do Filho.” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 169).
“Alguns teólogos trinitarianos sustentam que apenas o Pai existe desde a eternidade e que tanto Cristo quanto o Espírito Santo foram “gerados”, ou seja, trazidos à existência pelo Pai.” (A Trindade, p. 185).
“[...] o dogma tradicional da Trindade sustentava que Cristo derivara do Pai, sendo, portanto, subordinado ao Pai em Sua própria essência.” (A Trindade, p. 224).
“Na natureza do Deus eterno não há nenhuma geração eterna, e, por conseguinte, nenhuma processão eterna do Espírito.” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 169.).

Essas são informações distorcidas, e da pior espécie. Uma das piores coisas ditas por eles, já que todos sabem que o conceito de geração eterna é relacional não ontológico. Responder a isso é ter que explicar coisas básicas a iniciantes em teologia sistemática. O que de fato, não é o caso dos teólogos adventistas. Isso é mais uma caricatura do que uma leitura honesta da doutrina trinitariana. Mas para efeitos de esclarecimentos, vejamos o que eles omitiram quando criticaram a doutrina da geração eterna:

“É geração da subsistência pessoal, e não da essência divina do Filho.” (Teologia Sistemática, Louis Berkhof, p. 88).
“A doutrina ortodoxa não define as expressões “geração” e “processão” de modo que o Pai seja a origem da deidade do Filho e do Espírito Santo, que afirmam e representam a natureza das relações entre as três pessoas da Trindade.” (Teologia Sistemática, p. 186).

Ainda no campo da negação, e agora indo para mostrar a diferença das crenças, os teólogos adventistas dizem que os pioneiros adventistas acertaram em um ponto ao rejeitarem a doutrina da trindade clássica, e esse aspecto nos interessa agora, para sabermos o que de fato seria a trindade adventista:

“Os primeiros adventistas rejeitavam corretamente a Trindade dos credos, que apresenta um Deus “sem corpo ou partes” e não distingue claramente as pessoas da Divindade.” (http://setimodia.wordpress.com/2011/11/03/os-pioneiros-adventistas-e-a-trindade/ )

Destacando os pontos, partindo da negação acima exposta, por parte dos pioneiros adventistas considerada como correta pela erudição adventista moderna, podemos dizer que a respeito da trindade adventista:

Ø  Tem corpo e partes.
Ø  Sua distinção pessoal das pessoas da divindade é mais profunda que os credos cristãos apresentam.

Perceba o que pensam da unidade da divindade, se ela é numérica ou apenas de unidade:
“O Deus revelado nas Escrituras consiste de três Pessoas divinas que existiram desde toda eternidade em profunda unidade ou unicidade de natureza, propósito e caráter.” (A Trindade, p. 313).

Portanto,podemos dizer que diferença da trindade Adventista de Raoul Dederen e Fernando Canale da doutrina cristã clássica, está em sua essência, em sua constituição ontológica e numérica. Perceba o que é dito pelos teólogos adventistas:

“[...] os três membros da Divindade comoindivíduos tangíveis e pessoais, vivendo desde a eternidade em união de natureza, caráter, propósito e amor, mais ainda assim tendo cada uma Sua identidade pessoal. Este é um ponto de vista simples e bíblico da Trindade, em contraste com os pontos de vista tradicionais, baseado nas pressuposições da filosofia grega.” (A Trindade, p. 248).

Agora, podemos voltar para o credo oficial adventista, e perceber algo latente. Que existe um elemento ambíguo, percebemos que não há no documento oficial de crenças adventistas, uma confissão de uma mesma essência numérica – “2. A Trindade. Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas.Isso é trinitarianismo, mas não é só isso! Essa unidade deve ser tratada dentro na unidade numérica e essencial de Deus, para que ele seja um só. Não é possível, dentro da visão de Dederen e Canale, espaço para essa unidade da doutrina clássica que mantém o Ser de Deus, como um só Espírito, um Só Ser.

Mesmo que se encontre nos escritos adventistas, alguma referência à ‘mesma substancia’, ela estará sob suspeitas dessas interpretações não ortodoxas. Isto é, se algum teólogo adventista disser que as três pessoas da divindade são da mesma substância, ele não tem em mente a unidade numérica do Ser que a fé cristã possui. (Se essa minha leitura dos fatos estiver correta, eles estariam parcialmente defendendo o problema que preocupou alguns pais da igreja com o uso de "hommousious" ou consubstancial – usado por ortodoxos e hereges).

Quais as bases para as conclusões adventistas?  Como eles admitem, foram as visões de Ellen White. Vejamos algumas:

“Vi um trono, e assentados nele estavam o Pai e o Filho. Contemplei o semblante de Jesus e admirei Sua adorável pessoa. Não pude contemplar a pessoa do Pai, pois uma nuvem de gloriosa luz O cobria. Perguntei a Jesus se Seu Pai tinha a mesma aparência que Ele. Jesus disse que sim, mas eu não poderia contemplá-Lo, pois disse: "Se uma vez contemplares a glória de Sua pessoa, deixarás de existir." (Primeiros Escritos, p. 54)

“Tenho visto muitas vezes o amorável Jesus, que é uma pessoa. Perguntei-Lhe se Seu Pai era uma pessoa e tinha a mesma forma que Ele. Disse Jesus: "Eu sou a expressa imagem da pessoa de Meu Pai."(Primeiros escritos, p. 77).
“Significativamente, Ellen White condenava a visão trinitariana de Kellog em termos quase idênticos aos que o esposo Tiago utilizara em 1846, quando rejeitou “o velho credo trinitariano não-escriturístico” pelo fato de ele “espiritualizar a existência do Pai do Filho negando-O como duas pessoas distintas, literais e tangíveis”. Isso é coerente com a interpretação de que ela percebeu similaridades entre os credos que pretendem que Deus seja “invisível, sem corpo ou partes” e a representação espiritualista” de Deus por Kellog, sob metáforas da luz e da água.” (A Trindade, p. 247. -  Nota: Essa interpretação é questionável, mas estou apenas mostrando que a disposição dos teólogos adventistas é encontrar algum vestígio de que Ellen White tenha atacado a trindade dos credos.)

A diferença está de fato, se o Ser de Deus é três ou é um!! Por causa dessas supostas visões, que em si mesmo não garante nenhuma objeção à doutrina trinitariana, que levou os dois teólogos já mencionados, a dizerem que uma concepção nova da trindade foi descoberta por eles, mediante os escritos de Ellen White.

Estamos diante de um triteísmo? Uma citação do Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, aparentemente nota o risco disso:

“Para os adventistas, portanto, a indivisibilidade das obras de Deus na história não é concebida como sendo determinada pela unicidade da essência – conforme ensinada pela tradição agostiniana clássica – senão pela unicidade da tarefa histórica da redenção (Dederen, 20). O perigo de triteísmo presente nessa postura se torna real quando a unicidade de Deus é reduzida a uma mera unidade concebida em analogia com uma sociedade humana ou uma parceria de ação. Para além dessa unidade de ação, porém, é necessário visualizar Deus como uma realidade única que nos próprios atos pelos quais Ele se revela na história, transcende os limites da nossa razão humana (Prescott, 17). Jamais mentes humanas poderão alcançar o que a doutrina clássica sobre a Trindade reivindica perceber, a descrição da estrutura interna da natureza de Deus. Junto com toda a criação, cumpre-nos aceitar a unicidade de Deus pela fé (Tg 2:19).” (p. 248).

No livro A Conspiração Advenista,  reconheço que há uma dificuldade nessa citação, em saber se eles estão falando da doutrina ortodoxa da trindade ou de sua doutrina trinitariana. Não há uma mudança de fluxo5, nem alteração de parágrafo, por isso escrevi:

“Reitero que não está claro nessa citação se a doutrina clássica da trindade é potencialmente triteísta ou se é a respeito da doutrina deles que estão afirmando isso. Se estiverem falando de si mesmos, então sabem o que estão dizendo! Agora, se é contra a doutrina clássica, falam mais uma vez calúnias contra a herança histórica que o Espírito Santo delegou aos santos de Deus, calúnia tal como seus os pioneiros adventistas fizeram.”

Antes de encerrar, vejamos como os cristãos entendem a essência divina. Com a palavra, novamente Louis Berkhof:

“Neste único Ser Divino Há três Pessoas ou subsistências individuais, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Provam-no as várias passagens já citadas como válidas para consubstanciar a doutrina da Trindade. Para indicar estas distinções da Divindade, os escritores gregos geralmente empregavam o termo hypostasis, enquanto que os autores latinos utilizavam o termo persona e, às vezes, substancia. Como aquele podia levar a mal-entendidos e este era ambíguo, os eruditos cunharam a palavra subsistência. A variedade dos termos empregados mostra que sempre se sentiu que são inadequados. Geralmente se admite que a palavra “pessoa” é apenas uma expressão imperfeita da idéia. Na linguagem comum ela designa um indivíduo racional e moral separado, dotado de consciência própria, e consciente da sua identidade em meio a todas as mudanças. A experiência ensina que onde temos uma pessoa, temos também uma essência individual distinta. Toda pessoa é um indivíduo distinto e separado, em quem a natureza é individualizada. Mas em Deus não há três indivíduos justapostos e separados uns dos outros, mas somente auto-distinções pessoais dentro da essência divina, que é não só genericamente, mas também numericamente, uma só.  Consequentemente, muitos preferiram falar de três hipóstases em Deus, três diferentes modos, não de manifestação, como ensinava Sabélio, mas de existência ou de subsistência.” (Teologia Sistemática, p 83).

Alguns adventistas podem não gostar da comparação. Mas, ainda que os desdobramentos tenham sido totalmente diferentes, as bases iniciais são as mesmas da dos mórmons. Compare o que os apóstolos mórmons ensinaram:

“O Pai tem um corpo de carne e ossos tão tangível como o do homem; o Filho também; mas o Espírito Santo não tem um corpo de carne e ossos, mas é um personagem de Espírito. Se assim não fora, o Espírito Santo não poderia habitar em nós.” (Doutrinas e Convênios, 130:22).

Não podemos crer, por um momento sequer, que Deus não possua um corpo, partes, paixões ou atributos.” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, p.29).

CONCLUSÃO

O que é Deus? A Confissão de Fé de Westminster explica de maneira bíblica, clara e simples, reconhecendo a infindável grandeza do tema e a nossa limitação:

“CAPÍTULO II: DE DEUS E DA SANTÍSSIMA TRINDADE - I. Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, - onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.Deut. 6:4; I Cor. 8:4, 6; I Tess. 1:9; Jer. 10:10; Jó 11:79; Jó 26:14; João 6:24; I Tim. 1:17; Deut. 4:15-16; Luc. 24:39; At. 14:11, 15; Tiago 1:17; I Reis 8:27; Sal. 92:2; Sal. 145:3; Gen. 17:1; Rom. 16:27; Isa. 6:3; Sal. 115:3; Exo3:14; Ef. 1:11; Prov. 16:4; Rom. 11:36; Apoc. 4:11; I João 4:8; Exo. 36:6-7; Heb. 11:6; Nee. 9:32-33; Sal. 5:5-6; Naum 1:2-3.[...] III. Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, O Pai não é de ninguém - não é nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho.Mat. 3:16-17; 28-19; II Cor. 13:14; João 1:14, 18 e 15:26; Gal. 4:6.

Os Adventistas usam recorrentemente as confissões reformadas, especialmente sua parte da Lei, para que de alguma forma, distorcer a conclusão, e cair no sábado. Com isso, sempre dizem que seguem a tradição protestante. Infelizmente, porém, é só esse uso que sabem fazer dos documentos reformados. Se no assunto mais importante, da Pessoa de Deus e de Sua natureza, eles ficassem com os fieis cristãos ortodoxos, não teriam se afastado tão longe, aos pés de uma mística, que sofria de moléstias mentais e espirituais, e assim, veriam a verdade (Jo 8.32).

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” Judas 3.


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NOTAS
1. Esse mesmo escritor escreveu uma obra em inglês intitulada As Quatro Principais Seitas (1963), onde defende que o grupo é uma seita. No mesmo verbete no livro citado acima, ele afirma categoricamente que: “[...] a doutrina da igreja remanescente, que permanece como um ensino oficial adventista, parece tornar difícil, senão impossível, sua identificação com as correntes evangélicas.” (Ibidem, p. 37 [grifo acrescentado]).
2. O autor das notas diz que o assunto central para toda a polêmica nos burgos adventistas, com um teólogo adventista que defendia uma postura de perfeição total na santidade. Já que Jesus tinha natureza pecaminosa, e não pecou, os adventistas também poderiam viver próximo disso. Assim, o tema era necessário para manter tal conceito fundamentalista interno -“A Última Geração”. Veja o reconhecimento de manipulação do assunto: “[...] é muito mais difícil justificar a apresentação e a manipulação de dados dos delegados adventistas sobre a natureza humana de Cristo.” (p.14).  “alguém pode apenas especular sobre o diferente curso da história [...] se Froom e seus associados não tivessem sido divisivos na sua manipulação das questões relacionadas à natureza humana de Cristo [...]” (p. 21). George Knight após citar algumas afirmações confusas de Ellen White a respeito da natureza pecaminosa de Cristo, e compará-las ao que os autores de QSD disseram e apresentaram, ele afirma honestamente: “Essas citações, como se poderia esperarforam deixadas de fora da compilação de Questões Sobre Doutrina.” (p. 438).
3. Pesando essa informação de G. Knight, deve ser dito que muitos apologistas adventistas, se defendem da responsabilidade da falsa profecia de 1844 de Guilherme Miller, dizendo que eles só foram organizados em 1863. Se assim for, e se somente com a organização institucional de um grupo, ele pode ser ou não responsabilizado doutrinariamente, o que dizer então de que após a organização eles eram antitrinitarianos em sua maioria, e continuariam a ser oficialmente por várias décadas?
4. “A maior surpresa do meu ministério, entretanto, não ter de lidar com as zelosas testemunhas de Jeová na questão da Trindade; é o fato de ter de enfrentar essencialmente os mesmos argumentos antitrinitarianos provindo de companheiros adventistas do sétimo dia. E tais argumentos estão sendo apresentados com uma intensidade não muito inferior ao zelo dos representantes da Torre de Vigia.” (A Trindade, p.9). Mesmo na época do livro Questões Sobre Doutrina, isso não podia ser tão exato assim, pois um dos autores do livro adventista A Trindade, na página 10 declara: “Eu havia ouvido falar de importantes professores e líderes denominacionais que viveram na década de 1950 e 1960 e que sustentavam fortes posições antitrinitarianas.”
5. Basicamente, mesma citação é encontrada site Centro White: “Canale, 150, elabora: “Finalmente, tendo-se afastado da concepção filosófica de Deus como atemporal e tendo aceito a concepção histórica de Deus conforme apresentada na Bíblia, os adventistas vêem a relação entre a Trindade imanente e moderada como uma de identidade em vez de correspondência. As obras de salvação são produzidas no tempo e na História pela Trindade imanente [Fritz Guy, “What the Trinity Means to Me,” Adventist Review, 11 de setembro de 1986, 13] por meio de suas diferentes Pessoas, concebidas como centros de percepção e ação. Conseqüentemente, a indivisibilidade das obras de Deus na História não é concebida pelos adventistas como sendo determinada pela unicidade da essência – conforme ensinada na tradição clássica agostiniana – mas antes pela unicidade da tarefa histórica da redenção [Raoul Dederen, “Reflections on the Doctrine of the Trinity”, AUSS 8 (Primavera de 1970): 20]. O perigo de Triteísmo envolvido neste ponto de vista torna-se real quando a unicidade é reduzida a uma mera unidade concebida em analogia com uma sociedade humana ou uma comunhão de ação ou atividade. Além de tal unidade de ação, porém, é necessário imaginar a Deus como a única realidade que, nos próprios atos pelos quais Ele se revela diretamente na História, transcende os limites de nossa razão humana [W. W. Prescott, The Savior of the World (Takoma Park, MD: Review and Herald, 1929), 17]. De modo algum pode a mente humana atingir o que a doutrina clássica sobre a Trindade alega perceber, ou seja, a descrição da estrutura interna da natureza de Deus. Juntamente com toda a criação, devemos aceitar a unicidade de Deus pela fé (Tg  2:19).”
“http://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/ellen-g-white-e-a-compreensao-da-trindade/#texto-rodape-91